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Channel: BDBD - Blogue De Banda Desenhada
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A BD A PRETO E BRANCO (1) - As escolhas de Luiz Beira (1)

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Com jeito vai... a preto e branco

Quando eu (LB) fui desafiado pelo meu sócio (CR) do BDBD para abordar o tema da Banda Desenhada a preto e branco, logo disse que sim. Todavia, caí em mim, mas já era tarde para recuar... É que o tema é muitíssimo vasto e comporta uma multidão de maravilhosos desenhistas a trabalhar assim o seu grafismo. Teria de escrever um Tratado sobre o assunto e não um post.
Após desgastante pesquisa, houve ainda a devida selecção dos exemplos...
E lá acabei por optar por uns quantos, segundo a minha pessoal admiração e o meu pessoalíssimo gosto. Portanto, este post é apenas uma achega ao que tanto se tem escrito sobre este tema.
De resto, não sou contra a côr. Há muita BD valorosa e especificamente assim criada e apresentada. Mesmo assim, é preciso cuidado, pois frequentes vezes, o aparente deslumbramento do technicolour, esconde as insuficiências ou mediocridades de verdadeiro e capaz grafismo.
Em certos exemplos aqui registados, optei, em vez da prancha inteira, pela sequência ou pela vinheta. Sem agrupar pelas nacionalidades dos desenhistas, os nomes surgem por ordem alfabética e, dos vivos, indico apenas o ano de nascimento. Mesmo assim, por conveniência, os textos são curtos, estilo telegrama... O importante é o observarmos, com humildade, a beleza notável do grafismo destes desenhistas. A muitas criações surgidas a preto e branco, mais tarde, foi-lhes criminosamente dada a côr!...(Tudo estragado!).
Ora então, vamos lá com os primeiros três autores:


ALBERTO BRECCIA (1918-1993). Dado como argentino, nasceu porém no vizinho Uruguai e não nos consta que tenha optado pela nacionalidade do país de adopção... É um dos "intocáveis" mestres da Banda Desenhada mundial, com vastíssima obra ("El Eternauta", "Sancho Lopez", "Puno Blanco", etc), mas a sua indiscutível obra-prima, que criou com o argumentista Héctor Oesterheld, é "Mort Cinder".
"Mort Cinder", por Alberto Breccia
Vinheta de "Mort Cinder"



ALEX RAYMOND (1909-1956). Um incontornável "peso pesado" da BD norte-americana. Criou diversas e famosas séries, depois continuadas por outros, como "Jungle Jim", "Rip Kirby" e "Secret Agent X9". De qualquer modo, das séries que iniciou, a que está no topo do pódio é, sem dúvida, "Flash Gordon".
Vinheta de "Flash Gordon"
Prancha de "Flash Gordon"


AUGUSTO TRIGO (1938). Nascido na cidade de Bolama (na actual República da Guiné-Bissau), tem cidadania portuguesa. O seu traço, bem cuidado e preciso, é sempre digno de admiração. Na sua obra, constam, entre outras, as narrativas "O Visitante Maldito", "A Sombra do Gavião", "Kumalo" e, talvez no topo, "Luz do Oriente".


Prancha de "Luz do Oriente"
Prancha de "Kumalo"

Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco" que hoje iniciamos, será subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.

