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Channel: BDBD - Blogue De Banda Desenhada
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NOVIDADES EDITORIAIS (77)

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TUNGSTÉNIO - Edição Polvo. Autor: Marcello Quintanilha.
Pela série de nove álbuns Sept Balles Pour Oxford (ed. Lombard), já conhecíamos o traço firme do jovem brasileiro Marcello Quintanilha (residente em Barcelona). Depois, tivemos o prazer de o conhecer pessoalmente nos primeiros dias do Festival BD de Beja deste ano. Aqui foi então lançado e apresentado ao bedéfilo português o álbum “Tungsténio”, publicado no Brasil em 2014 e, neste ano que decorre, com edições em Portugal, Espanha e França.
É uma obra forte, amarga, marcadamente realista e com alguns laivos de romantismo. Os três temas que se entrelaçam estão admiravelmente marcados na força do preto-e-branco, pelo traço belo e feroz de Quintanilha.
O nosso aplauso pleno!

LE GÉNIE CRÈVE L’ÉCRAN - Edição Lombard. Argumento de De Groot e arte de Turk.
Este tomo é o 46.º álbum da impagável e tão divertida série “Léonard”. Sempre com a eterna “guerrilha” do irascível e velho inventor Léonard e o seu mártir discípulo Basile, com as frequentes participações da cozinheira, do gato e da ratinha.
É uma obra salutar, belo remédio para os sisudos e os resmungões.
Mais uma vez, De Groot e Turk estão de parabéns.

LA MÉMOIRE DES NOYÉS - Edição Bamboo (Grand Angle). Autor: Jack Manini, segundo uma história original de Patrick Ordas e Patrick Cothias.
La Mémoire des Noyés é o terceiro e último tomo da série “S.O.S. Lusitania”, focando com uma necessária ficção, aspectos vários da tragédia naval e autêntica do traiçoeiro afundamento em 1915 no Oceano Atlântico, entre os Estados Unidos e a Inglaterra, do transatlântico “Lusitania” por um submarino alemão.
Quem traiu quem, para que esta tragédia tivesse lugar ceifando tantas e tantas vidas? Será que o espírito dos afogados ainda pode reclamar por um ajuste de contas?...

CUMBE - Edição Polvo. Autor: Marcelo D’Salete.
Brasileiro, este autor e desenhista tem obra publicada em vários países, além de participações suas em diversas festas (exposições, salões e/ou festivais) de Banda Desenhada.
Neste belíssimo álbum, “Cumbe”, se narram situações cruéis e de subentendidas vinganças, mesmo para além de mal escondidas histórias de amor, situações “infernais” que os escravos negros, sobretudo oriundos de Angola e do Congo, sofriam num Brasil luso-prepotente (mas era assim a época...).
Hoje, em teoria, o esclavagismo já não existe. Não?!... Marcante, este disfarçado sistema ainda é usado por muitas nações “árabes”, pois muito ingénuo africano que vai piamente em peregrinação a Meca, “desaparece” e não torna mais!... Mas há por aí muita hiena com forma humana que só sabe vociferar contra os portugueses, os espanhóis, os franceses, os holandeses, os ingleses, etc. Que pena que tal visão tenha os olhos desviados um do outro!
Contudo, “Cumbe”, é uma obra que deve ser lida.

ZITS EM CONCERTO - Edição Gradiva. Autores: Jerry Scott e Jim Borgman.
Hilariante! Simplesmente... hilariante!
O personagem central desta série, o jovem Jeremy, tem muitas afinidades com o popular Gaston Lagaffe. São ambos preguiçosos, aparentemente ingénuos, dorminhocos, desleixados e desarrumados, aptos em criar situações em que qualquer um “sai dos carretos”. De resto, Jeremy leva a vantagem de ser muito mais comilão que Lagaffe. Cada um no seu universo, um tanto paralelo e tangente, a nível de pódio, ganhariam ambos o primeiro prémio em ex-aequo.
Sempre que lemos um álbum desta divertidíssima série “Zits”, ficamos tristes quando ele chega “ao fim”. E agora? Quando é que vem o próximo?
LB

A BD A PRETO E BRANCO (24) - As escolhas de Luiz Beira (14)

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PEDRO MASSANO (1948).
Nascido em Lisboa, é um dos admiráveis veteranos da BD Portuguesa. Tem obra sua dispersa em jornais e revistas. Amante da Música (especialmente a clássica) e ilustrador de força, da sua bibliografia, salienta-se "Mataram-no Duas Vezes", "Missão H...Orrível", as séries "Os Passarinhos", "O Abutre" e "Dick Tetiv", a incompleta narrativa "Contacto em Lisboa", "A Conquista de Lisboa", "Angola 1971", etc, para além do seu volume, de bom ensino, "A BD Continua (Porquê?) - Como Fazer Banda Desenhada".

Tiras de "Contacto em Lisboa" (in "Eco Regional")
Prancha de "Angola 1971"




VALENTIN TÁNASE (1945).
É um dos mais notáveis e internacionais desenhistas da Roménia. Belíssimo no traço e nas suas "ousadias" (por alguns temas), infelizmente quase nada conhecido em Portugal, que se deslumbra mais em louvaminharalguns "valores na moda"...
Valentin é um grande mestre no preto-e-branco. Como exemplos: "Inspectorul Florentin", "Morgan", "Temerarii Spatiului", etc, em diversos temas, incluindo o político, o western e o erótico.

Prancha de "A L'acostage"
Prancha de "Inspectorul Florentin"





WILLIAM VANCE (1935).
Cidadão belga, William Vance é um dos "deuses" da BD, não só europeia como mundial. Qualquer obra com a sua arte, cilindra-nos. E ela é bem imensa e gloriosa. Exemplos do seu traço mágico: "Ringo", "Bob Morane", "Howard Flynn", "C'Étaient des Hommes","Ramiro", "Bruno Brazil", "Bruce J. Hawker", "Les Rois Vagabonds" e por aí adiante...


Prancha de Bruno Brazil em "Os Olhos Sem Rosto"
Prancha de "Les Entrailles du H.M.S. Thunder", in revista "Hop!" #56

BD E HISTÓRIA DE PORTUGAL (9) - PEDRO ÁLVARES CABRAL

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Aqui nos toca hoje, com todo o respeito e admiração, lembrar esse grande e ilustre varão da História de Portugal, que foi PEDRO ÁLVARES CABRAL, nascido em Belmonte (em 1467 ou 1468) e falecido em Santarém em 1520, onde está sepultado.
Quase desprezado em Portugal, é admirado em absoluto no Brasil... Apesar de tudo, para além de ter figurado em selos e em notas monetárias tanto em Portugal como no Brasil, tem estátuas em Lisboa (que foi oferecida pelo Brasil), Belmonte e Santarém e, no Brasil, em Porto Seguro e em S. Paulo (Vila Mariana).
Pergunta-se agora: porque se fala tanto de Vasco da Gama, ofuscando a “missão” especial de Cabral?!... Teoricamente, Pedro Álvares Cabral terá “descoberto” o hoje Brasil, a 22 de Abril de 1500... Descobriu ou, intencionalmente, achou e confirmou tais terras para a Coroa Portuguesa?... A esta gloriosa navegação de Cabral, deveríamos chamar de “A Enigmática e Secreta Vagem de Pedro Álvares Cabral”... antes de prosseguir para a Índia. O resto compete à pertinente investigação de cada um.
Todavia, atente-se nisto: o “Brasil”, ou seja, as terras da América do Sul, segundo bem antigas “indicações”, já teria sido descoberto e visitado por arrojados navegadores fenício-cartagineses, bem antes da era cristã. Mais inquietante ainda, com pertinência ou especulação, no exemplar nº 19 da revista “Planeta” (Março-1974, S.Paulo, Brasil), consta um estranho e vasto artigo, “Quem Construiu as Sete Cidades?”, assinado por Antonio Zago, que, só para espevitar, diz assim no seu “resumo” inicial:
“Quando os fenícios chegaram ao Brasil há 3 mil anos, Sete Cidades já era apenas ruínas. Quem a teria construído?"...
Como é?!... E este assunto parece não ter nada a ver com as misteriosas e gigantescas pinturas extraterrestres que se observam do ar em Nazca (Peru e países vizinhos)...
De qualquer modo, bons séculos volvidos, pela Europa (corrigimos, por Portugal), já se “sabia” dessas terras ocidentais no Atlântico sul. Foi pois altamente conveniente a firme “política de sigilo” imposta por D. João II. Antes de 1500, quantas vezes se terão, secretamente ou por mera ousadia navegadora, aventurado por essas paragens os nossos corajosos homens das “caravelas”?!...  Como se isto não fosse apenas mera fantasia de ocasião, houve a firme imposição de D. João II, o “Príncipe Perfeito”, exigindo no Tratado de Tordesilhas, que o meridiano da “divisão” de terras a descobrir por esses mares, tais terras seriam até 370 léguas (e não 100, como queria Castela) a oeste do arquipélago de Cabo Verde...
D. João II (tomara nós termos hoje governantes deste calibre!) sabia muitíssimo bem o que salvaguardar e registar para o seu Reino. Porém, as glórias de Gama e de Cabral vieram a caber ao seu sucessor, D. Manuel I. Convém ler as obras referentes de doutos historiadores nossos, como Damião Peres, Jaime Cortesão, etc. A famosa “Carta” de Pêro Vaz de Caminha, é outra boa achega...
Cabral esteva pois designado para uma “missão secreta” antes de prosseguir até à Índia. Para sempre lhe caberá o ser o comandante do Achamento do Brasil.
Cabral era tido em grande conta na Corte, mas veio a desentender-se com D.Manuel I e afastou-se da Corte e de “serviços oficiais”, morrendo quase ignorado na capital da região do Ribatejo.
Só não se entende - que estranho! - a razão da ausência do nome de Cabral em “Os Lusíadas”!... Que bizarro “esquecimento” de Camões!...

A Banda Desenhada tem feito belas honras a Cabral.
Em Portugal, por Baptista Mendes...
"Pedro Álvares Cabral", por Baptista Mendes, in "Por Mares Nunca Dantes Navegados", Edições Futura (1983)

José Ruy...
"Nicolau Coelho", por José Ruy, "Editorial de Notícias" (1997)


José Garcês e A. do Carmo Reis (“História de Portugal em BD”)...
"A Grande Aventura" (volume 2 de "História de Portugal em BD"),
por José Garcês e A. do Carmo Reis, "Edições Asa" (1986)

Vítor Péon...
"Pedro Álvares Cabral, o Descobridor do Brasil", por Vítor Péon, in revista "Tintin" #12 (1968)

Manuel Pinheiro Chagas (texto) e Artur Correia (desenhos e adaptação) em “História Alegre de Portugal”...
"História Alegre de Portugal" (volume 1), por Artur Correia (adaptação e desenhos)
segundo o texto de Manuel Pinheiro Chagas, "Bertrand Editores
" (2002/2003)

...António Gomes de Almeida (texto), ainda com ilustrações de Artur Correia, em “Os Descobrimentos a Passo de Cágado”...
"Os Descobrimentos a Passo de Cágado", por Artur Correia e António Gomes de Almeida, "Bertrand Editora" (2011)

...e o próprio Artur Correia, a solo, em “A Rota”...
"A Rota", por Artur Correia (inédito, 2000)

António Martins (“A Aventura de Cabral ou a Invenção do Brasil”)...
“A Aventura de Cabral ou a Invenção do Brasil”, por António Martins,
edição da Câmara Municipal de Santarém (2001)

...e José Pires (a solo) em “Pedro Álvares Cabral e o Brasil”...
"Pedro Álvares Cabral e o Brasil - Da Serra da Estrela à Costa do Descobrimento",
por José Pires, "Âncora Editores" (2006)

... ou em parceria com o argumentista Nuno Calado em "Ventos de Glória, Marés de Infortúnio"...
"A Viagem de Pedro Álvares Cabral - Ventos de Glória, Marés de Infortúnio",
por José Pires (desenhos) e Nuno Calado (texto), "Terramar" (1998)

