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Channel: BDBD - Blogue De Banda Desenhada
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NOVIDADES EDITORIAIS (85)

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LE SUPPLICIÉ - Edição Soleil. Autores: argumento de Sylvain Cordurié, traço de Stéphane Bervas e cores de Guillaume Lopez.
“Le Supplicié” é o sexto tomo da série “Oracle”.
Esta bela colecção-BD continua a fazer-nos viajar pela extensa e maravilhosa Mitologia Grega, se bem que com certas e convenientes variantes.
Em “Le Supplicié” (O Supliciado) conta-se a lenda de Sísifo, o astuto mortal mais odiado pelos deuses do Olimpo. Foi condenado por Zeus a empurrar um pesado rochedo pela encosta acima de uma colina um tanto íngreme e áspera, mas quando quase atingia o cume, o rochedo vinha por aí abaixo e o suplício recomeçava.
Oráculo relata a Homero (então ainda jovem) a história de Sísifo, que arranja artimanhas e determinadas  alianças para combater Zeus e outros deuses aliados...
Muito interessante toda a arte gráfica deste álbum.


PATAGÓNIA - Edição Polvo. Argumento de Mauro Boselli e grafismo de Pasquale Frisenda, e ainda, um prefácio de José Carlos Francisco.
Este álbum é uma deslumbrante surpresa: da interminável série “Tex”, se não é o melhor episódio (bem longo) de todas as narrativas de Tex Willer, anda bem perto disso. Claro que o argumento tem as suas fantasias, “quase anedóticas”, como por exemplo: Tex Willer e seu filho Kit, trocam as pradarias do Far West norte-americano pelas pampas argentinas, onde está em curso uma complicada guerra, na qual não faltam barbaridades e mortes atrás de mortes...
Mas o que há em nobre força neste álbum é o magnífico e espectacular grafismo a preto-e-branco de Pasquale Frisenda, talvez o mais belo grafismo que até hoje encontrámos em relação a Tex. Com um senão: Kit está tão subitamente adulto que, por vezes, mais parece o irmão gémeo e não o filho de Tex...
De resto, aplausos plenos a Frisenda!


HYVER (1709) / 1 - Edição Glénat. Argumento de Nathalie Sergeef e Philippe Xavier, traço de Philippe Xavier e cores de Jean-Jacques Chagnaud.
É uma dramática e extraordinária aposta pela BD de uma situação trágica sofrida pelo povo francês, por esse ano de 1709, no reinado de Louis XIV.
Pior do que a quase interminável guerra em vigência, é o flagelo que castiga a França, um inverno cruel e sem contemplações: o frio, o gelo, a fome, as mortes, a decadência... O inverno é implacável e não escolhe quem vai justiciar!
Nesta breve série que terminará no segundo tomo, o aventureiro Loys Rohan, vai proceder, de certo modo, como um “bom samaritano” e tentar que um carregamento de trigo seja entregue incólume às necessidades urgentes do Reino de França...


MISSION ANTARCTIQUE - Edição Casterman. Argumento de Chistophe Alvès e grafismo de François Corteggiani. É o 26.º álbum da série “Lefranc”, criada por Jacques Martin, da qual ele só desenhou os três primeiros tomos, mantendo-se porém, por largo tempo, como argumentista.
A série”Lefranc” nunca teve o devido impacto popular pelos nossos bedéfilos, sempre só atentos à de “Alix”...
Entre altos e baixos, este é um dos mais conseguidos tomos em relação aos mais recentes. Estará este novo fôlego na consequência perita do argumento de Alvès e da bela arte de Corteggiani? Talvez...
O certo é que “Mission Antarctique” entusiasma bem o leitor. E a velha e lendária ideia, mistificada, de que no subsolo da Antártida existe uma base de extraterrestres, aqui tal “maluqueira” por comprovar, é uma sinistra base de hitlerianos que têm o seu temível “disco voador”!... E, se for assim... Uma hipótese a provocar acesos debates entre os entusiastas do tema.
De resto, por aqui reaparecem, o “eterno” inimigo de Lefranc, que é o famoso e tão desleal Alex Borg  (agora sem barba e de visual um tanto cativante) e o adolescente protegido de Lefranc, Jeanjean.
Porém, será que Lefranc, enquanto sofria as “passinhas do Algarve” na Antártida, só por lá viu, só e apenas...pinguins, como ironicamente afirma na última vinheta?!... 
LB

DE ACTORES A HERÓIS DE PAPEL (10) - WOODY ALLEN

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Woody Allen (1935)
De origem judaica, Woody Allen (de seu nome próprio Allen Konigsberg) nasceu em Nova Iorque a 1 de Dezembro de 1935.
Um tanto mulherengo, cedo começou a aventurar-se pela carreira das artes. Autor, realizador e actor (em mais de quarenta películas), teve a sua fenomenal estreia no filme “O Que Há De Novo, Gatinha?”, realizado em 1965 por Clive Donner de uma história que o próprio Allen escrevera. Neste filme, verdadeiro monumento de paródia, para além de Woody Allen, conta-se um elenco de luxo: Peter Sellers, Peter O’Toole, Romy Schneider, Capucine, Paula Prentiss, Ursula Andress, Eddra Gale, Jean Parédès, Michel Subor, etc. Uma comédia irresistível!

Mas na extensa filmografia de Woody Allen, quase sempre como realizador e actor, demarcam-se outras várias películas de êxito, como “O Inimigo Público”, “Bananas”, “O Herói do Ano 2000”, “Annie Hall, “Nem Guerra Nem Paz”, “Manhattan”, “Quase Um Gigolo”, etc.


Algumas vezes, Allen abordou a vertente séria e dramática, mas é como cómico que ele é mais admirado pela generalidade dos cinéfilos.
A sua popularidade não escapou à Banda Desenhada. Alguns desenhistas o agarraram nesta vertente, como Joe Marthen...


Tiras de "Woody Allen", por Joe Marthen

...Debe 660...
"Woody Allen" numa tira de Debe 666
...ou Maumont.
"Hipocondria", tira de Maumont com "Woody Allen" como protagonista

Mas o seu desenhista por excelência foi Stuart Hample que, sob publicação da King Features, elaborou tiras de 1976 a 1984. Maioritariamente foram depois reunidas em álbum.
Prancha de "Inside Woody Allen", por Stuart Hample

Tira de "Woody Allen", por Stuart Hample
Tira de "Woody Allen", por Stuart Hample

Prancha de "Inside Woody Allen", por Stuart Hample
Woody Allen na Banda Desenhada foi publicado no Brasil e também na Argentina, onde Carlos Trillo (argumentista) e Osvaldo Pérez d'Elias (desenhador) criaram, nos anos 70, a série "Detectives' Studio", que retrata as aventuras de Allen Woodis (personagem-detective obviamente inspirado em Woody Allen), contracenando com figuras do mundo do cinema como Sophia Loren, Laurel e Hardy, Frank Sinatra, entre outros.



A terminar, duas notas: a primeira para dizer que Woody Allen foi também personagem num episódio da série de animação "The Simpsons"...

...e a segunda para destacar uma caricatura deste actor - no meio das milhentas que podemos encontrar na net -, pelo extraordinário ilustrador Pablo Lobato.
Caricatura de Woody Allen por Pablo Lobato

SÉRIES DE TIRAS BD (3) - ALFREDO, O VAMPIRO

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Alfredo, o Vampiro é uma uma criação do brasileiro Emerson Lopes, ilustrador, animador e banda desenhista, já com alguns prémios no curriculum, incluindo o conhecido Troféu HQ Comix.
Alfredo, o Vampiro é uma série com um humor leve e descontraído, onde contracenam personagens clássicos do género de terror como vampiros, lobisomens, bruxinhas ou fantasmas, num desenho cuidado e elegante.
Em 2013, as tiras de Alfredo, o Vampiro puderam ser apreciadas numa exposição que teve lugar na Bedeteca de Beja.
Pensada para ser uma série a publicar exclusivamente na net, em 2014, a editora Estronho (Brasil) reuniu algumas das melhores tiras em álbum, fazendo o lançamento oficial na 2.ª Gibicon, em Curitiba.  
Podem consultar o blogue oficial da série clicando em http://alfredovampiro.blogspot.pt/ 
CR


OBRAS RARAS (1)

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Aviso aos navegantes: para aguçar o “apetite” ou a lógica curiosidade, iniciamos hoje uma nova rubrica, “Obras Raras”, que focará apenas a BD, nacional e não só, que existe em álbum, mas que são obras difíceis de se encontrar, mesmo nos alfarrabistas. Daí o serem classificadas de raras, independentemente da qualidade das mesmas, segundo o estilo dos respectivos criadores.