HERÓIS INESQUECÍVEIS (21) - TANGUY E LAVERDURE

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As aventuras desta dupla de pilotos da Força Aérea Francesa nasceu na revista "Pilote", a 29 de Outubro de 1959. Foi criada para rivalizar com outros heróis semelhantes: "Buck Danny" (por Victor Hubinon, na revista "Spirou") e "Dan Cooper" (por Albert Weinberg, na revista "Tintin"). O argumentista era Jean-Michel Charlier (também argumentista de"Buck Danny") e o artista gráfico, Albert Uderzo. A primeira aventura: "L'École des Aigles" (A Escola das Águias). 
"L'École des Aigles", a primeira aventura
Amigos inseparáveis, têm personalidades diferentes. Michel Tanguy é sério, honesto e dedicado; Ernest Laverdure é excêntrico, trapalhão e desajeitado. No entanto, impecáveis pilotos, parceiros unidos e bem capazes de enfrentar situações difíceis e missões perigosas. 
O facto de Charlier ser o argumentista, tanto de "Buck Danny" como de "Tanguy e Laverdure", permitiu que, ocasionalmente, estes heróis se encontrassem e colaborassem em determinados episódios.
Até ao oitavo tomo, o duo de autores manteve-se, se bem que nesta última aventura, "Pirates du Ciel", houvesse também o "dedinho" de Marcel Uderzo e de Jean Giraud.
Em 1966, Albert Uderzo, demasiado ocupado com o "seu" Astérix, passa a pasta ao seu colega Jijé, que dá novo estilo, vigoroso e dinâmico, à série. 
Prancha de Mission "Derniére Chance", por Jean-Michel Charlier (argumento) e Jijé (desenho)
Entre 1973 e 1979, a série esteve parada temporariamente. Prossegue, tendo Jijé o apoio de Patrice Serres e Daniel Chauvin. Com o falecimento de Jijé, Patrice Serres continua a desenhar estas aventuras por mais dois álbuns.
Em 1988, surge o 25.º álbum, agora desenhado por Alexandre Coutelis. E acontece nova paragem, até que, em 2002, a série reaparece dando vazão a mais três álbuns (vinte e oito no total, até agora), desta vez com argumentos de Jean-Claude Laidin e arte de Yvan Fernandez (o 26.º e o 28.º) e de Renaud Garreta (o 27.º).
Christian Marin e Jacques Santi
Entretanto, de 1959 a 1962, a série foi adaptada a folhetim radiofónico pela Radio Luxembourg. 
A partir de 1967, François Villiers realizou a respectiva série televisiva, com Jacques Santi (Tanguy) e Christian Marin (Laverdure), sob o título "Os Cavaleiros do Céu". 


"Os Cavaleiros do Céu" (1967)

Thierry Redler e Christian Vadim
Em 1988, nova versão televisiva (que não teve grande impacto), "Les Nouveaux Chevaliers du Ciel", com episódios dirigidos por Patrick Jaiman, Jean-Pierre Desagnat e Jean-Jacques Lagrange, com os actores Thierry Redler (Laverdure) e Christian Vadim (mais tarde substituído por Marc Maury) no papel de Michel Tanguy
Em 2005, Gérard Pirès realizou uma fraca longa-metragem em adaptação livre, onde até estes heróis-BD têm outros nomes.
Em Portugal, para além de onze álbuns (dois pela Íbis e os restantes pela Meribérica-Líber), "Tanguy e Laverdure" estrearam-se na revista "Foguetão" n.º 1, a 4 de Maio de 1961. Avulsamente, alguns episódios da série foram também publicados em: "Jornal da BD", "Cavaleiro Andante", "Tintin" (edição portuguesa), "Selecções BD" e "Zorro".
LB
Com o traço de Uderzo no "Cavaleiro Andante", n.º 554



Prancha de "Mission Speciale", com traço de Jijé
 

A edição integral da série "Les Chevaliers du Ciel".

NOVIDADES EDITORIAIS (43)

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LA MORT, SOUS TOUTES LES FORMES - Edição Lombard. Argumento de Stephen Desberg e traço de Bernard Vrancken. Trata-se do primeiro tomo da série "H.ELL" (claro, um jogo com o termo inglês "hell", que significa inferno).
Num país e num tempo imaginados, o nobre e tão respeitado cavaleiro Harmond Ellander, de repente, cai em desgraça e é banido da corte e despojado de tudo. Até sua esposa Erline, logo o abandona e o jovem nobre fica mesmo proibido de ver os seus filhos, Arthaud (que aceita com entusiasmo sir Allaman, amante de sua mãe) e Helmia (que sofre por não ver o pai).
Mas Ellmander não é condenado à morte nem encerrado numa masmorra. É nomeado pelo rei como questor, encarregado de fazer justiça (ou coisa que o valha) ante os piores criminosos da ralé da cidade. Acerta com as letras do seu nome, e adopta o "nome de guerra" H.ELL. E assim começa a sua turbulenta lenda com muita violência e muito conveniente erotismo.
Maravilhosa arte gráfica complementada com as cores de Mikl.


BD JORNAL / 30 - Edição BD Jornal, sob coordenação de J. Machado-Dias. Este exemplar foi lançado durante o recente Festival da Amadora e vem recheado de belíssimos artigos, contendo também uma entrevista com Nuno Saraiva. E, claro, mais uma vez, uma viagem (já cansativa) ao mundo do herói "Tex", com dezassete páginas, quando, como soe dizer-se, "o que é demais, farta!"...