...registando-se ainda as ilustrações de Oriana Gomes em “Chamo-me... Pedro Álvares Cabral”, com texto de Manuel Margarido...
"Chamo-me Pedro Álvares Cabral", por Manuel Margarido (texto) e Oriana Gomes (desenhos),
"Didáctica Editora" (2011)
... e "A Minha Primeira História de Portugal", com ilustrações de Fernando Bento para um texto de António Manuel Couto Viana.
"A Minha Primeira História de Portugal", por Fernando Bento e António Couto Viana, "Editorial Verbo" (1984)

Do BRASIL, consta-nos, até agora, “O Descobrimento do Brasil” (ed. da EBAL), pelo ítalo-brasileiro Nico Rosso, com capa de Antônio Euzébio.
“O Descobrimento do Brasil” por Nico Rosso, com capa de Antônio Euzébio (ed. EBAL)


..."O Paraíso das Índias" (da série "Capitão Brasil"), por Juliano,publicado apenas no site deste personagem...
"O Paraíso das Índias", por Juliano, in http://capitaobrasil.com.br/hq-descobrimento-do-brasil/ (2013)

Claro que as produções Walt Disney não poderiam deixar de assinalar este tema, especialmente com um personagem como Zé Carioca nas suas fileiras... 
"Zé Carioca Descobriu o Brasil", por vários autores, in "Almanaque do Zé Carioca" (2.ª série), Editora Abril (2013)

Também a famosa série brasileira "Sítio do Picapau Amarelo" teve - sem surpresa - uma aventura com esta temática... 
"Você Sabia? #5 - Quem Descobriu o Brasil?", por vários autores, Editora Globo (2007)

Se mais houver, aqui tal acrescentaremos.
Desde já, o nosso sincero agradecimento aos apoios prestados por Geraldes Lino, Baptista Mendes, José Manuel Vilela, Artur Correia, José Ruy, José Garcês, José Pires, Juliano e Câmara Municipal de Santarém.
LB

A VIDA INTERIOR DAS REDAÇÕES DOS JORNAIS INFANTO-JUVENIS, na memória de José Ruy (10)

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No artigo anterior contei dos recursos às técnicas dos processos gráficos para resolver problemas surgidos na alteração do sistema de impressão do jornal, agora suplemento de revista.

A REDAÇÃO DE O "CAVALEIRO ANDANTE"

O meu primeiro contacto com esta redação foi um pouco estranha. Estava a elaborar uma história que destinava para "O Mosquito", uma aventura passada em África, sobre um caçador em situações de perigo com tribos aguerridas, quando o Diário de Notícias lançou o "Cavaleiro Andante". 
Adolfo Simões Muller
Após alguns números publicados, o seu diretor, Adolfo Simões Müller, dirigiu no jornal um apelo aos jovens que tivessem alguma habilidade para o desenho que enviassem as suas histórias pois teriam a possibilidade de serem aceites como colaboradores.
O Teixeira Coelho com quem nessa altura partilhava um dos vários ateliês que tivemos em conjunto, alvitrou-me que fosse ao novo jornal mostrar o trabalho, que ele achava já com nível. Além disso ali poderiam pagar melhor a colaboração do que n’O Mosquito, e teria mais projeção. Como tinha meia dúzia de pranchas prontas, fiz um rolo e fui ao Diário de Notícias procurar a redação do "Cavaleiro Andante". Subi ao segundo andar conforme me indicaram e deparei com uma pequena sala onde uma senhora se encontrava a uma secretária. Soube depois que era a Dr.ª Maria Amélia Bárcia, secretária do Dr. Simões Müller.
A capa de Fernando Bento
no primeiro número do jornal
Disse ao que ia, esbocei desenrolar os originais, mas ela, sem se levantar disse para os deixar assim mesmo acondicionados sobre um maple, o segundo móvel existente no gabinete, pois o Dr. Müller quando chegasse mais tarde, logo os veria e me contactava.
Despedi-me e aguardei uma resposta. Passou uma semana sem qualquer sinal, se sim se não. Deixei passar mais outra semana e comentei com o Teixeira Coelho o estranho da situação. Pensei que tinham perdido o meu contacto e resolvi ir até lá.
Quando entrei no gabinete onde se encontrava à secretária a secretária do diretor, vi o rolo dos originais, no mesmo sítio, repousando no maple conforme o havia deixado.
Apercebi-me de que o apelo feito para angariar colaboração era uma coisa muito vaga, e passadas duas semanas nem sequer haviam desembrulhado o meu material para terem uma opinião. No contacto que deixara figurava o meu nome, que por certo conheceriam como colaborador d’O Papagaio e da "Flama" durante alguns anos. Um jornal precisa estar atento ao que se faz na concorrência, e antes de o "Cavaleiro Andante" já tinham editado o "Diabrete" e durante muito tempo. Não eram novos no ofício.
A Dr.ª Maria Amélia Bárcia disse então que o Dr. Müller ainda não tinha tido vagar…
Achei o facto inusitado, pelo menos deviam ter guardado os originais e espreitar o pacote para ver se valia a pena. Delicadamente, disse que precisava de fazer umas alterações, se podia levá-los de volta. Ela disse logo que sim, parecendo-me até aliviada. Seria menos uma tarefa que tinha para resolver.
O Coelho também achou o procedimento muito estranho e ficou resolvido publicar a história n’O Mosquito: chamei-lhe «O Reino Proibido».
Prancha de "O Reino Proibido"
Cerca de um ano volvido fui convidado a fazer parte da equipa de uma revista semanal de atualidades e notícias, ainda em preparação, «A Esfera» edição do Diário de Notícias. Pretendia ser um contraponto ao «Século Ilustrado». A minha função seria desenhar cabeçalhos, ilustrações e arranjos gráficos. O Teixeira Coelho foi convidado como grande desenhador de fundo. O seu diretor era o Dr. Leitão de Barros. Foi assim que ingressei na empresa e entretanto me especializei em Rotogravura.
Exercia já funções nesse departamento gráfico enquanto a revista não saía, quando numa manhã entrou na secção o Dr. José Gonçalves, dono principal do jornal e grande entusiasta das Histórias em Quadrinhos, impulsionador das publicações infanto-juvenis da empresa, principalmente de o "Cavaleiro Andante". Nessa altura encontrava-me a fazer histórias ilustradas nas edições «Fomento de Publicações L.da» e o José Gonçalves quando me viu perguntou-me à queima-roupa por que razão estava a fazer desenhos para a concorrência e não para o "Cavaleiro Andante", sendo funcionário da casa.
Numa fração de segundo raciocinei que não podia dizer que a minha colaboração não tinha tido interesse da parte da direção do jornal, e ocorreu-me uma maneira airosa de sair da situação: o "Fomento de Publicações" pagava por prancha 250 Escudos enquanto o "Cavaleiro Andante" pagava 200 Escudos. Apresentei essa questão como motivo. O José Gonçalves retorquiu se era só por isso e me pagassem o mesmo, estaria disponível para colaborar no jornal. Retorqui que sim, e então respondeu-me que mais tarde passasse pela redação d’O Cavaleiro Andante.
Esperei a minha saída do serviço para então me dirigir à redação que era no mesmo edifício, na Avenida da Liberdade em Lisboa, quando pouco depois recebi uma chamada do Müller, se podia ir ao seu gabinete. Lá fui, com a bata branca que todos usávamos no departamento gráfico e recebeu-me com sorriso rasgado e mão estendida. O José Gonçalves havia-lhe falado de mim por isso queria convidar-me a fazer uma história para um número especial do "Cavaleiro Andante" a sair em breve.
A redação tinha mudado de gabinete para uma sala maior, onde além da Maria Amélia Bárcia trabalhavam o Fernando Passos que escrevia contos e fazia traduções, e o Artur Correia que desenhava para o suplemento «Pajem». Era primo do chefe da sala de desenho do Diário de Notícias e fora este que o colocara na empresa. Em boa altura.
Logo nessa noite comecei a pensar num argumento e resolvi fazer a história de «Gutenberg» que foi aceite com agrado. Mas à cautela não entreguei os originais enrolados…
A história foi impressa alternando as páginas com duas cores e só uma. Ao lado, esse número especial com a capa desenhada por Fernando Bento.
Já agora explicarei como a história foi reproduzida. Este número especial de outono d’O Cavaleiro Andante tinha uma parte impressa em Rotogravura e outra em Offset. A minha história «Gutenberg» calhou ser destinada ao caderno impresso em Rotogravura, secção onde eu trabalhava e fazia já algumas experiências nessa técnica. Este processo consegue a singularidade de com uma única impressão produzir o efeito de duas cores. E com duas cores, o resultado de três.
O verde na sua máxima intensidade (o desenho a traço) funciona como um preto, mas nas meias-tintas que lhe sobrepusermos abre a cor, como se pode ver na imagem do meio.
Na da esquerda, o verde/preto junto com o vermelho e quando as duas meias-tintas se sobrepõem consegue-se um acastanhado; assim com duas cores temos um resultado igual ao do Offset com três cores, o «preto», o vermelho e o verde com castanho obtido pelas sobreposições.
Como consegui esses meios-tons? «Aguarelando» com uma tinta especial, «Neococcina» sobre a película do fotólito onde estava reproduzido o desenho só a traço. Noutra película branca fiz os meios-tons equivalentes ao vermelho, manualmente sem intervenção fotográfica, e a cor forte, com «fotopak», um produto muito opaco próprio para pintar sobre a película. Depois foi tudo gravado no cilindro de cobre.

A partir desta história fiquei também colaborador residente do próprio jornal semanário.
A base da colaboração era de origem franco belga e da parte portuguesa havia o Fernando Bento, o José Garcês, o José Manuel Soares, o Artur Correia e eu. Mas foram aparecendo outros desenhadores. Esta redação afigurava-se-me fria, tudo era tratado à distância, não havia reunião com os autores para debate dos temas a fazer nem uma estratégia de planificação, no entanto a força do material importado mantinha o jornal em equilíbrio estável. A alma daquilo tudo era o José Gonçalves, dele vinham as ideias que o Simões Müller punha em prática. Este era um poeta, sonhador, delicado mas frio no sentido do entusiasmo e entrega ao jornal, se compararmos com a redação de "O Mosquito".
A ideia de criar aquele jornal foi do José Gonçalves, para escoar excedente de papel…
(Continua)

No próximo artigo: PORQUÊ E COMO FOI CRIADO O "CAVALEIRO ANDANTE" 

