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AS HISTÓRIAS QUE RESIDEM NA GAVETA (1) - por José Ruy

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Depois de "A vida interior das redações dos jornais infanto-juvenis", "HQ Arte com muita oficina" e "A Ilha do Corvo que venceu os piratas", José Ruy surge com novo conjunto de artigos no BDBD: "As histórias que residem na gaveta".
A ideia surgiu quando, há alguns meses, num artigo de Luiz Beira intitulado "Os álbuns encalhados", publicámos uma lista de álbuns que alguns dos nossos autores mais consagrados têm prontos mas que, por este ou aquele motivo, não foram ainda publicados. Nessa altura, José Ruy informou-nos que tinha dez(!) álbuns nessas condições!
Perante a nossa curiosidade, quanto aos temas tratados e quanto às razões para que esses projectos, até hoje, se mantivessem "na gaveta", surgiu a ideia de criar uma nova série de artigos, sugestão que José Ruy imediatamente acolheu, para nossa satisfação. 
Aqui veremos, em primeira mão, algumas pranchas (a maior parte delas na fase de esboço) que o autor mantém em "stand-by", com a esperança de um dia poder, quem sabe, desenvolver e transformar em álbum.
Um tema bastante interessante, que, tal como os anteriores, obterá, por certo, grande sucesso junto dos nossos fiéis leitores.
Vamos dar, pois, a palavra a Mestre José Ruy, sem perder mais tempo.
BDBD

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Nesta profissão de realizar Histórias em Quadrinhos acontece muitas vezes, por um motivo ou outro, os originais ficarem à espera de um editor que se interesse pelo tema, e ficarem adormecidos, numa gaveta, durante bastante tempo.
No meu caso, tenho dez Histórias nessas condições, e talvez seja curioso descrever os motivos que levaram à interrupção do seu acabamento, e em que ponto se encontra a realização de cada uma delas.
Como estes temas têm ficado inéditos, já me têm alertado para o perigo de os divulgar publicamente, e poderem desse modo serem aproveitados por outros.
Como segurança, sempre que faço um novo trabalho, e enquanto se encontra em esboço, registo-o, porque mesmo ao entregar a um editor, nunca sabemos quem passa na editora e poderá ver o original sobre uma secretária, e até sem querer, mais tarde sugerir a alguém a ideia, que teria visto não sabe já onde.
Desta maneira estou sempre defendido de plágios.
Posto isto, abro a gaveta e começo ao acaso por tirar esta história:
«Francisco de Almeida Grandella, uma Aventura sem Limites».
Um esquiço de Francisco Grandella e da fachada dos seus Armazéns Grandella,
 no Chiado em Lisboa.

Trata-se da história de um arrojado comerciante, republicano insigne, filantropo e benemérito.
Nas décadas de 80 e 90 do século XX, eu prestava a minha colaboração graciosamente em eventos organizados pela Biblioteca República e Resistência, instalada na altura no Bairro Grandella, na Estrada de Benfica em Lisboa, precisamente mandado construir por este comerciante para alojar os seus empregados e famílias.
Uma parte do Bairro Grandella.

Esse facto levou-me a projetar fazer em Quadrinhos a sua vida.
Documentei-me devidamente e apresentei a ideia ao meu editor, que pensou propor à Empresa que na altura explorava a casa Grandella, o «Printemps», uma aquisição de exemplares da obra para oferecerem a Bibliotecas e Escolas, no sentido de uma maior divulgação da obra deste homem notável.
Essa aquisição logo à saída da máquina amortizaria a despesa de produção e tornaria assim viável a edição comercial para ser distribuída pelos postos de venda do país.
Comecei a narrativa pela chegada a Lisboa do jovem Francisco Grandella, para trabalhar numa «loja de panos».
Esboço das páginas 1, 2 e 4 da história.

O meu método de trabalho consiste sempre em esboçar toda a história, com as legendas, podendo assim ser apresentada a editores e promotores, quando os há.
A seguir a essa fase, com a história aprovada, desenho os originais em definitivo.
Isto dá-me a vantagem de distribuir previamente a ação pelas páginas disponíveis que compõem o livro.
Páginas 13, 23 e 28. O livro está estruturado para ter 32 páginas.

O esboço é informal, mas suficiente para mostrar a implantação das imagens nos planos das páginas, a sua força e a fluência da narrativa.
O «Printemp» ficou muito interessado com o projeto, mas pouco tempo depois entrou em falência e essa hipótese ficou posta de parte.
O editor tentou ainda outras possibilidades, mas em vão, e esta história tem ficado na gaveta até hoje, e possivelmente por muito mais tempo por falta de iniciativa editorial.

No próximo artigo:
A «História da Bulgária em HQ»


José Ruy

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