KAH-ANIEL - Edição Lombard. Com argumento de Yves Sente e a belíssima arte gráfica de Grzegorz Rosinski, "Kah-Aniel", é o 34.º álbum da série "de culto" (assim merecidamente adjectivada pelas maiorias), "Thorgal".
O misterioso (extraterrestre?) Thorgal, feito viquingue por adopção, desta vez embrenha-se pelos desertos escaldantes de zonas mais ou menos arábicas... Acima de tudo, quer salvar e recuperar o seu filho mais novo, o pequenote Ariel, que foi "docemente" raptado pela fanática seita dos "Magos Vermelhos", sendo preparado para ser sacrificado e ser incorporado pelo líder abatido Abdel El Hal...
Curiosos aspectos que aqui se encontram: a bela Shazade terá sido inspirada na famosa Xerazade. A mangnífica cidade Bag Dadh, é muito certamente buscada na actual Bagdad (capital do também actual Iraque).
E, num plano mais sério e cruel, o confronto hipócrita e sinistro entre o Califa Ahmed Al Walond e o Grão Vizir Idriss Bin Hofar será certamente repescado da tão divertida série "Iznogoud"... Estes aspectos serão apenas má interpretação nossa?... Todavia, é um álbum espectacular e a merecer aplausos.


L'OMBRE DES CATHARES - Edição Casterman. Da série "Jhen", criada pelo saudoso mestre Jacques Martin, este é o 13.º tomo, tendo Hugues Payen no argumento e Jean Pleyers no traço e Corinne Pleyers nas cores. Bizarramente, esta vigorosa e controversa (pelos enredos) série, mantém-se rigorosamente inédita em Portugal! Estranha desatenção da parte dos nossos editores de Banda Desenhada!...


GAUGUIN - Edição Lombard. Argumento de Maximien Le Roy e arte gráfica de Christophe Gaultier. Tema: de certo modo, é a biografia do grande pintor (e não só) Paul Gauguin (1848-1903), sobretudo no seu exílio voluntário nas Ilhas Marquesas no Pacífico do Sul, tendo-se então afastado de sua esposa e dos seus cinco filhos, que ficaram em França.
Sempre irreverente e contestatário foi, até ao fim da sua vida, um corajoso rebelde contra muitos aspectos da sociedade, como a polícia, a religião, o casamento, etc. No Pacífico do Sul sentia-se livre, inspirado e feliz, no meio da Natureza e do povo local que bem o estimava.
LB

EVOCANDO RAYMOND REDING

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Raymond Reding (1920-1999)
Exímio no traço firme, dinâmico e elegante, Raymond Reding nasceu em Louviers (Normandia, França) a 23 de Fevereiro de 1920, filho de pai belga e de mãe francesa. Desde muito novo a residir na Bélgica, neste país veio a falecer a 26 de Abril de 1999, em Bruxelas.
Foi pianista de jazz, nadador e tenista. Durante a Grande Guerra, chegou a vender jornais e a ser professor de inglês. Recebeu o título de Cavaleiro da Ordem de Leopold e o Lápis de Oiro, prémio este atribuído pela cidade de Bruxelas.
Como desenhista e argumentista, a sua obra BD centra-se essencialmente em temas desportivos.
Começou a sua carreira em 1944, para a revista "Bravo". Três anos depois, criou Monsieur Cro, um detective, para o jornal "La Dernière Heure". 
Em 1949, trabalha fugazmente para o "L'Aiglon" e, em 1950, ingressa na equipa da revista "Tintin". Estava plenamente aberto o caminho para uma carreira com vastos e belos resultados.
Em 1951, criou "Monsieur Vincent, l'Ami des Pauvres", seguindo-se "Le Pacte de Pashutan" e "Le Chinois au Manteau Rouillé". Passa algum tempo pelas revistas "Spirou" e "Line". Regressa à equipa "Tintin" onde, em 1957, se inicia a sua primeira glória, a série Jari, passada no ambiente do ténis, de que, em breve, aqui faremos a devida referência.
Em 1963, iniciou a série Vincent Larcher, onde aspectos do mundo do futebol e situações insólitas e/ou paranormais funcionam em simbiose.
Vincent Larcher: "O Zoo do Dr. Ketzal"

Em 1972, aparece nova série: "Section R", onde se relatam as rocambolescas aventuras de dois ex-desportistas, Sophie Ravenne e Django Riva, agora a funcionar como jornalistas nos diversos sectores do Desporto.
 