Claude Auclair
BRAN  RUZ
Maravilhosa narrativa desenhada pelo francês Claude Auclair (1943-1990), com argumento de Alain Deschamps, “Bran Ruz” foi publicado na revista “(A Suivre)” e, em 1981, em álbum pela Casterman.
Com base nos usos e costumes dos celtas, é uma obra que encanta plenamente e que está desenhada com toda a perícia artística de Auclair.
Na bibliografia deste desenhista contam-se outros belos exemplos, como “Os Náufragos do Arroyoka”, “Simon du Fleuve”, “Celui-là”, ”Le Sang du Flamboyant”...









Eugénio Silva
MATIAS SÁNDOR
Com base no romance homónimo (com o apelido Sandorf e não Sándor ) de Jules Verne, é uma das mais belas criações do nosso Eugénio Silva, nascido no Barreiro (onde reside) a 25 de Fevereiro de 1937.
Verne usou o apelido russo para o herói, mas Silva adaptou para o apelido húngaro, já que é esta a nacionalidade do personagem central. Fernando Bento também adaptou esta obra (que não existe em álbum)  para a revista “Diabrete”.
“Matias Sándor” foi editado em álbum pela Publica, em 1983.
Na bibliografia de Eugénio Silva inserem-se obras, como “História de Seia”, “Eusébio, o Pantera Negra”, “Inês de Castro”, “A História do Concelho do Seixal”, “O Crime de Arronches”, “Amoni”, “José do Telhado” (inédito), “O Rapaz da Boina”, etc.
LB

BREVES (20)

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3.º SALÃO DE BANDA DESENHADA
DE AVEIRO CELEBRA "O MOSQUITO"
Inaugurou ontem, no Museu de Aveiro - Santa Joana, o 3.º Salão de Banda Desenhada, cujo mote é os 80 anos da revista "O Mosquito".
Destaque para os autores que "nasceram" com aquela revista (onde, obviamente, se inclui Eduardo Teixeira Coelho), mas também para outros autores portugueses que acompanharam a evolução da BD portuguesa noutras publicações como o "Cavaleiro Andante", "Mundo de Aventuras", "Diabrete", "Jornal do Cuto" ou "Tintin".
O salão pode ser visitado até 17 de Janeiro.








EXPOSIÇÃO "ESTÚPIDOS, MALDOSOS E SEMANAIS"... NA BEDETECA DA AMADORA
Também ontem, na cidade da Amadora, inaugurou a exposição documental "Estúpidos, Maldosos e Semanais. Uma Constelação em Torno do Charlie Hebdo".
No dia 23 haverá um debate associado a este evento com hora a divulgar posteriormente.
A exposição ficará patente até 30 de Janeiro e pode ser visitada de terça-feira a sábado, das 10:00 às 18:00 h.



ALMOÇO-CONVÍVIO DOS 80 ANOS DE "O MOSQUITO"
No próximo dia 16, sábado, realiza-se o já tradicional almoço-convívio entre leitores e admiradores da mítica revista "O Mosquito".
Depois do repasto, pelas 16:00 horas, haverá um colóquio com José Ruy ("Como entrei para O Mosquito"), nas novas instalações do Clube Português de Banda Desenhada (antigo CNBDI).



BRONCA EM ÂNGOULEME (?)
Trinta nomes, muitos deles de "grandes" do mundo dos quadrinhos como Frank Miller, Chris Ware, Alan Moore, Milo Manara, Stan Lee, Emmanuel Guibert, Quino, Jiro Taniguchi, Joann Sfar ...
Trinta nomes indiscutíveis, mas apenas homens; nenhuma mulher.
O anúncio da lista de autores elegíveis para o Grand Prix no 43.º Festival Internacional de Banda Desenhada de Ângouleme (entre 28 e 31 de Janeiro próximo) gerou um rebuliço no meio da nona arte, na última terça-feira, ao ponto de o colectivo de autores apelar para um boicote ao voto destinado a designar os três finalistas desta eleição reservada para profissionais da indústria.
A poucos dias da abertura de portas, a organização de um dos mais prestigiados festivais BD do Mundo tem entre mãos uma pequena batata quente...

OBRAS RARAS (2)

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William Vance
C’ÉTAIENT DES HOMMES
O belga William Vance (aliás, William Van Custen), nascido em 1935, é um dos mais perfeitos e marcantes desenhistas da Europa. Pelos anos 60, para a revista “Tintin”, elaborou diversas histórias curtas, focando grandes homens da História. É a maioria  destas narrativas que em 1976, num exuberante a preto-e-branco, são reunidas em álbum pelas Editions Michel Deligne: “C’Étaient des Hommes”.
É espantosamente belo o traço do desenhista nestas breve biografias sobre personagens autênticos.
Na bibliografia de William Vance, contam-se as séries “Howard Flynn”, “Ringo”, “Bruno Brazil”, “Bob Morane”, “Ramiro”, “XIII”, “Bruce J.Walker”, etc, etc.





Artur Correia e António Gomes de Almeida
O PAÍS DOS CÁGADOS
É o irresistível humor do nosso mestre Artur Correia em plena força. Em hilariante caricatura, com texto de António Gomes de Almeida, relata a nossa História desde a queda da cadeira de António Oliveira Salazar até à eleição do general Ramalho Eanes.
Este divertido álbum, editado pelos autores em 1989, é definido pelos próprios como “um folhetim histórico-cómico contado a passo de cágado”. Em 2012, a Bertrand reeditou este álbum, a cores e com alguma actualização, mas, indubitavelmente, a primeira  edição é a mais preciosa.
Na admirável bibliografia de Artur Correia, contam-se álbuns como “Aventuras de D. João e Cebolinha”, “O Romance da Raposa”, “Era Uma Vez Um Leão”, “Era Uma Vez Uma Águia”, “Era Uma Vez Um Dragão” (os três últimos, com argumento de Manuel Dias), “Esta Palavra Concelho” (com texto de Maria Alberta Menéres), “Auto da Barca do Inferno”, “História Alegre de Portugal” (em dois tomos, com texto de Manuel Pinheiro Chagas no primeiro e de António Gomes de Almeida, no segundo), "Os Nabos na Cozinha”, "Os Descobrimentos a Passo de Cágado” (estes, de parceria com António Gomes de Almeida), etc, etc.



Étienne Le Rallic
CAPITÃO FLAMBERGE
O francês Étienne Le Rallic (1891-1968) teve uma certa notoriedade pelas narrativas que foi desenhando com um esmero digno de aplauso. Foi também admirado em Portugal, onde várias das suas obras foram editadas.
Nos anos 50, elaborou exaustivamente, “Capitão Flambèrge” que será talvez, a “cereja no topo do bolo” de toda a sua obra. Foi publicada em álbum, em França, em 1979, pelas edições Glénat. O argumento é de Marijac (aliás, Jacques Dumas).
Este álbum nunca foi editado em Portugal, mas saiu por cá em duas partes: a primeira, semanalmente no “Cavaleiro Andante” do n.º 219 ao 339; a segunda e última parte, editou-se no “Álbum do Cavaleiro Andante” n.º 67.
Para quem gosta de narrativas de capa-e-espada,”Capitaine Flambèrge” é uma das mais belas e conseguidas.
Na bibliografia de Le Rallic, contam-se “Poncho Libertas”, “Les Mousquetaires de l’Océan”, “Jack Carter, Chevalier du Texas”, “Le Chevalier à l’Églantine”, etc.
LB

A VIDA INTERIOR DAS REDAÇÕES DOS JORNAIS INFANTO-JUVENIS na memória de José Ruy (15)

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15) "SELECÇÕES BD"

Em 1988, pouco tempo depois de ter acabado a publicação do «Tintin», a Meribérica/Líber lançou uma revista com bastante qualidade, tanto na parte artística como no aspeto gráfico: «Selecções BD».
Foi nesta revista que publiquei um curso abreviado de BD durante dez números, por sugestão da Maria José Pereira e incentivado pelo Geraldes Lino que assistira durante três anos aos cursos que ministrara no «Instituto Médiocurso», em Lisboa.