DE ACTORES A HERÓIS DE PAPEL (8): OS TRÊS ESTAROLAS

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Rigorosamente espalhafatosos e disparatados, eles, The Three Stooges, eram conhecidos em Portugal como Os Três Estarolas e no Brasil, como Os Três Patetas.
O curioso é que, se foram loucamente divertidos nas suas doideiras, para eles próprios foram sofredores heróis para a respectiva sobrevivência.
E, ao fim e ao cabo, não foram trêsmas seis e quase terá havido um sétimo... Isto pelo Cinema, claro. Só mais tarde lhes chegou também a Televisão, o Cinema de Animação e a Banda Desenhada (que teve, para além dos Estados Unidos, revista própria, traduzida, no Brasil pela EBAL).
Fizeram inúmeras curtas-metragens que passavam, quase sempre, antes do filme normal em cartaz. No Moçambique, ainda português, isso era frequente. E, se muitos adultos os achavam sem nexo, a garotada e os adolescentes deliravam com tanta loucura.
Também foram protagonistas de várias longas-metragens (algumas foram exibidas em Lisboa), como "Os Três Estarolas em Órbita", "Branca de Neve e os Três Estarolas", "Os Três Estarolas na Volta ao Mundo", "Os Três Estarolas Encontram Hércules"...
Mas  não tiveram uma vida e carreira fácil. Para nos divertirem com as suas absurdas folias, sofreram bem na vida real... De todo o elenco, os sempre fixos, foram, MOE HOWARD (o da franjinha, 1897-1975) e LARRY FINE (o do
cabelo encaracolado, 1902-1975). O primeiro do número três, foi o irmão de Moe, SHEMP HOWARD (1895-1995). Este trio estreou-se no filme Soup of Nuts (1930).
Em 1932, Shemp retirou-se para seguir uma carreira a solo. Foi substituído por outro irmão, CURLY HOWARD (1903-1952). Mas este vem a sofrer um derrame cerebral e... (claro!) Shemp volta ao trio, provisoriamente, sendo substituído por JOE BESSER (1907-1988), como o terceiro "Estarola".
Mas, por outras amargas e trapaceiras jogadas do Destino, acaba por ser JOE DE RITA (1909-1993) a definir-se no elenco. Já antes, um tal JOE PALMA (1905-1994), participara, sem dar o rosto, tendo sido sugerido para ficar definitivo, mas não foi.
Por fim, com o "trio" novamente reduzido a dois, foi indicado EMIL SITKA (1914-1998)... que foi aceite, chegou a filmar, mas é a vez de Moe Howard adoecer e falecer.Tudo acabou aí!
Em 1963, o trio teve breve e especial participação nos filmes "O Mundo Maluco" de Stanley Kramer e "Quatro para o Texas" de Robert Aldrich.
Em 2012, Bob e Robert Farelli realizaram o filme biográfico, The Three Stooges.
Em 1950, Norman Maurer e Pete Alvarado criaram para o papel, The Three Stooges Comics. Mas não foram os únicos... E chegaram mesmo a aparecer com outras características, como pérfidos bandidos, pelos artistas Don Perlin, Alan Kupperberg e Randy Emberlin.
Claro que pela Banda Desenhada, mesmo na sua habitual versão cómica, a graça louca dos Três Estarolas ficou bem distante das versões para o Cinema e para a Televisão.
LB
Pranchas de "99 44/100 Puritan", por Norman Maurer
Prancha de "Restaurant Ruckus"
Prancha de "Nuts!", por Norman Maurer
Capa e prancha de "Os Três Patetas", in "Papai Noel" #6 (IV série) (1975)

Prancha de"Moe's Stooge Trick", por Pete Alverado
"The Three Stooges" parodiados numa aventura de Batman, por Jack H. e Chris N.
Larry e Moe "dão a cara" a dois bandidos numa história criada por
Terry Austin e Brent Anderson, in "Power Pack" #21 (1986)
Terry Austin, Mark Badger e Whilce Portacio
criaram uma sequela desta história, in "Power Pack" #46 (1989)
Paródia aos The Three Stooges", por Tom Tomorrow, na série "This Modern World"(1992)
Tim Buckley também utilizou estes personagens para criar este cartune
Capas da revista "The Three Stooges" #1 e #2 (Ed. Papercutz, 2012)

Pranchas de "Bad Bugged", por Stan Goldberg, in "The Three Stooges" #1
"The Three Stooges" são personagens na série "Cerebus", por Dave Sim e Gerhard

Rodapé: Recentemente começou a ser produzida uma série de animação versando Os Três Estarolas. Será para a Televisão e o Cinema, esperando participar no Festival Internacional de Animação de Annecy (França).


BREVES (12)

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AMADORA BD JÁ MEXE...

O Festival de Banda Desenhada da Amadora está já aí à porta. A pouco mais de dois meses da abertura (23 de Outubro), a organização fez saber que o tema deste ano é dedicado à Criança na BD, assinalando assim o centenário de Quim e Manecas, personagens incontornáveis da banda desenhada portuguesa criadas por Stuart Carvalhais.
Como sempre, o festival promove os já tradicionais concursos, cujas principais normas do regulamento podem ser consultadas aqui.


VIRIATO EM VISEU
A 30 de Agosto (instituído como Dia de Viriato pela autarquia viseense), decorrerá a inauguração da exposição "Viriato na Banda Desenhada", pelas 16:00 horas, na Feira de São Mateus.
De seguida, será feito o lançamento de "Viriato", de José Garcês, recuperação em álbum de uma obra publicada no "Cavaleiro Andante", entre 1952 e 1953 (por sinal, o primeiro trabalho realizado pelo autor para esta revista).
Ainda nesse dia, terá lugar uma merecida sessão de homenagem a Garcês, onde lhe será entregue o Prémio Especial Anim'Arte BD (Gicav) 2015.
A exposição decorrerá até 13 de Setembro.







UM NOVO ASTÉRIX

Vai ser lançado mundialmente e em simultâneo, o 36.º álbum da série “Astérix”, no próximo dia 22 de Outubro.
Com o título “O Papiro de César”, tem argumento de Jean-Yves Ferri e arte de Didier Conrad.
No nosso País, haverá a edição em português e outra em mirandês.


FALECEU  COYOTE
Coyote (1962-2015)
Por paragem cardíaca, faleceu no passado dia 9, o desenhista francês Coyote (aliás, Philippe Escafre), nascido em Rodez a 9 de Outubro de 1962.
Apaixonado por motos, notabilizou-se sobretudo na equipa da revista “Fluide Glacial”. Na sua bibliografia, contam-se as séries “Little Kevin”, “Les Voisins du 109” e “Diego de la S.P.A.”, e o álbum único, “La Belle et les Bêtes”.
"Litteul Kévin" e "Les Voisins du 109", duas séries marcantes na carreira de Coyote

PELA BD DOS OUTROS (18) - A BD DA ROMÉNIA

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Localização da Roménia na Europa
Sobretudo alicerçada na antiga Dácia, a Roménia é uma república europeia, que se pode muito bem incluir nas nações latinas do nosso continente. E nela se regista uma rica e agitada História. Daqui, a figura máxima será certamente o rei dácio Decébalo que, num último gesto heróico ante as imperialistas legiões de Roma, preferiu suicidar-se a entregar-se vivo. Briosamente, não quis seguir os trágicos
exemplos do gaulês Vercingetorix e do numida Jugurta, tendo também escapado ao exemplo do vil assassinato do lusitano Viriato.
Com a capital em Bucareste, pertence à União Europeia e à OTAN, tendo como moeda o leu. Comporta os mais variantes aspectos da Cultura.
Na Literatura, o mais famoso romancista (pelo menos em Portugal) é Virgil Gheorghiu (“A 25.ª Hora”, “”A Chibata”, “A Única Saída”, “Perahim”, etc), mas com notoriedade estão vários outros como, Emil Cioran, Mihai Eminescu, Florentin Smardache, os poetas Vasile Alecsandri, Isidore Ison e Tristan Tzara e os dramaturgos Ion Luca Caragiale e Valentin Nicolau.
Na Pintura, notificamos Daniela Anghel e Theodor Pallady. Há ainda os cineastas Christian Mungiu, Sergiu Nicolaescu, Radu Mihâileanu e actores como, Joana Benedek, Jean Constantin, Joseph Schmidt, Maria Filotti, etc.
Saltando para o mundo da banda desenhada romena, que é vasto, variado e pleno de valores, temos...
Dodo Nitá
À cabeça e com belas glórias, está o incansável Dodo Nitá, investigador, historiador de BD, editor, organizador do anual salão internacional de BD da Roménia e um “apaixonado” por Portugal (esteve duas vezes no Salão da Sobreda, outra no Salão de Viseu e, neste 2015, no de Beja). Na sua obra de aplauso, contam-se as monografias de alguns valorosos nomes da BD romena, o volume “Tintin na Roménia” (onde defende a ideia de que a famosa Sildávia é inspirada na Roménia) e a invejável publicação “Dicionário de Banda Desenhada da Roménia” (Dictionarul Benzii Desenate din România).
Mais: Dodo Nitá tem exposto nos salões que organiza na sua pátria, obras de desenhistas portugueses como Fernando Bento, José Ruy, Eugénio Silva, Baptista Mendes, Artur Correia, etc.
Quanto aos desenhistas... é difícil a escolha, mas entre uns e outros, entre veteranos e mais novos, indicamos alguns valores maravilhosos: Puiu Manu (nascido em 1928, o decano sempre jovem e activo), Livia Rusz, Sandu Florea, Viorel Pîlrigras, Valentin Tanase, a dupla Vintilâ/Viorica Mihãescu, Marian Radu, Ionut Popescu (que teve duas curtas editadas nos “Almada-BD Fanzine” #12 e #14), Marian Iorda, Nicu Russu (não confundir com o ítalo-brasileiro Nico Rosso), Alexandru Ciubotariu (vulgo, Ciubi), Câlin Stoicãnescu, Rázvan Chelaru...
Capa e prancha de "Omul Invizibili", por Puiu Manu
Prancha de "Clipe", por Viorel Pirligras
Prancha de "Temerarii Spatiului", por Valentin Tanase
Pranchas de "Abatia", por Rázvan Chelaru
Prancha de Vintilá Mihâescu
Arte de Cãlin Stoicânescu
Prancha de "Intilnire in Spatiu", com desenhos de Valentin Tanase
Capa e prancha de "Tom Sawyer si Huckleberry Finn", por Ionut Popescu
Prancha de "Megalozoon", por Vasile Mânuceanu e Nicu Russu
Capa e prancha de "Cipollino", por Alexandru Ciubotariu

Convém registar aqui o generoso gesto de Marian Radu quando veio a Portugal (Viseu-2009): trouxe com ele uma curta edição à sua custa, em português, o divertidíssimo mini-álbum “Bem-Vinda, Querida Sogra!” (Bine Ai Venit Mama Soacra!), que foi oferecendo aos visitantes dessa edição do Salão-BD de Viseu. Este gesto de Marian Radu é exemplar! É também um gesto que não se poderá jamais esquecer!...
Capa e prancha de "Bem-Vinda Querida Sogra!", por Radu Marian (edição de autor)

E  por aqui nos ficamos com este registo de texto, fotos e ilustrações versando a BD da Roménia, que importa ser descoberta com entusiasmo pelos bedéfilos portugueses.
LB

Prancha de Sandu Florea
Arte de Livia Rusz

BREVES (13)

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BATMAN v SUPERMAN
Com realização de Zack Snyder, em 2016, dois super-heróis regressam juntos ao grande ecrã: o Homem Morcego e o Super-Homem.
Trata-se do filme Batman v Superman: Dawn of Justice.
Henry Cavill será Clark Kent/Supermanenquanto Ben Affleck vestirá a pele de Bruce Wayne/BatmanPor sua vez, Jeremy Irons será Alfredo mordomo de Bruce Wayne.


OUTRO FILME: TARZAN
Também no próximo ano, vai estrear mais uma longa-metragem sobre o tão popular Tarzan. A realização é da responsabilidade de David Yates e nos principais personagens estão o actor sueco Alexander Skarsgard (Tarzan) e a actriz australiana Margot Robbie (Jane).
Vamos lá a ver o que sai daqui...



LUANDA CARTOON 2015
Até 28 de Agosto, continua a decorrer a décima segunda edição do Luanda Cartoon - Festival Internacional de Banda Desenhada e Animação.
Do programa fazem parte, para além das exposições de BD e cartune, exibições de cinema de animação em 2D e 3D, workshops para profissionais e amadores e o lançamento da V edição do Projecto "A Banda Desenhada na Língua Portuguesa".
Paulo Monteiro, o director do Festival e da Bedeteca de Beja, estará presente para ministrar alguns workshops, mantendo-se, assim, uma estratégia de parceria entre festivais portugueses a angolanos que, sem dúvida, é algo de muito positivo para a banda desenhada dos dois países.



FALECEU ANTÓNIO GAIO
Com 90 anos, faleceu no passado dia 20, António Gaio, o grande senhor do Cinanima (Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho).
Muito ligado à Banda Desenhada, foi no entanto o Cinema de Animação que sempre marcou alta posição nos seus entusiasmos.
Em 2001, publicou uma valiosa obra de excepção: “História do Cinema Português de Animação”.
António Gaio chegou a ser dirigente do Sporting Clube de Espinho e da Associação Académica de Espinho, e depois, da Cooperativa Nascente, a organizadora do Cinanima.
Em 1997 foi agraciado pelo então Presidente Jorge Sampaio com a Comenda de Mérito Cultural.

