JOSÉ RUY Matias Pinto nasceu na Amadora, onde reside, a 9 de Maio de 1930. Tirou o curso de desenhador litógrafo na Escola António Arroio (Lisboa). É aos catorze anos que começa a publicar banda desenhada em "O Papagaio". E nunca mais parou, a ponto de ser o nosso honroso desenhista que tem quase toda a sua obra editada em álbum. Dizemos quase, precisamente porque ainda não se recuperaram para a versão álbum, as suas primeiras criações, pormenor que teria e terá muito interesse para os coleccionadores e estudiosos da sua carreira. Citam-se, como exemplos soltos, as histórias "Os Cavaleiros do Vale Negro", "Homens do Mar", "A Bravura de Chico", "Nico e Cartucho em Raptores", "Piratas do Ar", etc.
A sua vasta obra foi publicada através de uma imensidão de periódicos.
Tem exposto a sua BD pelos mais diversos pontos de Portugal, mas também, no Brasil, Japão, Roménia, Alemanha, China, França e Cabo Verde.
Tem exposto a sua BD pelos mais diversos pontos de Portugal, mas também, no Brasil, Japão, Roménia, Alemanha, China, França e Cabo Verde.
Foi homenageado na Sobreda, Amadora, Moura, Beja, Lisboa, Porto, Setúbal, Bulgária e na cidade de Belém (Brasil). Na sua Amadora natal, uma avenida e uma escola básica, têm o seu nome.
Adaptou para a 9.ª Arte, diversos exemplos literários de Alexandre Herculano, Fernão Mendes Pinto, Wenceslau de Moraes, Gil Vicente, Luiz de Camões, Alves Redol e do brasileiro José de Alencar.
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Prancha de "O Bobo" - adaptação da obra de Alexandre Herculano (in"Cavaleiro Andante" n.º 266) |
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Prancha de "Peregrinação", segundo a obra de Fernão Mendes Pinto,publicada no "Cavaleiro Andante" |
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Capa de "Ubirajara", adaptação da obra de José de Alencar. História reeditada no n.º 1 da colecção "Antologia da BD Portuguesa" - Editorial Futura (1982) |
Focou algumas vezes o humor e elaborou algumas histórias de mera ficção e várias biografias, a saber: o Infante Dom Henrique, Nicolau Coelho, Pêro da Covilhã, Wenceslau de Moraes, Gutenberg, Almeida Garrett, Charles Chaplin, Columbano Bordallo Pinheiro, Humberto Delgado, Alves dos Reis, Jorge Dimitrov, Aristides de Sousa Mendes, Martins Sarmento, Leonardo Coimbra e João de Deus.
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Prancha de "Gutenberg", publicada no "Mundo de Aventuras Especial" n.º 13 (Dezembro de 1976) |
Elaborou uma sinopse de "História da Cruz Vermelha", traduzida em onze idiomas e distribuída em mais de 150 países.
Alguns álbuns têm versões traduzidas: "A História de Macau" (em cantonês), "Aristides de Sousa Mendes" (em hebraico, francês e inglês) e, no nosso dialecto mirandês, "O Mirandês", "Os Lusíadas" e "João de Deus".
Alguns álbuns têm versões traduzidas: "A História de Macau" (em cantonês), "Aristides de Sousa Mendes" (em hebraico, francês e inglês) e, no nosso dialecto mirandês, "O Mirandês", "Os Lusíadas" e "João de Deus".
Estranhamos que uma das suas obras de honra, "A Peregrinação", que tem tido várias reedições, não tenha captado a atenção de editores estrangeiros, ao que José Ruy nos esclareceu: "Recebi de um pais de outro continente (América do Sul), o pedido para fazer um contrato de edição, que está em curso, e de tradução para a respectiva língua, da "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto".
A título de curiosidade, indicam-se alguns títulos-álbuns fundamentais da bibliografia de mestre José Ruy: "O Bobo", "Os Lusíadas" (três tomos), "Levem-me Nesse Sonho", "A Ilha do Futuro", "As Aventuras de 4 Lusitanos e 1 Porca", "Ubirajara", "Amarante", a série "Porto Bomvento", "Humberto Delgado", "Peter Café Sport e o Vulcão do Faial" (edição elaborada nos Açores), o álbum colectivo "Salúquia", "Autos das Barcas", "Farsa de Inês Pereira", "Auto da Índia", etc, etc.