Mas não é desta revista que vou falar, pois não tive uma permanência significativa na sua redação, e o propósito destes artigos é contar histórias que passei dentro desses locais onde nascem os sonhos.
Primeira série da revista «Selecções BD»

Vou contar, então, a minha experiência na redação das «Selecções BD», mas na sua segunda série, saída à estampa em 1998.
Esta redação estava instalada no edifício da editora Meribérica, na Avenida Duque d’Ávila, n.º 26, no terceiro e último andar. Era um edifício antigo com pisos de grande pé direito e que o Telmo Protásio havia ligado internamente ao prédio contíguo que também lhe pertencia. Tinha uma claraboia lindíssima que produzia um efeito de salão de exposições na sala de reuniões da editora.
Era diretora da revista a Maria José Pereira que trabalhava na editora havia tempo com a Natália Severino, que entretanto tinha sido colocada no Brasil como diretora da Meribérica nesse país. O chefe de Redação era o Jorge Magalhães que com a sua experiência e saber conseguiu uma seleção muito criteriosa das histórias importadas de quase todos os quadrantes, como dos Estados Unidos da América, de Itália, Espanha e França. Incluía alguma colaboração portuguesa.

O seu formato era fora do normal, 30 x 23 cm, em bom papel e com a particularidade de alguns dos temas do conteúdo roçarem o erótico, portanto para um público mais adulto ou pelo menos mais crescido. Não era uma revista infantil.
Eu de há muito que tinha boas relações com o Telmo Protásio, e nessa altura ele estava interessado em publicar histórias do Eduardo Teixeira Coelho. Sabendo da nossa grande amizade pediu-me se intercedia nesse sentido e efetivamente chegou a fazer um contrato vantajoso para o autor com o objetivo de reeditar toda a sua obra publicada em Portugal e no estrangeiro, embora infelizmente esse projeto não tivesse chegado a concretizar-se.
O Teixeira Coelho entretanto havia doado todos os seus originais, independentemente dos direitos autorais, ao «Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem» fundado recentemente na Amadora.
Vieram pacotes de França e de Itália com mais de 4000 pranchas da série «Ragnar» e outras histórias. Os originais vinham desordenados e como para se fazer o devido registo eram precisos muitos dias, combinou-se depositá-los na redação das «Selecções BD» que os iria utilizar mais tarde para a publicação.
E quem estaria à altura de organizar esses originais? Sem dúvida alguma a única pessoa entre nós com conhecimento e aptidão para tal, o Jorge Magalhães, que se disponibilizou voluntariamente a meter ombros nessa complicada e árdua tarefa.
A redação das «Selecções BD» circunscrevia-se a uma sala, com boas janelas para a Avenida Duque d’Ávila de onde recebia boa luz e nessa altura ficou «atravancada» com todo esse material. Andavam todos sob pressão, pela responsabilidade quanto ao que tinham em mãos. Era como se o prémio de um Euromilhões fabuloso que enchesse vários cofres, se encontrasse depositado numa casa sem as mínimas condições de segurança. O Jorge Magalhães estava apreensivo por isso e o que valeu foi que poucas pessoas se aperceberam do valor daquele acervo. Para muitos eram montes de papel velho e amarelecido com bonecos desenhados.
O Coelho trabalhava os originais ao dobro da publicação, e como o «Vaillant» tinha grande formato, essas pranchas atingiam uma medida maior do que A2. Daí a razão de desenhar em tiras para ser mais cómodo, que eram depois coladas com fita gomada para formarem a página.
As tiras que o Teixeira Coelho desenhava, isoladamente, e unia depois
formando a página para entregar na revista «Vailant» 

Com os anos as fitas tinham perdido a aderência e as tiras haviam-se solto na maior parte dos originais, misturando-se numa confusão tremenda. Como o herói, «Ragnar», era comum a todas as histórias só uma pessoa que conhecesse a fundo essas aventuras saberia localizar a qual pertencia cada tira. Efetivamente esse difícil trabalho de identificação ficou a dever-se ao conhecimento e memória do Jorge Magalhães, que sendo um fervoroso admirador do E T. Coelho conhecia (e conhece) de cor todas as suas histórias.
Depois de agrupadas, essas pranchas seguiram para o «bunker» do CNBDI onde se encontram devidamente acondicionadas em placas de «pH neutro» dentro de armários de aço beneficiando de condições especiais contra ácaros, humidade, inundações e incêndio. É o arquivo mais importante (creio) da Europa, albergando neste momento cerca de 15000 pranchas originais e desenhos de esboços, croquis tirados do natural, estudos, maquetas e capas de livros, de autores nacionais e também alguns estrangeiros.
O Teixeira Coelho iniciou então uma colaboração inédita para as «Selecções BD», com ilustrações e mesmo histórias em quadrinhos.

O ambiente na redação das «Selecções BD» era agradável e calmo, onde o Jorge Magalhães dedicava muitas horas de trabalho. Perto da sua secretária havia mais umas onde se sentavam funcionárias que ajudavam na paginação. A revista era composta por histórias de continuação e algumas que se completavam em cada número, e também por artigos sobre os autores em publicação, notícias de lançamentos de livros e de Festivais de BD.
Duas rubricas interessantes: no verso da capa, em todos os números, o José Carlos Fernandes criava uma ilustração referente ao mês. Na página a seguir, a 3, porque a numeração começava na capa, o Augusto Trigo (a maioria das vezes, mas também, de quando em vez, o Carlos Roque, o Estrompa e outros) encarregavam-se de fazer humor para apresentar o sumário, sob a nota de abertura do Jorge Magalhães.

Em dada altura o Jorge Magalhães mostrou desejo de que eu fizesse uma história para sair completa num número.
Lembrei-me de uma lenda que ouvira contar numa viagem ao Médio Oriente, por um guia, e construí um argumento a partir daí. Chamei-lhe «A Estátua Perdida» e era uma história baseada na célebre cena bíblica da mulher de Loth transformada numa estátua de sal quando da destruição de Sodoma e Gomorra. Tinha 10 páginas.
Uma página de "A Estátua Perdida"
Já no ano 2000, o Jorge Magalhães, que de há muito insistia para que eu retomasse as «Lendas Japonesas» que nos anos 50 do século XX iniciara na revista «Flama», me propôs que as publicasse nas «Selecções BD». Entusiasmei-me e voltei ao tema, pois embora tivesse publicado 9 lendas sobre as traduções de Wenceslau de Moraes, muitas mais tinham ficado por desenhar. Seria interessante continuar a série com novos títulos.
No entanto resolvi refazer a primeira lenda com que tinha iniciado a rubrica em 1949, «Amaterasu a Deusa da Luz do Sol», com uma diferença de meio século.
O Jorge Magalhães fez na sua apresentação essa comparação publicando a reprodução da primeira tira saída na revista «Flama».

Eis a primeira prancha da nova versão de «Amaterasu» e também a primeira de «As Duas Rãs Curiosas», esta desenhada pela primeira vez para as «Selecções BD».

Mais tarde, em 2012, dei cor a estas páginas e iniciei a publicação na revista «Alternativa Espaço Aberto».
Seguiram-se outras lendas, mas entretanto a Editora Meribérica começou a sofrer de desequilíbrios na sua gestão, o Telmo Protásio colocara no departamento de produção uma sua familiar que entendeu de passar a procurar no espaço europeu gráficas que nos seus tempos desocupados pudessem fornecer orçamentos mais em conta. Só que uma revista periódica não pode ficar à espera de uma oportunidade dessas vinda de Espanha, Itália ou de outro país. Tinha de cumprir prazos e mesmo a distância tinha uma grande importância, pois não era o mesmo de acabar a impressão numa oficina em Portugal e na mesma tarde ser entregue na distribuidora. Para ajudar, a distribuidora da editora faliu e feriu de morte a Meribérica. Esta suspendeu as publicações e ainda fez umas tentativas de recuperação, mas sem o retorno das vendas nem tendo acesso ao material distribuído, era difícil cumprir com os deveres para com as gráficas, acabou por se desativar.
As Lendas japonesas foram interrompidas.
Com este triste final da editora, terminam também, mas alegremente, estes artigos que já vão longos.
José Ruy