DE ACTORES A HERÓIS DE PAPEL (9) - RED SKELTON

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Red Skelton (1913-1997)
Nos anos 40 e 50 do passado século vinte, foi um popular e divertido actor cómico do cinema norte-americano, famoso também por esse mundo adiante. Chegou mesmo a ser considerado como o grande rival de Bob Hope...
Richard Bernard Skelton, dito Red Skelton, que nasceu a 18 de Julho de 1913 e faleceu a 17 de Setembro de 1997, teve uma vida e carreira bem dignas de registo e de aplausos.
Como artista ante diversas vertentes, espraiou-se por variados esquemas.
Gostava e sabia fazer rir o público, que sempre o estimou plenamente. Usou bem o seu talento, tirando partido do seu cuidado histrionismo.
No entanto, em privado, não se livrou de amarguras e de angústias. Casou três vezes... Em 1931, com Edna Marie Stillwell, de quem se divorciou em 1943. Em 1945, casou com Georgia Davis, donde dois filhos (Valentina e Richard), tendo-se divorciado em 1971. Em 1973, casou com Lothian Toland, com quem viveu até ao fim dos seus dias.
Mas isto do casa-separa-casa-separa, não é sintoma de nenhum apocalipse. Acontece porém que, Red Skelton, enquanto nos fazia rir, sofreu ante todas as angústias do mundo, o drama da leucemia de seu filho Richard que, apesar de todas as voltas que deu, o garoto, com menos  de dez anos de idade, acabou por falecer. Isto foi durante os anos 50... Os media bem noticiaram a doença do garoto e as desesperadas angústias de Skelton.
Da sua brilhante e divertida carreira de actor de Cinema, há um destaque especial para um dos filmes onde emparceirou com Esther Williams (a “sereia de Hollywood”), no filme de honra “Escola de Sereias” (1944), no original Bathing Beauty, com os momentos impagáveis e de antologia da “aula de Bailado”. Únicos e fabulosos!... E de qualquer modo, como filme, um clássico absoluto!
Red Skelton porém, tem outros belos registos pela 7.ª Arte. Salientamos “Du Barry Era uma Senhora” (1943), “As Mil e uma Apoteoses de Ziegfield” (1945), “Carnaval no Texas” (1951), etc, para além de participações especiais em “A Volta ao Mundo em 80 Dias” (1956), “Os Onze do Oceano “ (1960) e “Os Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras “ (1965) e ainda, pela série-TV, Standing Room Only (1981).
A Banda Desenhada não o olvidou... pelo menos, a norte-americana. Há vários exemplos, alguns bem raros, que aqui temos o gosto informativo de reproduzir.
Quem são os desenhistas?!... Da pesquisa que fizemos ressaltam dois excelentes autores, ambos ingleses: Bertie Brown (1887-1974) e Terry Wakefield (1911-1989). 
Deixamos aqui a nossa justa homenagem ao admirável Red Skelton. 
LB
Original de Bertie Brown, publicado em "Film Fun" (18.10.1952)
Original de Terry Wakefield, publicado em "Film Fun" (14.09.1954)
Prancha de "Many Happy Returns for Red Skelton", in "Film Fun Annual" (1957)
Prancha de "Many Happy Returns for Red Skelton", in "Film Fun Annual" (1957)
Prancha de "Many Happy Returns for Red Skelton", in "Film Fun Annual" (1957)
Prancha de "Red Skelton Makes a Come-back", in "Film Fun Annual" (1957)
Prancha de "Red Skelton Makes a Come-back", in "Film Fun Annual" (1957)
Mais uma prancha de Red Skelton publicada em "Film Fun"

Prancha de Red Skelton, publicada em "Film Fun", da qual desconhecemos o autor

LITERATURA E BD (9) - ALVES REDOL

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Alves Redol (1911-1969)
António Alves Redol é um dos grandes e bem notáveis escritores portugueses do século passado.
Terá nascido nos arredores de Lisboa, a 29 de Dezembro de 1911, mas, muito criança ainda, foi viver com a família para Vila Franca de Xira, pelo que é considerado um nativo desta urbe à beira-Tejo. Faleceu em Lisboa a 29 de Novembro de 1969.
Apaixonado pelo meio rural, ele próprio sofreu também com a pobreza e as injustiças com as gentes mais miseráveis na sua sobrevivência.
Pensou ser médico, mas cedo entrou em contacto com os ambientes em que predominavam jornalistas e escritores e daí que, aos catorze anos, já escrevia textos para vários periódicos.
Viveu alguns anos em Luanda (Angola). De regresso chegou a leccionar Língua Portuguesa e aderiu ao Partido Comunista Português.
Muito afável no trato, sofria (sempre) com as injustiças sociais que, ousada e frontalmente, foi denunciando pela sua vasta bibliografia (romances, contos, ensaios e peças de teatro), tendo também escrito para a vertente da Literatura Infantil.
Chegou a ser preso e torturado pela polícia política do regime salazarista.
Alguns títulos fundamentais da sua obra: os romances “Gaibéus”, “Avieiros”, “Fanga”, “Barranco de Cegos”, “A Barca dos Sete Lemes” e “Olhos de Água”; os dramas “Forja” e “O Destino Morreu de Repente”; os contos “Comboio das Seis” e “Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos”; o ensaio “Glória: Uma Aldeia do Ribatejo”.
Não consta que o nosso Cinema tenha alguma vez feito um filme de alguma das suas obras!... Mas a peça “Forja” tem sido levada à cena.

Pela Banda Desenhada encontramos dois exemplos e mais um, apenas pensado e vagamente encetado.

José Ruy - adaptou o conto “Porque Não Hei-de Acreditar na Felicidade?”, várias vezes editado, tendo começado no “Ribatejo Ilustrado”, depois no “Jornal da Costa do Sol”, “O Povo de Guimarães”, “Alentejo Popular” e “Cadernos Sobreda BD” #13.
Pranchas de "Porque Não Hei-de Acreditar na Felicidade?",
por José Ruy, in "Ribatejo Ilustrado"#15, IV série (Abril de 1981)


Helder Carrilho - adaptou “Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos”, que se publicou no “Alentejo Popular” e no “Almada BD Fanzine” #2.
Pranchas de "Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos",
por Helder Carrilho, in "Almada BD Fanzine" #2


Eugénio Silva - este nosso grande artista da 9.ª Arte, tem tanto de genial como de “preguiçoso”! Levou anos a completar a Biografia de José do Telhado, que está incrivelmente por ser editado!...
Tem iniciada a adaptação do conto “A Perfeição”, de Eça de Queiroz (é urgente que a complete!) e, quanto a Alves Redol, nos seus arrastados projectos está a adaptação de “Forja”… mas, até hoje, só desenhou uma prancha!... Todavia, teve a gentileza de nos fornecer uma cópia desta dita cuja prancha para aqui ser publicada e nos aguçar o “apetite”…
LB

Texto publicado, originalmente, na revista "Anim'arte" #94 (outubro/novembro/dezembro 2014)

Prancha de "Forja", por Eugénio Silva (inédito)

HERÓIS INESQUECÍVEIS (38) - LUCKY LUKE

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LUCKY LUKE: o “cowboy” mais rápido do que a própria sombra

Criado em 1946 pelo belga Morris (pseudónimo que advém da pronúncia do primeiro nome do artista Maurice De Bevere), Lucky Luke é um dos personagens mais célebres da banda desenhada e um dos poucos dentro do género western/humorístico (a par de Chic Bill, outra série europeia criada pelo frânces Tibet).
Em 1955, René Goscinny (notável criador de argumentos humorísticos, e co-autor de, entre outros, Astérix, Iznougud, Spaghetti ou Humpá-Pá) juntou-se a Morris, ficando este responsável apenas pelo desenho. Esta fase, que só terminou com a morte de Goscinny em 1977, é considerada a melhor da série.
Apesar de ser um cow-boy(isto é, um vaqueiro), Lucky Luke actua na maior parte das suas aventuras como guia, explorador ou guarda-costas de alguém. 
Sempre acompanhado por Jolly Jumper, o cavalo mais esperto do Mundo, e, por vezes, por Rantamplan, o cão mais estúpido do Universo (que, mais tarde, se tornaria protagonista das suas próprias aventuras em álbum), Lucky Luke encontra, com regularidade, personagens míticos do velho Oeste como Billy The Kid, Calamity Jane, Jesse James, Bufallo Bill, Sarah Bernard, ou os Irmãos Dalton. Estes últimos, que Morris, pela mão de Lucky Luke, decidiu eliminar da série (Lucky Luke mata os Irmãos Dalton durante uma aventura naquela que é a primeira e a única vez que o cow-boy utiliza o seu revolver de forma tão radical) acabarão por regressar sob a forma de mais quatro irmãos Dalton, primos dos primeiros. Morris emendou, assim, a mão, quando percebeu a enorme potencialidade destes impagáveis personagens (cujo gag mais famoso talvez seja aquele em que os quatro irmãos, presos na mesma cela, decidem abrir quatro buracos na parede para se evadirem!).
Alguns dos personagens da série: Rantanplan, Billy the Kid, Calamity Jane, Jolly Jumper, Lucky Luke e os impagáveis irmãos Dalton (Averell, William, Jack e Joe)
Outra nota curiosa da série prende-se com o cigarro que Lucky Luke usou durante anos ao canto da boca e que Morris substituiu, em 1983, por uma palha. Este gesto valeu-lhe uma medalha outorgada pela Organização Mundial de Saúde, nas Jornadas Mundiais Sem Tabaco, em 1988.
Morris faleceu em 2001 mas Lucky Luke continua a viver novas aventuras pela mão de outros artistas como Achdé, Bob De Groot, Jean Léturgie, etc…
Em 1995, numa tentativa de atrair um público mais jovem, Léturgie e Pearce criaram "Kid Lucky", uma versão das aventuras de Lucky Luke enquanto criança.
Em Portugal a série estreou em 1958, no "Cavaleiro Andante" #340. Desde essa altura, Lucky Luke tem sido publicado em revistas como "Zorro", "Nau Catrineta", "Flecha 2000", "Jornal da BD", "Tintin" ou "Selecções BD" (2.ª série). 
Têm sido também publicados álbuns com regularidade por várias editoras portuguesas (Editorial Íbis, Bertrand Editora, Méribérica, Público/Asa), bem como pelo jornal "Correio da Manhã".
Duas pranchas de "O Esconderijo dos Dalton", com texto e desenhos de Morris, in revista "Tintin" #9 (1981)

Em 1985 as aventuras de Lucky Luke foram adaptadas ao cinema de animação.
"Billy, the Kid", um episódio completo da série de animação dos anos 80

Nos anos 90, Lucky Luke (em carne e osso) estreou-se nos ecrãs através de uma série televisiva e de dois filmes protagonizados por Terence Hill.
Em 2004, novo filme, desta vez com Til Schweigwe a dar corpo ao personagem.
Lucky Luke continua a fazer-nos rir com as suas aventuras, passados que estão quase setenta anos desde que foi criado por Morris! Um caso muito sério de longevidade (e de popularidade) na banda desenhada europeia e mundial.
CR
"La Mine d'Or de Dick Digger" e "Arizona", os dois primeiros álbuns de Lucky Luke.
Note-se a fisionomia do personagem, bastante diferente ainda da sua imagem actual.

Pranchas de "O Grão-Duque", com texto de Goscinny e desenhos de Morris, in revista"Tintin" #14 (1974)
Pranchas de "O Grão-Duque", com texto de Goscinny e desenhos de Morris, in revista "Tintin" #15 (1974)
"La Caravane", publicado em 1964, talvez o melhor álbum da série.
Lucky Luke cavalgando Jolly Jumper, com o Sol a por-se no horizonte.
Uma imagem de marca que perdura desde que a série foi criada.