E agora se segue a nossa "conversa":
BDBD - O José Ruy é um dos veteranos na nossa BD que está sempre e incansavelmente a produzir. Donde lhe vem essa energia?
José Ruy (JR) - Essa energia vem de metas, projectos... para se concretizar uma ideia ou um plano que nos é muito querido. Ou seja, quando estamos a fazer um trabalho pelo qual estamos apaixonados, esquecemo-nos de que não temos energia.
BDBD - A par deste mérito, tem conseguido sempre imediatos editores, enquanto outros colegas seus, com obras completas, se lamentam de não conseguirem quem os edite. Como vê esta situação?
JR - Aí devo confessar que serei um privilegiado. Como opinião pessoal para com as obras que tenho feito e segundo as tiragens obtidas, isso significa que tenho um público que acompanha e adquire o que vou criando, incluindo as tiragens específicas para bibliotecas. Isto representa para um editor uma garantia positiva de vendas.
JR - Claro que me sinto satisfeito, no entanto, sem nunca ter forçado essa situação. Não me sinto privilegiado, mas são essas propostas que vêm ao meu encontro.
BDBD - É verdade que o saudoso mestre Eduardo Teixeira Coelho foi, de certo modo, o seu... digamos, guru nesta Arte?
JR - Foi, é e será sempre, enquanto ele estiver vivo na minha memória.
BDBD - Tem belíssimas obras de ficção, donde também, adaptações de clássicos da Literatura. Mas, de repente, deixou estas vertentes e tem-se limitado a biografias, que não deixam de ser louváveis. Mas será que abandonou mesmo as belas aventuras através da BD?
JR - Tenho de lhe responder desta maneira: se observar minuciosamente todos estes meus trabalhos biográficos, eles também estão cheios de ficção, envolvendo a parte histórica e documental.
BDBD - "Os Lusíadas" e "Peregrinação" são as suas obras sempre tão bem lembradas. Também são as suas criações favoritas? Qualquer autor tem sempre exemplos preferidos do que cria, não acha?
JR - São duas das minhas três favoritas.
BDBD - E qual é a terceira?
JR - A terceira é a série "Aventuras de Porto Bomvento".
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As três criações favoritas de José Ruy: "Peregrinação", "Os Lusíadas" e "Porto Bomvento" |
BDBD - Das poucas vezes que abordou o humor, tem "Os Quatro Lusitanos e Uma Porca", tão acutilante como divertido. Voltaria a este género?
JR - Tenho um plano elaborado há dois anos, com o mesmo guionista do álbum citado, que pus de parte quando o José Pires criou uma obra do género, mas que ainda não foi publicada.
BDBD - Que sonho antigo gostaria ainda de adaptar à BD?
JR - Gostaria de voltar a abordar um tema que me é muito caro: os bombeiros. Em 1973, fiz uma pequena história com este tema para a revista "Pisca-Pisca", que desapareceu antes de ser publicada. Tenho alguns novos argumentos já feitos sobre o assunto. Esse é o meu sonho, que de certo modo, é uma história de ficção...
BDBD - E o seu próximo (imediato) projecto, já o pode divulgar?
JR - O meu próximo projecto é "Carolina Beatriz Ângelo", que além de médica, foi a primeira mulher a votar em Portugal... em 1911. Mas já em 1907, tinha sido a nossa primeira cirurgiã a operar.
Muito e muito se pode escrever e/ou perguntar a José Ruy, um extraordinário e amável conversador, mas por óbvias razões, aqui fica registado o essencial.
LB
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"Natal", trabalho de estreia de José Ruy, com 14 anos ("O Papagaio", 1944). |
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Capa para o n.º 13 dos "Cadernos Sobreda BD" (1998) |
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Capa de "José Ruy: Riscos do Natural", de Leonardo De Sá e António Dias de Deus (Colecção NonArte, Âncora Editores - 2001) |
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Capa de "Leonardo Coimbra e os Livros Infinitos" - Âncora Editora (2012) |