PELA BD DOS OUTROS (19) - A BD DE MALTA

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Localização de Malta na Europa
Hoje em dia, Malta é uma república, com a capital em Valeta, sendo membro da União Europeia e tendo o euro como moeda. Situada mais ou menos a meio do Mar Mediterrâneo, com a Itália para norte e a Tunísia para sul. Sendo um estado insular, tem como principais ilhas Malta, Gozo e Comino, e mais cerca de doze ilhéus desabitados.
O território terá sido povoado por cerca de 2.500 anos antes de Cristo, durante o Neolítico. Com uma situação estratégica, através dos tempos, foi cobiçada e dominada por diversos povos: fenícios, gregos, cartagineses, romanos, árabes, espanhóis, franceses, italianos e ingleses. O turismo e o seu mel de alta qualidade, são as maiores fontes de rendimento.
Línguas oficiais: maltês e inglês, se bem que o italiano também seja muito usado. Tem uma cultura muita vasta, rica e variada, sobretudo na Arquitectura, Pintura e Escultura, não lhe faltando também um bom lote de escritores em diversas vertentes, como por exemplo: os prosadores Frans Sammut e Joe Camilleri, os poetas Adrian Grima e Norbert Bugeja e os dramaturgos Francis Ebejer, Alfred Sant e Oreste Calleja. Pelas actrizes e actores, entre muitos outros, destacam-se: Roberta Angelica, Veronica Hurst, Sarah Harrison, Joseph Calleia, Lino Grech e Andrei Claude. Pela
religião, é um estado predominantemente católico.
Pelo longo período em que foi governada pela Ordem Soberana e Militar de Malta, na lista dos seus Grão-Mestres, contam-se quatro portugueses: D.Afonso de Portugal (1203-1206), D. Luís Mendes de Vasconcelos (1622-1623), D. António Manoel de Vilhena (1722-1736) e D. Manuel Pinto da Fonseca (1741-1773).
A BD Maltesa começou a afirmar-se tardiamente. O seu pioneiro terá sido Gorg Mallia, nos fins dos anos 60 do século passado. Mas outros mais se foram notabilizando, como: Norman C. Borg, Fabio Agius, Victor Pulis, Guzi Gatt, Mark Scicluna, Samuel Mallia e, o mais internacionalizado de todos, Joe Sacco.

De Gorg Mallia, salientam-se as séries, “One Family” e “Sargento Valleta”...
Tiras de "One Family"
Tira de "(Don't) Think!"

Com Mark Scicluna e Moira Zahra, a criação mais famosa é “A Space Boy Dream”...
Capa de "A Space Boy Dream"
Prancha de "A Space Boy Dream"

Fabio Agius, tem a já célebre “The Golden Lizard”...
Capa de "The Golden Lizard", por Fabio Agius, Le Galle e Ellul

Victor Pulis, “The First Siege”...

Capa e prancha de "The First Siege"

...e Guzi Gatt, “Il-Gawgaw u I-Imlejka” e “Kranium”.
Com Joe Sacco, da sua já grande obra, os títulos mais importantes são: “Palestina”, “The Fixer”, “Gorazde”, “Soba”, “Bumf”, etc.
Capa e prancha de "Palestine"

Capa e prancha de "Gorazde"

Capa e prancha de "Soba"

Vamos conhecer melhor (a Cultura não ocupa lugar e só nos enriquece...) a BD Maltesa e esquecer um pouco os “servilismos” bedéfilos vigentes?
LB

EVOCANDO(17) - JACQUES MARTIN

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Nota Prévia: nesta segunda fase da nossa rubrica “Evocando”, só ocasionalmente focaremos alguns talentos estrangeiros, atendendo a que vieram pela primeira vez a Portugal ao Salão Internacional Sobreda-BD (1982-2006), do qual eu era o fundador e coordenador. Tudo bem?...


Jacques Martin (1921-2010)
Pois hoje, 21 de Janeiro de 2016, evoca-se precisamente o sexto ano sobre o falecimento do grande senhor da Banda Desenhada que foi e é, mestre Jacques Martin. Nasceu em Estrasburgo (França) a 25 de Setembro de 1921 e faleceu a 21 de Janeiro de 2010 em Orbe (Suíça).
Esteve pela primeira vez em Portugal, para ser homenageado, no salão “Sobreda-BD /1990”. Voltou mais tarde, fugazmente, para uma exposição em Lisboa e depois, para uma das edições do Festival-BD da Amadora.
Seu desporto favorito era o esqui na neve. Tinha residências na Bélgica e na Suíça.
Muito afável e também irónico, a sua arte espalha-se por ilustrações soltas, cenografia teatral, aspectos da guerra, publicidade e, sobretudo pela Banda Desenhada, como argumentista e como desenhista. Chegou a usar os pseudónimos Jam Marleb.
Capa e prancha de "Le Hibou Gris", onde Jacques Martin usa o pseudónimo "Marleb"

Investigador de diversas épocas da História, por aqui se dedicou apaixonadamente pela Grécia, Roma e Egipto. Foi grande colaborador de Hergé, donde o ter redesenhado o álbum “O Vale das Cobras” da série “Jo, Zette et Jocko” e de ter criado situações hilariantes em diversas aventuras de “Tintin”.
Hergé e Jacques Martin
Da sua invejável obra em BD, contam-se as séries “Alix”, com dezenas de tomos, dos quais terá desenhado apenas dezanove; “Lefranc”, com cerca de trinta tomos, dos quais apenas desenhou os três primeiros; “Orion”, breve série ainda em aberto, da qual desenhou os dois primeiros tomos.
E onde foi apenas argumentista, as séries “Jhen” (que se chamava “Xan”, na primeira versão dos dois primeiros tomos), “Arno”, “Kéos” e “Loïs”.
Mas há obras suas, anteriores, que se notabilizam na sua bibliografia: “Le Hibou Gris”, “La Cité Fantastique”, “Histoire d’Alsace”, a curta série “Oeil de Perdrix”, “Monsieur Barbichou”, “Lamar, l’Homme Invisible”, “Sept de Trèfle”, etc.
Criou uma série pedagógica servindo-se dos seus heróis principais: Alix, Lefranc, Jhen, Loïs, Orion... Destes, na série “Les Voyages de Loïs”, dedicou um tomo ao nosso país, “Le Portugal”, que foi ilustrado pelo nosso Luís Diferr, contando com uma edição em português.
Capa e prancha de "La Cité Fantastique", da série Clark Pilote d'Essai

Duas capas de Alix, a mais famosa criação de Jacques Martin

Capas de "Le Lac Sacré" (da série Orion) e de "Chesapeake" (da série Arno,
onde Martin participou apenas como argumentista)

Das homenagens e prémios que recebeu, contam-se: em 1979, o Prix Saint Michel em Bruxelas, pelas séries “Alix”, “Lefranc” e "Jhen”; 2003, Grand Prix Saint Michel; 2005,recebeu a Comenda de Cavaleiro da Ordre des Arts et des Lettres, que lhe foi agraciada pelo então ministro da cultura francês, Jack Lang; 2005, Prix Crayon d’Or , no 22.º festival de Banda Desenhada de Middelkerke (Bélgica). Das muitas obras (ensaio, estudos, entrevistas, etc) que lhe têm dedicado, salienta-se o volume “Avec Alix, l’Univers de Jacques Martin” por Thierry Groensteen e Alain De Kuyssche, que em 2002 teve uma reedição pela Casterman.
Através dos seus heróis, Jacques Martin registou com perícia e paixão, diversas épocas da História: Antiguidade Clássica (Alix, Kéos Orion), Idade Média (Jhen), “Século das Luzes” (Loïs), Era Napoleónica (Arno) e, a actualidade, com Lefranc.
Não desejou que a sua obra morresse com ele e foi fazendo escola, donde se salientam discípulos como Jean Pleyers, Christophe Simon, Rafael Morales, Gilles Chaillet, Jacques Denoël, Marc Henniquiau e outros mais, tendo havido ainda a colaboração ocasional de Roger Leloup e de André Juillard.
Em português, na versão álbum, foram publicados alguns tomos da séries Alix, Lefranc, Kéos Arno.
LB


Capa de "Le Mystère Borg", da série Lefranc


Capa de "Le Cobra", da série Keos, com desenhos de Jean Pleyers e argumento de Jacques Martin
Capa do álbum "Le Portugal", com desenhos do português Luís Diferr
Prancha de "Le Fils de Spartacus", da série Alix
A admirável Arte de Jacques Martin num belíssimo esboço para a série Alix

BREVES (21)

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NOVO ÁLBUM DE SPACCA
Da notável obra do grande desenhista brasileiro João Spacca salientam-se os maravilhosos álbuns “D. João Carioca” e “As Barbas do Imperador”, que apresentou na última edição (2015) do Salão de Beja, e que a todos encantou.
Em contrapartida, aí se deliciou a saborear o típico “cozido de grão”...
Pois Spacca terá novo álbum muito em breve, versando a biografia do santo italiano Padre Pio, do qual mostramos uma prancha. Aguardemos, pois, por tal obra anunciada.
Prancha de "Padre Pio" (trabalho ainda inédito)



"A VIAGEM DO ELEFANTE" COM PASSAGEM PELA TURQUIA
Foi com prazer que recebemos a notícia de que João Amaral viu ser publicado na Turquia o seu último álbum, "A Viagem do Elefante", obra adaptada do romance homónimo de José Saramago.
A edição tem chancela da editora Kirmizi Kedi (literalmente, Gato Vermelho).
João Amaral vê, assim, reconhecido o seu trabalho além fronteiras, facto bem pouco habitual entre os autores portugueses. Parabéns, João!