VISEU: O DIA DE VIRIATO

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A municipalidade de Viseu restaurou “O Dia de Viriato”, que acontece a 30 de Agosto. Assim foi este ano. Em plena Feira de São Mateus, no Museu da Electricidade, inaugurou-se nesse dia 30 uma bela exposição dedicada ao grande líder lusitano, que encerra no próximo dia 13.
Nesse espaço, às 16 horas, o Presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, inaugurou a exposição "Viriato na Banda Desenhada" (que já estivera patente em Moura, pois é obra elaborada em conjunto pelo GICAV e a Câmara Municipal de Moura), com pranchas de desenhistas portugueses e espanhóis.
Mas aqui, em Viseu, se acrescentaram mais duas partes: um conjunto de quadros-aguarelas de José Garcês e uma boa dose de “retratos” e/ou cartunes sobre o mesmo Viriato, com a prestação de diversos dos nossos desenhistas, alguns deles residentes na zona de Viseu.
Capa do álbum "Viriato" (Edição de 2015)
José Garcês, o decano dos nossos desenhistas, foi então homenageado, recebendo o Troféu Anim’arte atribuído pelo GICAV- Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu, tendo-se seguido o lançamento do álbum “Viriato”, também da autoria de José Garcês, dando lugar a uma concorrida sessão de autógrafos. Deste álbum faremos posteriormente referência na nossa rubrica “Novidades Editoriais”.
Havia imenso público que se acotovelava para ver toda a exposição, num espaço não muito vasto e onde se sofria com o calor que então fazia. Tudo muito bonito e louvável, mas preferimos espaços mais amplos e desafogados, como já foram utilizados em edições anteriores no Pavilhão Multiusos, também no recinto da Feira de São Mateus.
O BDBD esteve lá e, vindos de fora da região, contavam-se as gratas presenças dos desenhistas Pedro Massano e António Guerreiro.
No sector dos cartunes, dos nomes de artistas locais participantes, salientam-se: Miguel Rebelo, Daniel Almeida, Pedro Albuquerque, Carlos Alberto Almeida, Pedro Emanuel e Fernando Jorge Costa. De "outras terras": José Ruy, Eugénio Silva, Artur Correia, Mara Mendes, Carlos Rico, Baptista Mendes, João Amaral, António Guerreiro, Augusto Trigo, entre outros mais.
E agora, fica-se à espera de novas da BD em Viseu em 2016...
Força GICAV! Força Viseu!...
LB
Momento da inauguração da exposição com Luís Filipe Mendes (do Gicav) no uso da palavra.
Foto: José Alfredo (cedida pela C.M. de Viseu)
O Presidente da Câmara Municipal de Viseu, Almeida Henriques, entregando a José Garcês
o Troféu Anim'Arte 2015 ante o sorriso de Carlos Alberto Almeida (do Gicav)
Foto: José Alfredo (cedida pela C.M. de Viseu)
José Garcês agradecendo o Troféu com que acabara de ser distinguido.
Foto: José Alfredo (cedida pela C.M. de Viseu)
Luiz Beira esclarecendo alguns pormenores da exposição ao Presidente da Câmara de Viseu.
Foto: José Alfredo (cedida pela C.M. de Viseu)
À direita, dois quadros da exposição "Viriato na Banda Desenhada"..
Foto: José Alfredo (cedida pela C.M. de Viseu)
Luiz Beira e Carlos Almeida (ao centro da imagem), atentos à exposição de desenhos
feitos propositadamente, por autores nacionais, para esta mostra.
Foto: José Alfredo (cedida pela C.M. de Viseu)
Aspecto da exposição de aguarelas de José Garcês.
Foto: José Alfredo (cedida pela C.M. de Viseu)
Dois desenhistas em animada conversa: António Guerreiro e Pedro Massano.
Foto: Luiz Beira
Aspecto geral da exposição de desenhos sobre Viriato.
Foto: Luis Filipe Mendes
Os Viriatos de Paulo Medeiros e de Ricardo Ferreira
Foto: Luis Filipe Mendes
O Viriato de Carlos Rico
Foto: Luís Filipe Mendes
O Viriato de Eugénio Silva.
Foto: Luiz Beira
Os Viriatos de Mara Mendes e de João Amaral
Foto: Luiz Beira
José Garcês durante a animada sessão de autógrafos onde rubricou
dezenas de álbuns "Viriato", que o Gicav reeditou por esta ocasião.
Foto: Luiz Beira

NOVIDADES EDITORIAIS (78)

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JIM e HARVEY - Edição Arcádia. Argumento de Philippe Charlot e traço de Xavier Fourquemin.
“Jim" e "Harvey” são os dois primeiros episódios (há pelo menos mais três), reunidos neste álbum, da série “O Combóio dos Órfãos”.
Obra imensa, arrasadora, fortemente dramática e comovedora, baseada numa situação autêntica que funcionou nos inícios do século XX nos Estados Unidos.
A hipocrisia social e cristianíssima (?!...) foi totalmente repulsiva. Essa atitude abominável que aconteceu, é aqui denunciada com toda a crueza e realismo: crianças órfãs e/ou abandonadas pelas ruas de Nova Iorque, eram “arrebanhadas “ com pseudo-protecções e depois, tal como desprezível gado, enfiadas num combóio que as “exportava” para o Oeste norte-americano, onde seriam “adoptadas”, bastas vezes para serem utilizadas como mão de obra barata ou usadas em fins inconfessáveis. Uma canalhice imperdoável!...
Philippe Charlot e Xavier Fourquemin tiveram a positiva coragem de agarrar este assunto. A editora Arcádia teve também a louvável coragem de começar a editar este obra em português. Estão todos de parabéns!
“O Combóio dos Órfãos” é, sem qualquer dúvida, uma série-BD de leitura obrigatória!...

 
VIRIATO - Edição Gicav / Câmara Municipal de Viseu. Autor: José Garcês.
Finalmente recuperado em álbum este clássico da BD Portuguesa, que foi criado para a revista “Cavaleiro Andante” quando o autor tinha apenas 24 anos de idade!
Viriato, pela História e pela Lenda, é um símbolo imenso para Portugal e Espanha. E merece bem uma indelével veneração.
Este álbum teve paginação e tratamento de imagens por Carlos Rico, que respeitou muito bem, na totalidade, a versão original.
Como complemento necessariamente elucidativo a esta obra, sugere-se que, sobre Viriato e Viriato na Banda Desenhada, leiam ou releiam o nosso post (alusivo) editado a 15 de Dezembro de 2013 ou a revista “Anim’arte” #91 (páginas 8 a 13).
Todos os interessados no álbum, devem contactar com o Gicav para o


LE SARCOPHAGE - Edição Casterman. Argumento de Christophe Bec e arte gráfica de Jaouen Salaün.
Trata-se do primeiro tomo da série “Eternum”. É uma série futurista e entusiasmante na sua proposta. Uma ideia inquietante ante a origem da Humanidade no nosso planeta, e não só.
Quem é a bela e misteriosa jovem encontrada, estranhamente viva, num sarcófago que foi achado nas entranhas de um planetazinho tão distante?...



CONTREFAÇONS - Edição Dargaud. Argumento de Pierre Boisserie e Philippe Guillaume e traço de Juszezak.
“Contrefaçons” é o 9.º tomo da série “Dantès”.
Alexandre Dantès (um Conde de Monte Cristo moderno) continua a sua vivência agitada e suportando situações bem complexas e perturbadoras. Desta vez até tem também de confrontar o próprio pai... que não é flor que se cheire.
Assim, “a vingança não tem preço, mas tem um nome: Dantès”.
A ler!


LE TAS DE BRIQUES - Edição Casterman. Argumento de Régis Hautière e traço de Hardoc. “Le Tas de Briques (1916)”, é o terceiro tomo da série “La Guerre des Lulus”.
Em plena Primeira Grande Guerra, cinco garotos órfãos (quatro rapazes e uma rapariga), mais o fiel gato “Charlie”, percorrem sozinhos, campos, bosques e aldeias desconhecidas, para se escaparem aos soldados alemães e aos bombardeamentos.
Abandonados ao seu próprio destino, tudo fazem e arquitectam para sobreviver, no fito de uma nova esperança ante a vida.
LB

A VIDA INTERIOR DAS REDAÇÕES DOS JORNAIS INFANTO-JUVENIS, na memória de José Ruy (11)

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11) O PORQUÊ E COMO FOI CRIADO O "CAVALEIRO ANDANTE"

Pois o «Cavaleiro Andante» foi realmente criado para escoar uma quantidade enorme de papel que se acumulava nos armazéns da «Empresa Nacional de Publicidade» a que o Diário de Notícias pertencia. Este importava da Finlândia o papel em bobinas mas o seu tamanho na largura excedia a medida da rotativa e o formato do jornal. As bobinas eram serradas no excedente produzindo pequenas frações que se iam acumulando. Numa tiragem diária de 100 mil exemplares pode-se calcular a velocidade a que os armazéns ficavam lotados.
Que fazer a tanto papel? Era um desperdício mandá-lo para a reciclagem. Foi aí que o inventivo José Gonçalves pensou num pequeno jornal infanto-juvenil onde aplicasse esse papel dando assim vasão às bobinas. Encomendou uma rotativa Offset com esse formato e foi assim que o «Cavaleiro Andante» surgiu sujeito àquela medida, e substituindo o «Diabrete».

Era uma rotativa deste género que
imprimia o "Cavaleiro Andante"
Capas do "Diabrete"