JIM DEL MÓNACO COM NOVO ÁLBUM AINDA ESTE ANO
Entretanto, a dupla Luís Louro e Tozé Simões, que em boa hora regressou à BD depois de um largo interregno, está a trabalhar em mais uma aventura de Jim del Mónaco, com lançamento agendado ainda para este ano (no Festival AmadoraBD?).
Deixamos aqui o trailer desse trabalho, só para aguçar o apetite aos mais impacientes...



"O MOSQUITO" CONTINUA A VOAR
O almoço que, nos últimos anos, se tem vindo a realizar em Lisboa, com o intuito de festejar o aniversário da famosa revista "O Mosquito", teve lugar no passado dia 16 de Janeiro, sendo, até hoje, o mais participado de sempre.
É bem possível que a data redonda que "O Mosquito" cumpriu (80 anos), fosse o definitivo pretexto para que muitos indecisos optassem por marcar presença neste já tradicional convívio bedéfilo. E ainda bem que o fizeram, pois assim a festa foi mais bonita e o espírito "mosquiteiro" voou mais alto...
Imagem do almoço-convívio que bateu o record de presenças

Após o repasto, e já na novel sede do Clube Português de Banda Desenhada (CPBD), os convivas puderam assistir a uma palestra de José Ruy sob o tema "Quando entrei para O Mosquito"...
Imagem da palestre de José Ruy, com boa assistência

...a que se seguiu a inauguração das exposições "80 Anos de O Mosquito" e "Tributo a Eduardo Teixeira Coelho", que se manterão abertas, de aqui em diante, aos sábados, entre as 15:30 e as 18:00 horas, até 12 de Março.
Um agradecimento especial ao CPBD que, gentilmente, nos cedeu as fotos que aqui vos apresentamos.
Inauguração das exposições




ANIVERSÁRIOS EM FEVEREIRO
Dia 09: José Matos-Cruz e Zeu
Dia 11: Pedro Morais
Dia 15: Art Spiegelman
Dia 20: Sergei
Dia 21: Luís Pinto-Coelho e Zenetto
Dia 25: Eugénio Silva

UMA OBRA... VÁRIOS ESTILOS (5) - ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

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Há por aí - tem havido através dos tempos - quem julgue que “Alice no País das Maravilhas”, é uma obra literária para crianças... Que insensatez! Que triste é tanta incapacidade de tantos adultos que jamais perceberam ou percebem o feroz sarcasmo de Carroll, quando escreveu genialmente este impiedoso texto onde ridiculariza políticas e sociedades.
Quando o vulgo que por esta vida se arrasta não percebe patavina que o Astérix e a Mafalda (exemplos soltos) não são séries que tenham a ver com as criancinhas... Pois, pois!
Ora vamos a alguns (certamente existirão muitos mais) exemplos desta obra na Banda Desenhada.
Nomes/talentos mais notáveis: para além de Alex Blum e do nosso Fernandes Silva, sinalizamos Jun Abe, François Amoretti, a brasileira Erica Awano, Rebecca Dautremer, e um álbum colectivo francófono, onde são notórios os traços de Dany e de Turk, assinando como Daluc (em parceria com Dupa) e Turbo (em parceria com De Groot).
“Alice no País das Maravilhas” é a obra de honra do escritor inglês Charles Lutwidge Dagson, conhecido pelo seu pseudónimo Lewis Carroll, nascido a 27 de Janeiro de 1832 (cumprem-se hoje, precisamente, 184 anos!) e falecido a 14 de Janeiro de 1898.
Muito e muito se pode apreciar e discutir ante as belas adaptações à 9.ª Arte de “Alice no País das Maravilhas”... É ao gosto, fácil ou não, de cada um!...
Por nossa parte, temos como “pontos altos” quatro versões, a saber:

ALEX BLUM, em “Classics Illustrated” #49, e depois no Brasll, em “Edição Maravilhosa” #30 (1950).
  


FERNANDES SILVA, esse especial e quase olvidado artista nosso (autor do famoso herói-BD “O Ponto”, que criou para a revista “Cavaleiro Andante”, logo a partir do #1) realizou uma das mais belas, quiçá a melhor de todas, adaptações à BD deste clássico literário.
Incrível que nenhuma editora portuguesa se tenha interessado por este assunto!... Continuamos a desrespeitar os nossos talentos, o nosso público bedéfilo e a nossa Cultura, só pensando nos cifrões a aboletar facilmente...
Curiosamente, no telejornal da SIC, a 21 de Abril de 2015, numa reportagem cultural de Portugal em Macau, escutámos uma pertinente afirmação do Dr. Pedro Machado, Presidente da Câmara Municipal de Lousada: "Com a Cultura não se gasta dinheiro. Com a Cultura, investe-se".


DALUC E TURBO (ou sejam, Dany, Greg, Bob De Groot, Dupa e Turk), num álbum colectivo, publicado em 1973, pelas edições Lombard, reeditado em 1987 pela M.C. Productions.  
Capa e prancha da primeira versão (Lombard, 1973)...

...e capa da segunda versão (M.C. Productions, 1987)

DAVID CHAUVEL E XAVIER COULLETTE, numa edição lançada em 2010 pela Drugstore e incluída na colecção "Romances Gráficos".



Rodapé - Cerca de uma dezena de adaptações para o Cinema/TV têm sido feitas desta famosa obra de Lewis Carroll. Indicam-se alguns exemplos: o primeiro foi realizado em 1933 por Norman Z. McLeod e o último (até ver) em 2010 por Tim Burton. Na Animação e pelas Produções Walt Disney, em 1951, aconteceu o filme realizado por vários, como Clyde Geronimi e Wilfred Jackson.
Também Jesus Blasco ilustrou, sem ser em Banda Desenhada, uma edição espanhola de “Alice no País das Maravilhas”.

Nosso agradecimento a Carlos Gonçalves pelo seu amigo apoio.
LB

EVOCANDO (18) - FERNANDES SILVA

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Fernandes Silva (1931-2010)
Passam hoje seis anos que Fernandes Silva nos deixou fisicamente. Grande entre os grandes da BD Portuguesa, se a sua obra não é extensa, é no entanto bem marcante pelo estilo, quase sempre na linha do humor absurdo, do qual foi um incontestável perito.
De seu nome completo António Fernandes da Silva, nasceu em Lisboa a 18 de Agosto de 1931. Frequentou a famosa Escola António Arroio. Começou a publicar-se no “República dos Miúdos “ (suplemento do diário “República”). Depois, projectou-se grandiosamente pelas páginas de “Diabrete”, “Cavaleiro Andante” (e seu “Pagem”), “Camarada” (2ª fase), “Flecha” e “Pisca-Pisca”.
Algumas das suas BD's foram reeditadas em “Cadernos Sobreda-BD” (n.º 8) e “Almada-BD Fanzine” (n.º 6).
Sua arte ia para outras vertentes mais, como ilustrações soltas, cartunes, cartazes, postais dos CTT, desenho publicitário, etc.
Afastou-se da BD, sem nunca deixar de a acompanhar e ler, tendo exercido por largo tempo o cargo de Chefe do Sector de Artes Gráficas da RTP.
Foi homenageado no salão internacional “Sobreda-BD/2000”, tendo-lhe sido atribuído o Troféu Sobredão.
Estranhamente, não há ainda, um único álbum com as suas histórias!!...
Pela sua bibliografia, contam-se:
- “Alice no País das Maravilhas”, uma encantadora versão da novela de Lewis Carroll, publicada no “Cavaleiro Andante”, com as duas últimas pranchas no suplemento “O Pagem”.
in "Cavaleiro Andante" #4

- “O Estranho Caso do Dr. Rapioca”, publicada no “Diabrete” e depois reeditada no “Almada-BD Fanzine”.
in "Diabrete" #872

- “Cuca”, um divertido petiz em altas “loucuras”. Suas peripécias saíram no “República dos Miúdos”, “Cavaleiro Andante” e no “Camarada”.
in "Cavaleiro Andante" #283

- E, no topo e em glória, as aventuras do célebre detective sem rosto, “O Ponto”. Apenas três aventuras notáveis, com as duas primeiras publicadas no “Diabrete” (a segunda foi reeditada depois nos “Cadernos Sobreda-BD”) e uma terceira que estava a ser publicada na “Flecha”, mas ficou incompleta porque esta revista acabou, de repente.
in "Diabrete" #856
in "Diabrete" #862

Recuperar em álbum as histórias deste genial artista nosso, talvez um dia, quando se recuperar a Cultura em Portugal!...
LB

Prancha 6 de "O Outro Lado da Lua"
Prancha 11 de "O Outro Lado da Lua"
Capa com desenho de Fernandes Silva, in "Cadernos Sobreda BD" #6 (1991)
Último trabalho de Fernandes Silva, que reproduzimos, com a devida vénia,
a partir de "Era uma vez..."(XXXV)

BREVES (22)

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Hermann Huppen
Hermann premiado em Angoulême

O belga Hermann, um dos autores mais sonantes da BD europeia e mundial, acaba de receber o Grand Prix d'Angoulême.
Aos 77 anos, e com mais de cinquenta álbuns publicados, o criador de séries emblemáticas como Bernard Prince, Comanche, Jeremiah ou As Torres de Bois-Maury vê, finalmente, o seu nome inscrito no Quadro de Honra do maior Festival BD da Europa.
Um prémio merecidíssimo mas que Hermann esteve quase a declinar, por culpa da onda de indignação que este ano varreu o Festival (rotulado de sexista por não nomear qualquer mulher para o Grand Prix)...
Contudo, o bom senso prevaleceu. Hermann recebeu o prémio e teve a merecida consagração pelo conjunto da sua obra, na 43.ª edição deste famoso evento. 


Martin: L'Histoire en Héritage

A obra de Jacques Martin (de quem já aqui falámos por variadíssimas vezes) será objecto de uma exposição intitulada "Martin: L'Histoire Héritage", com inauguração marcada para 19 de Fevereiro, na Huberty & Breyne Gallery de Paris.
A exposição oferece-nos um olhar de 360º pelo mundo fervilhante deste notável autor: as primeiras pranchas de Alix, em grande formato, publicadas semanalmente no Tintin belga, em 1948, bem como pranchas de Jehan ou Lefranc, entre outros, comparadas com as dos seus colegas Gilles Chaillet, Bob de Moor e Jean Pleyers. 
A mostra encerra a 19 de Março.    


João Amaral

João Amaral conta História do Museu Grão Vasco (Viseu)

Entretanto, João Amaral, depois de ver publicado na Turquia o seu último álbum, "A Viagem do Elefante" (adaptação do romance de José Saramago com o mesmo nome), tem em marcha novo projecto: nada mais e nada menos do que “A História do Museu Grão Vasco", com argumento, também, a seu cargo.
O álbum deverá ser publicado ainda este ano, por ocasião das comemorações do centenário do museu e terá chancela das Edições Quartzo.





Aniversários em Março

Dia 04: Baptista Mendes e Lorenzo Zaniratto (italiano)
Dia 05: Victor Borges
Dia 07: Miguel Rocha e Florence Magnin (francesa)
Dia 09: Alain Corbel (francês)
Dia 10: Jorge Miguel
Dia 13: João Paulo Cotrim
Dia 15: Francisco Ibañez (espanhol)
Dia 16: Carlos Gimenez (espanhol) e Agonia Sampaio
Dia 22: Jorge Magalhães e Nuno Nisa
Dia 23: Miguel Ramos
Dia 26: Ângela Gouveia
Dia 31: Kas (polaco)

NOVIDADES EDITORIAIS (86)

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BOB MORANE, INTÉGRALE 1 - Edição Lombard. Autores: Henri Vernes (argumentos) e Dino Attanasio (arte gráfica) e um dossiê-prefácio por Jacques Pessis.
As primeiras aventuras em BD de Bob Morane e de seu amigo Bill Ballantine, estão já reunidas em álbum na versão integral, primeiro tomo: “L’Oiseau de Feu”, “Le
Secret de l’Antarctique” e “La Terreur Verte”.
Indubitavelmente, três narrativas apaixonantes, cheias de mistérios insólitos e situações arriscadas para os dois heróis.
Na segunda, “O Segredo da Antártida”, há vários momentos que nos fazem lembrar (e bem!) a novela “Viagem ao Centro da Terra” de Jules Verne, o que não é nenhuma sangria desatada.
É de ler e coleccionar os integrais de Bob Morane!


JÚNIOR, JOANA E GÃO, 1 e 2 - Em simultâneo, as edições Polvo publicaram os dois primeiros tomos da série “Júnior, Joana e Gão”: Um Mundo de Aventuras” e “O Outro Mundo”, com textos de Luís Almeida Martins e arte de Pedro Morais.
Suaves e simpáticas pequenas peripécias de dois garotos, Júnior Joana, mais o seu inteligente animal de estimação, o bizarro Gão,que é um misto de gato e cão, que tem um irmão gémeo, o Cato (misto de cão e gato), que vive na Lua e que fala de um modo esquisito... Uma diversão!
Há subtis alusões a factos e/ou personagens de outras bedês. como uma brevíssima intervenção-caricatura a Dupond Dupont...
Parabéns aos autores!


LES PORTES DE FER - Edição Casterman. Argumento de Jerry Frissen e arte do holandês Paul Teng, segundo Jacques Martin.
“Les Portes de Fer” é o 15.º álbum da série “Jhen”, que tem a maioria desenhada por Jean Pleyers. O herói é o arquitecto italiano Jhen Roque, na Idade Média, que foi criado por Martin, apenas para os argumentos.
Sendo uma série belíssima, cremos que jamais foi editada em português, o que é estranhíssimo!...
Neste tomo, Jhen e o seu amigo Venceslas, regressam a França, mas em terras banhadas pelo Danúbio, são apanhados numa guerra sem quartel entre turcos otomanos e fundamentalistas cristãos. É uma feroz confusão cheia de barbaridades de parte a parte...
De notar neste tomo, a espectacular arte de Paul Teng.


QI/136 e PEQUENA BIBLIOTECA SOBRE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS/3 Edgard Guimarães, coordenador do fanzine "QI" (Quadrinhos Independentes), apresenta-nos, mais uma vez, um número recheado de interesse, com muitas colaborações e onde se inclui um artigo de José Ruy (transcrito do BDBD, sobre os jornais "O Mosquito" e "O Papagaio") e outro de Carlos Gonçalves intitulado "Jayme Cortez: um artista português que o Brasil ganhou".
Em paralelo, foi lançado o n.º 3 da colecção "Pequena Biblioteca sobre Histórias em Quadrinhos", excelente encarte com boa apresentação e informação vasta sobre o Suplemento de Quadrinhos da Folha de S. Paulo. 

A BD A PRETO E BRANCO (25) - As escolhas de Carlos Rico (11)

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Zé Paulo (Foto: Geraldes LIno)
ZÉ PAULO (1937-2008)
Zé Paulo nasceu em Lisboa.
Publicou desenhos na revista alemã "Pardon", em 1974, mas foi na "Visão" que o seu trabalho atingiu o ponto mais alto. Aí publicou "Histórias que a Minha Avó Contava Para eu Comer a Sopa Toda", "O Espantalho", "A Batalha de Rzang", "Abril Águas Mil", entre outras. A Família Slacqç (em cinco episódios) é, de todos, talvez o seu melhor trabalho.
Em 1976, publicou o álbum "A Direita com a Cara à Banda (Desenhada)", uma selecção de "Os Direitinhas", trabalho publicado inicialmente no jornal "Diário".
Colaborou com bd's no "DL Fanzine" (suplemento do Diário de Lisboa), "Fungagá da Bicharada", "Lx Comics", "Eros", "TertúliaBD Zine""Efeméride", etc.

Duas pranchas de "Encontro com o Rato Mickey", da série "A Família Slacqç" (1976)



ORESTES SUAREZ (1950)
Nascido em Cuba, é um dos maiores nomes da BD latino-americana. Desenhou séries humorísticas, semi-humorísticas, históricas ou de aventuras ("Inês, Aldo y Beto", "Trampa de Estrellas", Timur y su Pandilla", "Blito", "Camila", "Vitralitos"...), alternando, por vezes, o seu traço de acordo com o tema em que trabalhava.
Publicou em revistas como "Pásalo", "Pionero", "Zunzún", "Cómicos", "Pablo", "Mi Barrio", "Skorpio", "Lanciostory"...
Em 1994 ingressa na Sergio Bonelli Editore onde realiza mais de 1300 pranchas para Mister No, e desenha o Texone #24 ("I Ribelli di Cuba")um privilégio de que muito poucos se podem orgulhar, já que a editora reserva esta colecção para os melhores desenhadores de craveira internacional.
Primeira prancha de "Me Voy a España"in "Pablo" #1 (1985)

O "Tex" de Orestes Suarez



RUGGERO GIOVANNINI (1922-1983)
Italiano, nascido em Roma, trabalhou para o conceituado jornal "Il Vittorioso". Aí desenhou, por exemplo, as séries Jim Brady e Flash (um personagem que era jornalista fotógrafo, não o conhecido super-herói).
Trabalhou, também, para Inglaterra (onde desenhou séries como "Jim Canada", "Olac, o Gladiador", "Os Três Mosqueteiros", "Olaf, o Viking" ou "Robin Hood", entre outros) e França. A sua obra mais conhecida será "Capitão Erik".
Entre outras distinções, recebeu o troféu Il Cartoonist, na Mostra Internacional de Cartoonistas de Rapallo.