Esta rotativa tinha 60 centímetros de largura e utilizava as tais bobinas excedentes. Portanto este jornal nasceu com papel já pago e reunia todas as condições para dar certo.
Nada se desperdiçava naquela empresa. Tudo se transformava num ciclo de reaproveitamento. Um dia poderei contar pormenores de recuperações inimagináveis, de produtos que hoje vejo deitar para o lixo sem a preocupação de os reutilizar.
Durante o período da colaboração que mantive durante alguns anos n’O Cavaleiro Andante, criei várias histórias.
"A Mensagem", "Ubirajara" do escritor brasileiro José de Alencar, e "O Bobo", de Alexandre Herculano
Quando estava a terminar a publicação de «O Bobo», o Simões Müller perguntou-me o que pensava fazer a seguir. Tinha entretanto descoberto a «Peregrinação» através do Teixeira Coelho, que até já a havia iniciado em HQ com apenas três tiras de propósito para a primeira exposição de Histórias em Quadrinhos, no Palácio da Independência em Lisboa, em 1952.
A "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto
O Coelho antes de partir para França sugeriu-me que fizesse essa história, pois ele não a ia continuar nem planeava fazê-lo mais tarde. Em França dedicar-se-ia a outro tipo de temas, como aconteceu. Depois de ler esse original fiquei apaixonado, por isso disse ao Müller que era essa a história seguinte.
Ele torceu o nariz, Fernão Mendes Pinto confessava nos seus escritos ter sido pirata… porque não fazia eu antes os «Fumos da Índia»? Mas encontrava-me bastante determinado, e durante umas semanas fui argumentando com o Müller, que se tratava de uma história com empolgantes aventuras, que tinha episódios históricos e até de heroísmo em locais exóticos. Anuiu por fim, depois de lhe mostrar algumas pranchas que havia já adiantado.
Essa adaptação estendeu-se por 75 semanas, e as reações que chegaram à redação foram todas positivas.
Claro que tive o cuidado de construir a personagem sem barba, para se afastar o mais possível do aspeto do «pirata padrão, barbudo e com pala no olho», que o cinema da altura nos mostrava e através das séries inglesas em quadrinhos.
Talvez por isso a censura não me tenha incomodado, embora o Fernão Mendes Pinto fosse considerado pelos mentores dos bons costumes na época, um escritor maldito.
Vinte e dois anos depois viria a reformular essas pranchas para publicação em livro, inserindo balões nas vinhetas, conseguindo assim um maior dinamismo na narrativa.
Uma prancha original, acervo do CNBDI, e uma página impressa da versão em livro. 
O José Gonçalves era um grande admirador do Teixeira Coelho e por várias vezes me deu a conhecer. Um dia, sabendo da minha ligação de amizade com o Coelho, perguntou-me se ele aceitaria trabalhar para o «Cavaleiro Andante». Disponibilizei-me para o contacto pois nessa altura encontrava-se já em França. Começou por fazer capas para os números especiais e a sua história «Harpa de Ouro» foi mesmo publicada no «Cavaleiro Andante». Mas por vontade do José Gonçalves.
Duas das várias capas que Teixeira Coelho desenhou
para números especiais de "O Cavaleiro Andante"
Também a série "Falcão Negro", novela criada por Raúl Correia n'"O Mosquito" e depois passada a banda desenhada com argumentos de Eduardo Teixeira Coelho foi publicada neste jornal. Esta capa foi feita de propósito para o "Cavaleiro Andante"
Conto um episódio inusitado acontecido ainda em tempo do «Diabrete», que mostra como funcionava a redação deste jornal.
«O Mosquito» fazia permuta dos desenhos do Teixeira Coelho com o jornal «Chicos» de Espanha, recebendo os de Jesus Blasco, Emílio Freixas e outros autores. O Tiotónio tirava provas de prelo em papel cristal das ilustrações do Coelho, que serviam de fotólitos para a impressão no jornal «Chicos», e enviava-as pelo correio. A Consuelo Gil, diretora desse jornal, utilizava esses desenhos soltos para ilustrar novelas escritas de propósito pelos seus colaboradores, inspiradas nas cenas explícitas nessas ilustrações.
Do jornal "Chicos"
Exemplo de como em Espanha aproveitavam os desenhos do Teixeira Coelho publicados n'O Mosquito para ilustrar contos e novelas, muitas feitas a partir das imagens, inventando argumentos a condizer com as cenas criadas, nada tendo a ver com as histórias portuguesas originais.
Por sua vez o jornal «Chicos» vendia para Portugal, para o Simões Müller, desenhos da Pili Blasco, irmã do Jesus Blasco e de outros autores espanhóis que eram publicados no «Diabrete».
Certa vez num desses lotes, por distração, vieram juntos desenhos do Teixeira Coelho, já publicados n’«O Mosquito» e no «Chicos». Na redação do «Diabrete» não se aperceberam que esses desenhos não eram espanhóis, e publicaram-nos. Claro que o Raul Correia e o Tiotónio reclamaram de imediato. Espantado, o Müller pediu imensa desculpa, pois não tinha reparado que eram desenhos do Teixeira Coelho.
Era evidente que não lia «O Mosquito» e não o observava, como os diretores deste jornal faziam com todas as publicações concorrentes existentes na altura. Era preciso estar atento ao que se publicava à volta. Fazia parte da ética.

Mas tudo tem os dias contados e o «Cavaleiro Andante» terminou a sua «cavalgada». No entanto para escoar o muito material que o Simões Müller havia adquirido aos franco-belgas, criaram a «Nau Catrineta» como suplemento integrado no «Diário de Notícias».
Embora já a trabalhar em outra empresa, continuei a colaborar com desenhos para essa publicação.

(continua)



No próximo artigo: O "TINTIN" PORTUGUÊS

HERÓIS INESQUECÍVEIS (39) - BUZ SAWYER

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Não terá sido um herói que arrastou multidões, mas mesmo assim, teve a sua relativa boa dose de popularidade, incluindo em Portugal.
Roy Crane
Este herói nasceu a 1 de Novembro de 1943, sob autoria de Roy Crane (1901-1977), que já havia criado o “Captain Easy” (Capitão Águia, quando foi publicado no suplemento dominical do matutino “Notícias” de Lourenço Marques).
Buz Sawyer foi militar norte-americano, passou à vida civil e tornou à carreira militar... Coisas forjadas para a heroicidade especulada pelo nacionalismo norte-americano.
Sawyer teve como um dos seus principais parceiros o divertido Rosco Sweeney. Casou com a bela Christy Jameson, donde resultou o filho Pepper.
A série teve inicialmente argumentos de Edwin Granberry. Crane, praticamente, só assumiu o traço. Passou depois a ser apoiado pelo desenhista Henry G. Schlensker, que o substituiu plenamente após o seu falecimento.
Em 1983, é John Celardo quem toma conta do traço até ao final da série a 7 de Outubro de 1989.
No Brasil, este herói tinha o nome de Jim Gordon. Em Portugal, a situação foi ridiculamente anedótica, pois foi conhecido como Fred de Sousa, John de Sousa, Raio Solar(?!) e, finalmente, pelo seu nome autêntico, Buz Sawyer.
As suas aventuras, mais ou menos avulsamente publicadas, foram editadas no “Cavaleiro Andante” (1956), no 36.º “Álbum do Cavaleiro Andante” (1957) e depois, noutras revistas, como “Ciclone”, “Condor Popular”, “Mundo de Aventuras” (1.ª série), “Mundo de Aventuras” (2.ª série), “Jornal do Cuto”, “Herói” e “Tico”.
E por este herói-BD, relativamente (frisamos) popular, ficamos por aqui.
Agradecemos os apoios que nos foram prestados por Jorge Magalhães e José Manuel Vilela.             
LB

Pranchas de "Um Caso de Espionagem", in "Cavaleiro Andante" #236 (1956)


Pranchas de "Piratas do Ártico", in álbum do "Cavaleiro Andante" #36 (1957)

Pranchas de Buz Sawyer, in "Mundo de Aventuras" #263 (1978)

NOVIDADES EDITORIAIS (79)

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UM CONTRATO COM DEUS - Edição Levoir, S.A. Autor: Will Eisner.
Este volume maravilhoso reúne quatro episódios: o que dá o título ao álbum, seguindo-se “O Cantor de Rua”, “O Zelador” e “Cookalein”, com dois prefácios do próprio Eisner.
Crítico implacável, Will Eisner, coloca os personagens destas quatro narrativas, em 1930, como inquilinos de um mesmo prédio na zona nova-iorquina da Bronx
Uma obra extraordinária e notável de leitura a não perder.


LE FEU D’HADÈS - Edição Lombard. Argumento de Sylvain Runberg, traço de Louis (aliás, Stephane Louis) e cores de Véronique Daviet.
“Le Feu d’Hadès” é o primeiro tomo da série “Drones”.
Uma série de ambiente futurista (já em 2037?!...) e pleno de guerra.
A Europa parece ser uma só nação, com a “capital” em Copenhaga (Dinamarca). Guerreia com a China, mais propriamente com um indomável grupo separatista de cristãos(?!...). Duas mulheres se confrontam sem piedade: a europeia Louise Fernback e a chinesa cristã Yun Shao.
Uma série animada numa balbúrdia feroz de uma guerra moderna e num futuro mais ou menos próximo. Com jeito vai... a fantasia!


JUNGLE CITY - Edição Dupuis. Autor: Hermann.
“Jungle City” é o 34.º  tomo da actual série de honra de Hermann, “Jeremiah”.
Implacável e plena de violência, em retrato bem realista, a narrativa prossegue com as aventuras dos amigos Jeremiah Kurdy, desta vez com uma breve escala na caótica Jungle City, talvez mais infernal que selvagem...
A ler e a admirar a arte de Hermann, sempre impecável e avassaladora.


L’EMPIRE DES SOUVENIRS - Edição Lombard. Autores: argumento de Stephen Desberg e arte de Henri Reculé.
“L’Empire des Souvenirs” é o nono e derradeiro tomo da tão sedutora série “Cassio”, que se localiza em espaços cruzados, nos tempos do Império Romano e nos dias de hoje.
Pode alguém, por estranhos sortilégios, sobreviver à sua aparente morte, atravessar séculos e manter-se voluntariosamente activo para fazer justiça, ou seja, para consumar a sua vingança sobre os seus quatro traiçoeiros assassinos ?
Uma obra a ler com entusiasmo, para conhecer agora o desfecho da série. Um argumento que nos agarra, sob a bela arte de Henri Reculé.


DANS L’OMBRE DU MONDE - Edição Lombard. Autor: Philippe Gauckler.
Este é o segundo tomo da série “ Koralovski”, focada nas intrigas políticas e na indústria petrolífera, inspirada num facto real que se passou na inimizade do presidente russo Vladimir Putin e o industrial Khodorkovski.
Aqui, o presidente chama-se Vladimir Khanine e o industrial é Viktor Koralovski.
Por ordem do senhor da Rússia, Koralovski esteve preso durante dez anos. Conseguiu evadir-se por acção de um misterioso comando.
De qualquer modo, entre Khanine e Koralovski, a luta continua...
LB

BREVES (14)

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Theo



MURENA: Novo Desenhista
Desde o falecimento inesperado a 28 de Janeiro de 2014 do desenhista francês Philippe Delaby (tinha 53 anos), que os imensos admiradores da série “Murena” andavam bem tristes.
Pois a Dargaud Éditeur já escolheu um novo desenhista para continuar a série, a ter novo álbum, muito provavelmente em 2016.
Trata-se do italiano Theo, que desenhou com toda a perícia as séries “Le Trône d’Argile” e “Le Pape Terrible”. Aguardemos pois!








FLASH GORDON: Novo Filme
Para 2016, prevê-se o início da rodagem de uma nova longa-metragem versando o herói-BD, Flash Gordon. Por enquanto, ainda não se conhecem mais pormenores...
Depois de Buster Crabbe, Steve Holland, Eric Johnson e Sam J. Jones, quem será o próximo protagonista deste herói?







JORGE MIGUEL: Triunfo no Estrangeiro
O talentoso jovem desenhista Jorge Miguel (“Camões” “ O Fado Ilustrado”), desiludido com o mundo sombrio das esferas editoriais do nosso país, apostou-se pelo estrangeiro, donde já, os dois divertidos tomos da série “Z Comme Zombie”.
Tem agora, pelas bandas francófonas, um novo álbum: “Arène des Balkans”.
Falaremos dele, quando o lermos. Até lá, Jorge Miguel está imparável, soma e segue.
Força, Jorge Miguel!





JOÃO AMARAL em Viseu
De 14 a 28 de Novembro, João Amaral vai ter exposição em Viseu, em espaço da respectiva Biblioteca Municipal.
A exposição incidirá em pranchas do seu mais recente álbum, “A Viagem do Elefante”, adaptado da obra homónima de José Saramago
Nota curiosa: por mera coincidência, a exposição é inaugurada no dia do aniversário natalício de João Amaral...
LB

ENTREVISTAS (20) - JOSÉ PIRES (1.ª parte)

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Tal como Luís Afonso, que entrevistámos há pouco tempo aqui no BDBD, José Pires é um autor que deita por terra a malfadada fama de preguiçoso que têm os alentejanos trabalhando entusiástica e continuamente todos os dias, provando assim que uma coisa nada tem que ver com a outra. 
A energia deste homem é um caso notável no meio bedéfilo, pois nunca está parado. Como ele próprio diz: "Parado, só depois de morto".
Antes de passarmos à entrevista propriamente dita, vejamos um pouco do que José Pires tem feito ao longo de uma carreira com mais de cinquenta anos, recheada de actividade, quer em Portugal quer na Bélgica, sendo um dos poucos desenhadores portugueses que se podem ufanar de ter brilhado no estrangeiro.
José Pires, um dos "grandes
da BD portuguesa
Nasceu em Elvas, em 1935.
Estreou-se no "Cavaleiro Andante", em 1961, com "O Último Prato de Tento Gant".
É autor da primeira capa da revista "Zorro" (1962).
Publicou no "Mundo de Aventuras", nos anos 80. Pouco depois, iniciou colaboração com a "Tintin" belga e com a "Hello BD" (1993) fazendo parceria com os argumentistas Jean Dufaux e Benoît Despas.
Como faneditor, tem títulos publicados (de parceria com Jorge Magalhães e Catherine Labey, ou a solo) como Fandaventuras (1989), Fandwestern (1995) e A Máquina do Tempo (1996).
Nos últimos anos tem-se dedicado, com assinalável sucesso, a restaurar e a editar em formato fanzine grandes clássicos ingleses como "Rob the Rover", "Capitão Meia-Noite" ou "Matt Marriott".
Editou vários álbuns, tanto em Portugal ("Homens do Oeste", "Gil Eanes e o Bojador: As Portas do Mito", "A Viagem de Pedro Álvares Cabral: Ventos de Glória Marés de Infortúnio", "História de Gouveia, a Princesa da Serra", "A Batalha do Bussaco", etc) como na Bélgica ("Les Templiers: Le Sang et la Gloire"; "Alexandre Dumas: Le Diable Noir").
Fez, também, ilustração, colecções de cromos e trabalhou, durante muitos anos, numa agência de publicidade.
Foi homenageado pelo conjunto da sua obra nos Festivais BD da Sobreda (1996), Moura (1998) e Amadora (2011).
Tem vários projectos "na gaveta", entre eles três álbuns já prontos a editar (um em parceria com João Amaral) que aguardam apenas patrocinador.
Aqui está, então, a entrevista que nos concedeu há poucos dias e que, devido à sua extensão, será distribuída por dois posts.