Prancha de "Le Grandi Acque"
Prancha de uma aventura de "Olac, o Gladiador"

A ILHA DO CORVO QUE VENCEU OS PIRATAS, por José Ruy (1)

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Nota prévia: 
Depois de "A Vida Interior das Redações dos Jornais Infanto-Juvenis", iniciamos hoje uma nova rubrica da responsabilidade do nosso querido amigo José Ruy.
Trata-se de uma espécie de "diário de campo", onde José Ruy nos manterá ao corrente de um trabalho que, neste momento, está a desenvolver sobre a Ilha do Corvo (Açores), situação sem dúvida invulgar na nossa blogosfera, pelo menos no que concerne a um autor tão consagrado.
Ao longo destes artigos, José Ruy mostrar-nos-á pranchas ainda em esboço, esquiços, apontamentos, notas e muitas curiosidades que recolheu na Ilha, até chegar ao resultado final, isto é, ao álbum pronto para ser lido pelo público.
Não duvidamos que esta será mais uma rubrica de sucesso no nosso blogue, em especial entre os corvinos (assim se chamam os habitantes da Ilha do Corvo) que, por certo, seguirão estes artigos com redobrado interesse.
Sem mais delongas, vamos, então, começar.
BDBD 




A Ilha do Corvo que venceu os Piratas

O cocoordenador do Ecomuseu do Corvo, Dr. Eduardo Guimarães, conhecedor e colecionador da minha obra, contactou-me para um desafio: desenvolver em Banda Desenhada um episódio histórico que celebrizou a Ilha do Corvo em 1632.
Explanou-me então o que é um Ecomuseu, por meio de um gráfico simples e claro que partilho convosco.

Palavras suas:
"O Ecomuseu do Corvo é um projeto de intervenção museológica que visa garantir a salvaguarda e a afirmação do património natural, histórico, paisagístico e cultural da ilha do Corvo, nas suas dimensões tangível e intangível, e, concomitantemente, promover o desenvolvimento local e a qualidade de vida da população. Quer
Eduardo Guimarães, numa das muitas
visitas guiadas que me fez aos locais
importantes para a banda desenhada a realizar.
dizer, não se trata de preservar de forma cristalizada e inerte o património mas sim de o mobilizar na construção de um presente e de um futuro melhor para a ilha do Corvo. O desenvolvimento local é um processo voluntário de domínio da mudança cultural, social e económica, enraizado num património vivenciado, nutrindo-se deste e gerando património.
O Ecomuseu do Corvo estrutura-se como um sistema de redes multirrelacionais que articula pólos, recursos e complexos de valor patrimonial, geridos nos respetivos contextos ecológicos e numa perspetiva de desenvolvimento social e local. A Banda Desenhada que José Ruy tem em curso insere-se neste plano".

O Arquipélago dos Açores era habitualmente assolado por piratas argelinos que faziam escravos e roubavam bens.
Numa dessas investidas, os corvinos resolveram fazer frente aos atacantes defendendo-se unicamente com pedras e rudimentares alfaias agrícolas. E de tal sorte que as dez naus pejadas de piratas foram literalmente derrotadas atribuindo-se o feito a milagre da Santa Padroeira.
Este episódio foi escrito pelo padre que testemunhou o sucedido e passado depois a letra de imprensa. O documento chegou aos nossos dias.
Empolgado com mais este desafio criei um argumento, não me circunscrevendo ao episódio histórico, mas aproveitando para descrever a maneira sub-humana como os corvinos no século XVII viviam. O Dr. Eduardo Guimarães forneceu-me vastíssima documentação e delineou deslocar-me à Ilha, que não conhecia, para colher elementos indispensáveis para a obra, o que aconteceu neste janeiro de 2016.
E como um Ecomuseu funciona envolvendo a população, tive a grata oportunidade de interagir com os simpáticos corvinos e corvinas, não só beneficiando do seu generoso contributo para o conhecimento de práticas laborais, como na escolha dos nomes para as personagens, e até nas decisões destas no decorrer do argumento. Também, pacientemente, deixaram-se desenhar, servindo de modelo para as figuras, embora as cenas se passem no século XVII. E foram muitos os preciosos depoimentos que registei.
Faço aqui a comparação do esboço de uma prancha desenhada antes de ir ao Corvo, e a mesma depois do conhecimento adquirido com a visita. Uma coisa é a ideia formada através de fotografias e outra a vivência nos locais da ação. Só desta maneira podemos dar autenticidade ao que pretendemos.
Eis a mesma página ainda em esboço, em duplicado, mas a do lado direito tem já o enquadramento real da paisagem conforme a observei no local.
Percorri os trilhos que as personagens que criei fazem na história, reconstituindo a vila como era no século XVII, com a ajuda preciosa do Coordenador do Ecomuseu e dos especialistas contactados por ele.
Por exemplo, na parte final da página da esquerda há o enterro da personagem que morre; fiz uma alteração na página da direita, pois disseram-me que na época, o caixão era levado em ombros e não por meio de um carro de bois, como mais tarde acontecia.
Irei mostrando aos  nossos leitores do BDBD como este trabalho vai decorrendo, e a participação da população da Ilha.
José Ruy
27 janeiro 2016

BREVES (23)

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"O MOSQUITO" VAI VOAR NA RTP 2
A RTP fez há poucos dias uma reportagem na sede do Clube Português de Banda Desenhada, acerca da exposição comemorativa dos 80 anos de "O Mosquito".
José Ruy e José da Luz foram alguns dos entrevistados.
A transmissão será no próximo dia 16 (terça-feira), por volta das 22:45, no programa "Literatura Aqui", na RTP 2.
José da Luz (o primeiro impressor da máquina de offset que "O Mosquito" viria a adquirir quando a tiragem aumentou significativamente) e José Ruy, visitam a exposição enquanto são captados pelas câmaras da equipa de programas da RTP. 


AINDA OS 80 ANOS DE "O MOSQUITO"

No dia 17 (quarta-feira), vão realizar-se, na Biblioteca Nacional, entre as 17:00 e as 20:00, colóquios e palestras relacionados ainda com a exposição dos 80 anos de "O Mosquito". José Ruy, António Martinó Coutinho, Carlos Gonçalves e João Manuel Mimoso serão alguns dos intervenientes.



COIMBRA BD
Eis uma excelente novidade: segundo o "Diário de Viseu", entre os próximos dias 3 e 5 de Março, vai decorrer a primeira edição da Coimbra BD, "uma Mostra Nacional que visa promover e dar a conhecer a banda desenhada e todas as actividades que com ela estão relacionadas".
A autarquia conimbricense, que pretende "colocar a cidade de Coimbra na rota dos eventos nacionais dedicados à banda desenhada", apresentará, em breve, o programa definitivo.


Foto: Madalena Alcantara







JOSÉ BAPTISTA HOMENAGEADO NO CARNAVAL DE LOULÉ
José Baptista (ou Jobat, como também assinava), banda desenhista de renome na BD portuguesa, que infelizmente nos deixou há cerca de três anos, foi alvo de uma bonita homenagem no Carnaval da sua cidade.
Um dos carros alegóricos do cortejo apresentava uma imponente caricatura de Jobat sentado ao estirador, rodeada de desenhos e capas de revistas BD, recordando, assim, a figura de um homem que dedicou grande parte da vida à chamada 9.ª Arte.
Um belo gesto da organização do evento, que aqui registamos. 

NOVIDADES EDITORIAIS (87)

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DILEMMA - Edição Lombard. Autor: Clarke (aliás, Frédéric Séron).
Este é um álbum muito especial e de alta força em desafio aos julgamentos de cada um. Não é uma obra de Banda Desenhada, com mais ou menos força rotineira...
O que é que na longínqua clássica Grécia, quatro veneráveis filósofos, na onda  do “líder” já quase lendário (Demócrito), discutindo entre si, têm a ver com o destino da Humanidade num bem distante futuro? São eles: Diógenes de Sinope, Xenofonte (sempre um tanto militarão), Platão (também conhecido como Aristócrates) e o então ainda jovem Aristóteles.
E desse futuro bem distante, com base no Determinismo apregoado por Demócrito, esse futuro virá a ferir escabrosamente a Humanidade sob a batuta de um trio
de horror: Adolf Hitler, Hemann Göring e Heinrich Himmler.
Clarke, autor absoluto desta obra tão aplaudível, obriga-nos a ler e a discutir as propostas apresentadas, e sobretudo, a tentar saber (com vã resposta) o que fazemos nesta vida...
Pois é: às vezes, a BD faz-nos destes desafios!


OLD PA ANDERSON - Edição Lombard. Autores: argumento de Yves H. (ou seja, Yves Huppen) e a arte gráfica de Hermann (ou seja, Hermann Huppen, pai de Yves).
Volta não volta, somos agradavelmente surpreendidos com obras de luxo destes geniais Huppen. Agora, na versão álbum único (“one shot”), mais uma obra de peso e acusatória: “Old Pa Anderson”. Angustiante e belíssimo!
Que benesse esperam de todos nós os Estados Unidos da América do Norte, mentalmente entupidos e convencidos que são os “divinos donos do Mundo?!...
Neste “Old Pa Anderson”, Yves recriou um realista e amargo facto daquela tipagem “made in Washington”, que quase exterminou os povos autênticos desse continente: os pele-vermelhas. E em relação aos negros, a paranóia continua...
Para já, o nosso sincero “Bravo!” a Yves e a Hermann!


PAR-DELÀ LE STYX - Edition Casterman. Argumento de Mathieu Bréda, traço de Marc Jailloux e cores de Robin Le Gall.
E cá estamos nós, felizmente, na sensata continuação da bela série “Alix” , agora com o 34.º álbum da série em questão.
O heróico Alix (gaulês romanizado) e o seu inseparável e íntimo amigo, o príncipe egípcio Enak, aventuram-se aqui e ali, para proteger o jovem nobre grego Héraklion...
Uma narrativa empolgante, com a força da mitologia greco-romana através do rio Styx, que separa e marca esta vida... e o outro lado. Pela regra, ninguém volta a atravessar o Styx para tornar à vida...
Vamos na leitura deste assunto?

 LB

TALENTOS DA NOSSA EUROPA (1)

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Nota prévia
Aqui começa hoje um novo tema do BDBD, "Talentos da Nossa Europa" (não exclusiva à confusa União Europeia), donde excluiremos os valores portugueses (que a NOSSA Europa vai do português Cabo da Roca aos russos Montes Urais e da república-ilha da Islândia à república-ilha de Malta), porque os nossos estão sempre constantes nos nossos horizontes e nas nossas apostas concretas. Esclarecidos?
Nestes talentos europeus, focaremos valores-BD que, em certos e maioritários casos, são quase nada conhecidos ou publicados em Portugal, por absoluta miopia das nossas editoras-BD... Queixem-se agora!
Aí vamos com a nossa primeira escolha, que nesta primeira fase, comportará vinte talentos.



Jean Pleyers 
JEAN PLEYERS (Bélgica)
Nascido na cidade belga de Verviers a 27 de Junho de 1943, é um  talento admirável e digno seguidor do estilo de seu mestre, o francês Jacques Martin.
É justamente famoso e digno de admiração pela sua já extensa obra produzida e não só pela sua linha “martiniana”...
Cresceu num mundo artístico: seu pai era escultor e sua mãe era música. Ele, por sua vez, instruiu-se na cidade de Liège, tão famosa pelas suas Artes.
E começou muito cedo a sua aventura entusiasta pela Ilustração e pela Banda Desenhada, com as oportunidades de se ir sempre publicando aqui ou ali, sempre atento a melhorar-se e nuns constantes aperfeiçoamentos.
Um dia, já com obra feita e demonstrada, mestre Jacques Martin reparou nele e encarregou-o de desenhar a série “Jhen” (chamada “Xan” na primeira versão dos dois primeiros tomos), um herói (arquitecto italiano) em plena Idade Média europeia. A série (incrivelmente não apostada pelas editoras portuguesas!), já tem mais de uma dezena da álbuns, com uma maioria desenhada por Pleyers.

Por sua vez, na série pedagógica paralela “As Viagens de Jhen”, apenas um tem ilustrações de Pleyers, o oitavo: “Gilles de Rais”. Justamente,o famoso Gilles de Rais, que foi um tenebroso personagem nos três primeiros tomos desta série (da qual já existe um integral...em francês): De Rais, é figura real, foi amigo pessoal de Joana d’Arc, um condestável heróico e também amigo pessoal do ficcionado Jhen Roque, mas também um cruel e tenebroso pedófilo. Uma realidade terrivelmente amarga, mas histórica!...


Mas Jan Pleyers tem mais obra valorosa.
Ainda sob o “clima Jacques Martin”, apostou-se na série “Keos” (por ora, apenas com três tomos), localizado no entusiasmante Antigo Egipto.



Todavia e mesmo assim, há  outras “loucuras maravilhosas” pela arte de Jean Pleyers:
- “Les Êtres de Lumières”, em dois tomos (“L’Exode” e “Le Péril Extrazorien”), como autor total e versando a ficção-científica.




- “Giovanni”, uma bela e atrevida série “medieval” em três tomos. Olá, se é atrevida!...
 
 

- “Les Crânes de Cristal” é, até agora, o único tomo da série de ficção e insólito, sob o nome de “Salt”. Continuará?...


Quem tem a coragem e o bom senso de editar Jean Pleyers em Portugal?
LB

OBRAS RARAS (3)

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Noël Gloesner (1917-1995)
MAUPRAT
Embora relativamente conhecido em Portugal, Noël Gloesner (1917-1995), é um dos mais perfeitos desenhistas da Banda Desenhada Francesa. A sua obra “Mauprat”, baseada num romance da escritora George Sand, foi inicialmente publicada na revista “Djin” em 1980/1981.
Com quarenta e oito pranchas, só em 2008 conheceu a versão álbum (quase esgotada) pelas Éditions du Triomphe. É uma obra exemplar de arte gráfica, que não se encontra facilmente.
Na bibliografia de Gloesner, contam-se títulos como “Boule de Neige”, “Sissi”, “Jane Eyre”, “Mademoiselle Demi-Solde”, “Dolores de Villafranca”, “Marie Antoinette” e, sobretudo, a deslumbrante obra-prima, “Perdida na Tempestade”, publicada no “Cavaleiro Andante”com pleno êxito, que tem dois títulos nas respectivas versões francesas: “Mademoiselle Ci-Devant” ou “Les Enfants de la Tourmente”... Consta que esta obra de alta excepção, nem em França foi editada em álbum!!!... Será?
Se “Les Enfants de la Tourmente”, como álbum, se encontra ignobilmente no esquecimento, em França e em Portugal o álbum “Mauprat, em francês, talvez ainda possa ser achado...








René Giffey (1884-1965)
CINQ  MARS
Foi pelos anos 40 (século XX) que René Giffey (1884-1965),criou com o seu fino e elegante traço, a obra “Cinq Mars”, com base no romance homónimo de Alfred de Vigny. O enredo, tal como o romance original, tem muitas falhas históricas e está, por apetite novelesco,  com as mesmas falhas. Porém, o traço de Giffey, é pura e simplesmente... maravilhoso!
Esta obra-BD foi publicada em álbum, em 1978, pelas Éditions Glénat.
Na bibliografia de René Giffey, contam-se, entre outras obras, os títulos : “Vidocq”, “Les Misérables”, “Le Capitaine Fracasse”, Buffalo Bill”, “Surcouf”, “Les Compagnons de Jéhu”, etc.







José Manuel Soares (1932)
A ALA DOS NAMORADOS
Com argumento de Artur Varatojo e segundo a obra do escritor Campos Júnior (Luiz de Camões, A Estrela de Nagasaqui, A Filha do Polaco, Santa Pátria, Pedras Que Falam, etc), o nosso digno artista José Manuel Soares, que há longos anos se encontra rigorosamente acamado, criou com o seu belo e rigoroso traço, esta obra em BD (segundo Campos Júnior/Artur Varatojo), “A Ala dos Namorados”, que foi originalmente publicada em 1956 no “Cavaleiro Andante”, do n.º 218 ao 249.
Em 1985, saiu finalmente em álbum pelas edições Futura, com uma capa espantosa e explicita do próprio mestre José Manuel Soares. Teoricamente, este precioso álbum da BD portuguesa, está considerado como... “esgotado”. Estará?
Na grata bibliografia de José Manuel Soares contam-se títulos, como “De Angola à Contra-Costa”, “Zeca”, “A Lenda do Palácio de Cristal”, “O Morcego de Veludo”, “Luís de Camões”, “Rasto de Fogo”, etc.
LB



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