BDBD – O gosto pela banda desenhada julgo que lhe terá surgido precocemente, como em quase todos nós. Ainda se lembra da primeira revista de banda desenhada que folheou? Ou das primeiras vezes que tentou imitar os desenhos que via? Como foi que a chamada 9.ª Arte entrou na sua vida?
"Falsa Acusação", de Vítor Péon,
despertou no autor a vontade de "fazer BD".
José Pires (JP) - No Mosquito, claro. Foi a primeira história do Vitor Péon “Falsa Acusação” (1943). Cativou tanto a minha imaginação que foi daí p’rá frente que desejei também fazer "coisas" daquelas. Fartei-me de desenhar as vinhetas do Vitor Péon e foi assim que descobri que tinha algum jeitinho. Daí em diante nunca mais parei de desenhar

BDBD – E como surgiu a hipótese de publicar banda desenhada pela primeira vez?
JP - Estava eu com 27 anos e trabalhava nas oficinas do Anuário Comercial (1962) onde era impresso o Cavaleiro Andante. O Artur Correia descobriu nos arquivos uma história que eu tinha entregue na redação, uns quatro anos antes, e apanhou-me de surpresa ao resolver publicá-la: era  “O Último Prato de Tenton Gant”, tirada de um conto publicado no Mosquito. Nessa altura eu procurava imitar o estilo do José Luis Salinas, autor do Cisco Kid, que eu admirava imenso. Ainda publiquei mais uma história, "Fumo de Pólvora em Gallows Crossing", como Burt Lancaster. Ainda tentei uma versão do “Eurico, o Presbítero”, como Charlton Heston, mas o preço que o Simões Muller pagava por página (150 paus!) levou-me a desistir. Mesmo assim ainda fiz a capa do n.º 1 da revista Zorro e mais três para o Cavaleiro Andante.
Fiz também uma coleção de cromos "Trajos de Todos os Tempos" para o Mário de Aguiar (APR, 1964), e outra "Os Cavaleiros do Céu", que também foi publicada em Portugal e na então Jugoslávia.
"O último prato de Tenton Gant" e "Fumo de pólvora em Gallows Crossing", 
dois dos primeiros trabalhos de José Pires publicados no "Cavaleiro Andante"

BDBD - Foi só nessa altura que teve a noção que queria, de facto, ser banda desenhista “a sério”, ou já antes tinha consciência de que era esse o caminho que pretendia seguir?
JP- Sempre desejei fazer “Histórias em Quadradinhos” e toda a vida procurei tornar-me um autor. Foi por causa disso mesmo que logrei um lugar de designer gráfico na CIESA-NCK (1964), agência de publicidade, onde eu desenhava os story-boards do filmes publicitários, (uma espécie de BD’s para mostrar a ideia nuclear aos clientes e cineastas.)

BDBD – O uso do computador mudou quase radicalmente a sua forma de desenhar ou de “fazer BD”. Que razões o levaram a ir por esse caminho e a deixar de lado as técnicas tradicionais, onde fez trabalhos a preto e branco que muita gente, ainda hoje, recorda com saudade?
JP - O uso do computador só apareceu nos anos 90 (95) pois o problema da cor era o que mais preocupava os autores de BD da época. Comecei apenas com a cor mas depressa engendrei técnicas próprias para aproveitar as potencialidades da máquina na resolução das deficiências que os processos ditos tradicionais enfrentavam. Desenhar o rodado de uma diligência, por exemplo. Mas o desenho tradicional continua a ser indispensável. Agora já não desenho as páginas mas apenas as vinhetas. Digitalizo as linhas para o computador (Photoshop), faço a montagem e meto a cor, vinheta por vinheta. E não tenho saudades nenhumas dos velhos processos. Longe disso. E o José Ruy, por mim influenciado, também já não quer outra vida.

BDBD – Não pensa, então, regressar à velha técnica do pincel, godé e tintas?!... Vê alguma hipótese de, um dia, voltar a desenhar uma história unicamente a preto e branco, com a célebre técnica do tracejado (que alguns confundem com o pontilhado de Franco Caprioli)?
JP -­ Ni hablar! Nunca me considerei um artista mas apenas um "fazedor de bonecos". Fiz alguns retratos a pastel ou a carvão e por aí me fiquei. O meu pontilhado, erradamente confundido com o do Caprioli (que era aleatório e o meu regular) foi retirado do Jean Giraud (Moebius) imitando as tramas fotográficas que então usava na Publicidade. Os belgas da Lombard (Tintin) até me chamavam o “Manara português”. Outra visão mais "avançada" das coisas…
Prancha de "Homens do Oeste", in "Mundo de Aventuras"(1980)

BDBD - O José Pires é, também, um dos poucos autores portugueses que publicaram com regularidade “lá fora”. Como foi essa aventura, como começou e porque acabou?
JP - Começou com o 25 de Abril. Os esquerdistas ameaçavam acabar com a Publicidade (a ponta de lança do capitalismo e da “sociedade de consumo”). Vendo o meu posto de trabalho em risco, decidi enviar os meus desenhos para as editoras belgas e francesas, pois aquilo era “a segunda coisa que eu melhor sabia fazer”. Respondeu afimativamente as Editions du Lombard. Emigrei assim sem sair de Portugal, enviando os originais pelo correio e eles mandando os francos por transferência bancária. Durou sete anos a brincadeira, publicando cerca de 200 páginas no Tintin e no Hello BD e  um album “La Sangre et la Gloire” - a odisseia dos Templários, com guião do Benoit Despas, que teve edição bilingue em francês e flamengo. Foi na semana de lançamento o álbum mais vendido por terras francófonas. Belos tempos, esses... 
Tudo terminou porque o magazine Tintin acabou, por exigência dos herdeiros do Hergé (o título Tintin do magazine). O Hello BD demorou um ano a aparecer e esse ano de interrupção foi fatal - o magazine durou mais dois anos apenas. Agora a Lombard apenas publica álbuns.
"Irigo", uma BD que foi capa na Tintin belga, nos anos 80

BDBD - Gostava de voltar a publicar nesse ou em outros países europeus?
JP - Voltei a publicar em 2010 um álbum para as Éditions Orphie (“Alexandre Dumas - Le Diable Noir”). Estive em Angoulême (2010) mas não logrei vender coisa nenhuma - um contundente fracasso...
Capa e prancha de "Alexandre Dumas, le Diable Noir", Editions Ophie (2010),
com texto de Benoit Despas

BDBD – No seu trabalho, é nítida a utilização de rostos de actores famosos como John Wayne, Gary Cooper ou Leonardo DiCaprio na concepção dos personagens. O Cinema é, para si, outra paixão ou usa, simplesmente os rostos desses actores como modelos?
JP - Manter a similitude de uma personagem em imagem realista é muito difícil. Não fui nem o último nem o primeiro a usar rostos de actores nos meus trabalhos. O Milo Manara usou e abusou do Alan Delon para o seu Giuseppe Bergman e o Jean Giraud, o Belmondo para o seu Lieutenant Blueberry. O Hernandez Palácios, o Robert Redford para o seu MacCoy. Este muito antes de eu usar o Gary Cooper no Will Shannon. E, claro, quem é que não gosta de cinema?...
"Will Shannon", personagem que José Pires "vestiu" com o rosto de Gary Cooper

BDBD – O “western” é, julgo saber, o seu género favorito. Sei que tem uma colecção fascinante de objectos e livros relacionados com este tema, que certamente lhe servirão de modelo para as suas histórias. É muito importante a preocupação com todos os pormenores (armas, selas, edifícios, vestuário…) que giram à volta das histórias, sejam elas “western” ou não…
JP - Quem como eu, começou com o Vítor Péon e a “Falsa Acusação” só podia preferir o western. Isso mais as "coboiadas" que eu via nas matinés do cinema de bairro, claro. A preocupação com os detalhes não é uma preocupação apenas minha. O Tony Weare (Matt Marriott) por exemplo, viajou durante mais de um ano pelos States, desenhando ao mesmo tempo as suas tiras e enviando os originais para Inglaterra, para melhor se integrar no ambiente da sua personagem. Mas um autor que se preze preocupa-se sempre com a autenticidade e rigor daquilo que desenha. Possuir um bom banco de imagens é indispensável.
CR
(conclusão da entrevista no próximo post)

ENTREVISTAS (20) - JOSÉ PIRES (2.ª parte)

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(conclusão da entrevista iniciada no post anterior)


BDBD – Como editor de publicações amadoras, a sua actividade já tem alguns anos, sendo responsável (a solo ou em parceria com Jorge Magalhães e Catherine Labey, por exemplo) por excelentes fanzines, bem conhecidos da “tribo” bedéfila (Fandwestern, Fandaventuras, A Máquina do Tempo, entre outros). Quando e porquê surgiu esta sua faceta de faneditor?
JP - Isso surgiu quando conheci o Jorge Magalhães. Ambos decidimos publicar um Fanzine (Fandaventuras - 1998). Depois prossegui sozinho com o Fandwestern e outros. O Matt Marriott foi publicado pelo Mundo de Aventuras mas como o formato (tira diária) não se adequava ao A4 e afins, as vinhetas apareciam amputadas ou acrescentadas. E como os formatos eram menores, para meterem as legendas, os paginadores eram obrigados a invadir o espaço dos desenhos, destruindo todo o valor dos extraordinários enquadramentos do autor. Por isso me dediquei a publicar em fanzine as histórias do Matt Marriott em versão original. São 70 episódios eu tenho 64 - pas male!
A série Rob the Rover está neste momento a ser publicada em inglês e a ser exportada para toda a Escandinávia (Dinamarca, Suécia e Noruega) com bastante sucesso.
Uma página de Matt Marriott publicada no Mundo de Aventuras...
... e a mesma página, já restaurada por José Pires, no formato de tiras em que foi publicada em Inglaterra.
BDBD – A sua admiração pelos autores clássicos ingleses levou-o a recuperar digitalmente obras de referência como Capitão Meia-Noite, Rob the Rover ou o já referido Matt Marriott. Como teve a ideia (e a ousadia, no bom sentido) de se embrenhar nestes projectos?
JP - Os chamados “clássicos”, Walter Booth, Reg Perrot ou Tony Weare, etc... sempre incendiaram a minha imaginação - sempre desejei reunir em volume as páginas que eles publicavam semanalmente ou em tira diária. Há outros como Milton Caniff (Terry e os Piratas ou Steve Canyon) que também gostaria de publicar... se tivesse tempo para isso...
Capas de dois episódios de "O Gavião dos Mares""Matt Marriott",
séries restauradas e publicadas em fanzine por José Pires

BDBD – Para se abalançar a projectos desta envergadura é necessário ter uma grande colecção de revistas inglesas, muitos contactos com amigos e colecionadores, muita paciência e, essencialmente, muito amor a esta arte. É que não estamos só a falar no minucioso trabalho de restauro das pranchas e na tradução e legendagem das mesmas. Falamos, também, no esforço enorme que, por certo, fará para conseguir obter todas as tiras de cada uma das séries, e em condições mínimas de serem recuperadas… Em poucas palavras, quer explicar-nos como se processa a recuperação de uma obra como Matt Marriott ou Rob the Rover?
JP - Isso só se consegue com um brutal investimento ou tendo amigos “especiais”. O Américo Coelho, por exemplo, deve ter a maior colecção de BD que conheço. Tem mesmo o Puck desde 1920 a 1940, de onde foi retirado o Rob the Rover, o Capitão Meia-Noite ou o Gavião dos Mares, que já publiquei na íntegra.
O restauro das vinhetas é tarefa que só o computador consegue alcançar. Claro que o computador não trabalha sozinho e é preciso saber trabalhar com ele. Mas para quem foi um profissional, que o utilizava mais de uma dúzia de horas diárias durante mais de vinte anos, tudo se torna mais simples. É uma questão de vontade e aplicação.

BDBD - Em média, quanto tempo demora a recuperar cada volume?
JP - Depende do estado em que o material me vem parar às mãos. Se tem cores, se lhe faltam pedaços ou se estão deficientemente impressos - os problemas são múltiplos e variados - mas  pouca coisa o Photoshop, quando orientado por mãos experientes, é incapaz de resolver. Milagres, não há, mas capricho, boa vontade e alguma imaginação conseguem quase “milagres” - é tudo uma questão de trabalho e alguma paciência e jeito. Cada volume exige normalmente uns quinze dias de oito horas de trabalho.

O "Willy Prize", diploma com que José Pires
foi distinguido pelo seu trabalho por um grupo de
admiradores dinamarqueses da série "Rob the Rover"
BDBD - Para espanto de muito boa gente, as suas edições estão a ter sucesso lá fora! Quer explicar-nos como estão as coisas neste momento?
JP - A Internet teve um papel fundamental nisso. Amigos meus noticiaram nos seus blogues as minhas publicações e não tardou que a informação ultrapassasse fronteiras. Agora, como já disse, estou exportando o Rob the Rover em versão inglesa apenas para a Escandinávia, Inglaterra e Brasil. Dá imenso trabalho, mas também muito gozo. E ponho as meninges a trabalhar, em lugar de ir para um banco de jardim jogar à sueca.  

BDBD – Estará implícito nesse gosto que tem pela edição de publicações amadoras, a vontade, quem sabe, de um dia gerir ou criar uma editora profissional? Alguma vez pensou nisso?
JP -­ De colaboração com um professor fanático da BD, estamos a pensar abrir uma loja no e-bay para implementar a exportação dos fanzines em língua inglesa, o Rob the Rover especialmente: uma coleção de 30 volumes!... 

BDBD – O José Pires foi/é argumentista, desenhador, legendador, colorista, coleccionador, tradutor, restaurador, paginador e faneditor! Um curriculum impressionante mas ao qual falta juntar a criação e edição de um blogue ou de uma página web onde divulgue o seu trabalho. Porquê esta pecha?
JP - Fui e sou tudo isso e até me dedico também à literatura. Tenho duas novelas escritas por publicar e concorri a diversos Jogos Florais (Cantanhede, Gandara e Castelo de Vide) onde arranquei os segundos prémios (os primeiros são sempre para os autóctones, claro). Mas também dá imensa auto-estima, palavra.
A organização de um blogue está fora dos meus projectos. Não tenho tempo para tudo isso. Outros que o façam. Editar os fanzines (e faço tudo sozinho!) já me dá um trabalhão dos diabos. Gosto imenso de trabalhar mas tenho a minha dimensão humana: não sou super-homem nenhum. E eu abomino os Super-Heróis, ainda por cima!

BDBD – Sei que tem uma história terminada, com argumento seu e desenho do João Amaral, passada no tempo dos Lusitanos, à espera que uma editora se interesse pela sua publicação. Por outro lado, desenhou um “western”, com argumento de Jorge Magalhães, que está a ser publicado apenas no fanzine brasileiro QI, pelas mesmas razões. Que opinião tem acerca do panorama editorial português? Porque é que há tantos autores portugueses com valor que não publicam regularmente? É um problema de falta de aposta das editoras, de uma má promoção e distribuição dos álbuns ou é o público que não compra?
JP ­- Essa história era baseada no Viriato e começou com um livro que escrevi.
"As Guerras de Fogo", trabalho com
argumento de José Pires (Gus Peterson)
e desenho de João Amaral (Jhion)
O João Amaral desenhou o primeiro volume (eram quatro) mas nem aqui nem em Angoulême se conseguiu vender a coisa. A publicação em álbum é um investimento muito elevado e as editoras só publicam o que lhes parece seguro - não entram em aventuras. 
western a que se refere (Buster from Texas Rangers) estava destinado à Bonelli, mas como fazia concorrência ao Tex ficou pelo primeiro episódio (50 páginas) e não foi aceite. Foi publicado pelo Edgard Guimarães no seu fanzine QI, sim senhor. Mas o argumento não foi do Jorge Magalhães, é também meu. Como dizia o Hermann, se sabes desenhar, também sabes escrever...
As editoras não entram em “aventuras”, como já disse. A minha editora nacional, Âncora Editora, só publica coisas minhas se tiver um patrocinador, como aconteceu com “A Batalha do Bussaco”. Tenho um outro álbum “A Portuguesa - a História do Hino Nacional” que ainda não foi publicado por falta de um patrocinador. Só foi publicado no Jornal do Exército. Os jovens autores nacionais, virados como estão para os Mangá e outras “japonezisses”, ainda estão mais lixados do que eu porque aí não há editora alguma que se abalance a isso. Só vai sobrando o José Ruy, que continua em acção, mau grado os seus oitenta e muitos! Mas ele, em tudo o que se mete tem patrocinador apontado: ele não brinca em serviço! 
Capa e prancha de "Buster from Texas Ranger"...
...e de "A História do Hino Nacional", dois álbuns que aguardam patrocinador...

BDBD – Que história gostou mais de desenhar até hoje, e porquê?
JP -­ Até agora a que mais gratificante e gozo me deu foi o “Irigo” do qual publiquei o suficiente para dois álbuns, nas páginas do Tintin, com o Jean Dufaux como argumentista. Mas a revista acabou antes que o Jean-Luc Vernal fizesse a vontade aos muitos leitores que pediam o Irigo em álbuns. Mas o “Alexandre Dumas” com argumento do Benoit Despas, é o meu álbum mais importante e melhor impresso. 
Página de "Irigo", publicada no "Tintin" belga

BDBD – Há algum tema, alguma história que quisesse abordar em banda desenhada e que ainda não o tenha feito?
JP -­ Tenho o projecto e o guião pronto de um álbum sobre o Capitão Pedro Teixeira, o conquistador da Amazónia, mas até agora não tive feed-back algum das editoras nacionais e brasileiras. 

BDBD – Quer deixar alguma mensagem aos jovens que sonham ser um dia autores de banda desenhada e que eventualmente estejam a ler esta entrevista?
JP ­- Façam! Trabalhem. Tentem fazer coisas que mais ninguém faça. Não sigam no "pelotão"! Sejam originais. Procurem ter qualidade. A qualidade é rara mas vence. Só a mediocridade falha de certeza. Pode mais quem quer do que quem pode. Não desistam. Insistam! 
CR

Capas de José Pires, para o "Cavaleiro Andante" e para "Zorro" (ambas de 1962),
assinadas ainda como "Zé".

Capas de "O Poço da Morte" e "Homens do Oeste",
episódios de Will Shannon publicados pela Editorial Futura (1989)
Prancha de "A Louca Cavalgada Heróica de Vasco Granja" (com argumento de
Jorge Magalhães), inserida num álbum colectivo publicado pela Asa, em 2003.
Prancha de "Saluk Hiah: a Paixão Lendária de uma Princesa Árabe",
BD incluída no álbum colectivo "Salúquia", Ed. Câmara Municipal de Moura (2009)
Prancha dupla de "Alexandre Dumas: Le Diable Noir", Ed. Orphie (2010)
Prancha de "Buster from Texas Ranger", publicada no fanzine "Q.I." (2015)

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José Vilhena (1927-2015)
FALECEU  JOSÉ VILHENA
Nascido a 7 de Julho de 1927, José Vilhena (aliás, José Alfredo de Vilhena Rodrigues), que há muito estava doente, faleceu a 3 de Outubro do corrente ano.
Grandioso no seu humor cáustico e implacavelmente mordaz, fundou e dirigiu famosas revistas, como “O Mundo Ri”, “Gaiola Aberta”, “Fala Barato”, “O Cavaco” ou “O Moralista”.
Foi igualmente o autor de dezenas de delirantes livros (textos, ilustrações e fotos), donde, alguns títulos: a trilogia “História Universal da Pulhice Humana” (“Pré-História”, “O Egipto” e “Os Judeus”), “Branca de Neve e os 700 Anões”, “Julieta das Minhocas”, “Arre Burro!”, “O Depoimento de Américo Thomaz”, “O Evangelho Segundo José Vilhena”, “Os Reis de Portugal, suas Taras e Pulhices”, “Cinto de Castidade”, “O Filho da Mãe”, “A Vingança do Filho da Mãe”“A Boa Viúva”, etc.
Escreveu também Teatro, como “Os Infiéis Defuntos” e “As Calcinhas Amarelas”. Esta farsa estreou nos anos 70 no então Teatro Laura Alves (Lisboa) com interpretações de Irene Izidro, Barroso Lopes, Carlos Miguel, Luís Horta, Teresa Ziloc, Manuela Maria e outros, tendo sido um enorme êxito.
José Vilhena deixou-nos fisicamente, mas a sua obra fica e é para ser lida e relida. Que descanse em paz!



Liliane Funcken (1927-2015)
ADEUS, LILIANE!
Foi com muita tristeza pelo mundo bedéfilo que se soube do falecimento, aos 88 anos, de Liliane Funcken no passado dia 26 de Setembro. Viúva do seu companheiro de sempre, sobreviveu apenas dois anos à morte do marido, Fred Funcken (1927- 2013).
Liliane Schorils nasceu também em 1927, vindo a adoptar o apelido do marido quando se casou em 1959. Foi neste ano que se viram pela primeira e, num amor à primeira vista, ele durou para sempre.
Fred e Liliane, além de um casal exemplarmente apaixonado, formavam uma dupla extraordinária pela extensa Banda Desenhada que criavam. Sempre muito cúmplices nos seus trabalhos e nas suas investigações, dificilmente se consegue separar o que era de Fred e o que era de Liliane.
Que descanse em paz. Adeus, Liliane!




BALBÚRDIA TINTINESCA
Volta não volta, os media, tocam no assunto: os herdeiros de Hergé (Fanny Rodwell e Nick Rodwell) vão ou não permitir um novo álbum de Tintin, ante tanta e mais alguma pressão com que constantemente são bombardeados neste sentido?
Proibiram a conclusão de “Tintin et l’Alpha Art”, mas o jovem canadiano Yves Rodier, admirador absoluto da obra de Hergé, atreveu-se a ir em frente: com dados que tinha, concluiu o álbum que tem versões em francês, em inglês, em castelhano e em português (no Brasil).
Os Rodwell pensaram depois em editar “Tintin Entre os Sovietes” a cores... mas a ideia foi por água abaixo. Agora, para que ao fim de 70 anos da morte do autor, não percam os direitos e estes passem para o domínio público em 2053, põem a hipótese de que uma outra narrativa há muito iniciada e depois posta de parte pelo mestre, “Tintin et le Thermozéro”, seja retomada e concluída até... 2052!
Será? E terá mesmo de ser nessa data limite?
O corajoso jovem Yves Rodier já tentou pegar no tema...
LB
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