Em 1979, Reding, deixa a revista "Tintin" e passa-se, juntamente com a série "Section R",  para a "Footy", uma revista sobre futebol.
E, neste mesmo ano, com a sua colega argumentista Françoise Hughes, inicia a série Eric Castel, outro futebolista de ficção, campeão do "Barça" e onde dá todo o apoio ao jovem Pablito Varela e seus amigos, os "pablitos".
 

Foram no entanto publicados três álbuns isolados: "Fondation King", "Le Grand Chelem" e "Pytha" que, pressupostamente, seriam os primeiros tomos para novas séries...

Como cita o crítico e de certo modo biógrafo, Michel Denni: "Reding construiu um universo profundamente original, com um grafismo simples, dinâmico e preciso".
Raymond Reding é um talento da 9.ª Arte europeia que merece ser condignamente descoberto ou redescoberto.
LB

Prancha de "Monsieur Vincent"

Prancha de "Le Grand Chelem"
Prancha de "Pytha"

 
O Anderlecht (o maior clube do futebol belga) e os
"Diabos Vermelhos" (alcunha da selecção belga), sob o traço de R. Reding

A BD A PRETO E BRANCO (2) - As escolhas de Luiz Beira (2)

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BURNE HOGARTH (1911-1996). 
Norte-americano, a sua obra é notória, praticamente pelo que desenhou na série "Tarzan", sendo considerado pelo seu cuidado a desenhar com pleno dinamismo a anatomia do corpo humano e de outros animais.
Vinheta de "Tarzan"
Hogarth foi, para muitos, o melhor de todos os desenhadores de "Tarzan"




CLAUDE AUCLAIR (1943-1990). 
Francês, tem obra de vulto ("Les Naufragés d'Arroyoka", "Simon du Fleuve", "La Saga du Grizzl", "Celui-là", etc). A que nos parece mais admirável e espectacular obra de luxo, é "Bran Ruz", onde explode maravilhosamente o seu grafismo.
Prancha de "Bran Ruz"
Prancha de "Simon du Fleuve"




DIDIER COMÈS (1942-2013).
Cidadão belga. Excluindo os dois primeiros tomos da série "Ergün l'Errant", praticamente só desenhou com toda a perícia, a preto e branco: "L'Arbre-Coeur", "La Belette", "Iris", "Eva", "Les Larmes du Tigre", etc, sendo a notável narrativa "Silence" a sua obra-mor.
Prancha de "Silence"
Prancha de "Dix de Der"


Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco" será subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.

NOVIDADES EDITORIAIS (44)

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LA PERNICIEUSE VERTU - Edição Delcourt. Argumento de Alejandro Jodorowsky, traço de Theo (aliás, Theo Caneschi) e cores de Florent Bossard. "La Pernicieuse Vertu"é o tão aguardado terceiro tomo da série "Le Pape Terrible".
Júlio II, o "Papa Terrível", marcou bem a sua passagem pelo Vaticano, tanto pelo seu magnífico mecenato para o notável engrandecimento artístico da capital do catolicismo como pela vida escabrosa que levou, através de desbragadas sexualidades e por assassinatos que mandou executar. Nisto, ultrapassou nos seus caprichos, o papa Alexandre VI (da sinistra família Bórgia).
Júlio II (Giuliano Della Rovere) tinha uma imaginação diabólica e, o que desejava... conseguia: vitórias guerreiras, tesoiros para os cofres da Santa Sé e exageradas paranóias sexuais. Segundo este argumento do tão controverso Jodorowsky, Júlio II terá ido para a cama, em simultâneo, com os seus pintores tão protegidos, mas que se detestavam: Miguel Ângelo e Rafael!...
Episódio histórico ou especulado? De qualquer modo, as editoras-BD portuguesas têm-se acobardado à beatice e nenhuma ainda apostou nesta série de peso.

RETOUR AU CONGO - Edição Glénat. Argumento de Yves H. e arte gráfica  de Hermann. Segundo a editora, "Retour au Congo", é uma homenagem de Hermann às grandes narrativas de aventuras da idade de oiro  da banda desenhada franco-belga. E é um gesto conseguido!
Claro que nos leva, nos subentendidos, à obra de Hergé e, muito especialmente, a "Tintin no Congo". De certo modo "camuflados", lá estão Tintin e o próprio Hergé e até, os Dupondt e uma possível Bianca Castafiore.
Um álbum delicioso e bem conseguido, pela dupla de pai Hermann e filho Yves. 
A ler!

 
HIT AND RUN - Edição Lombard. Com argumento de Jean-Cristophe Derrien e traço de Simon Van Liemt, "Hit and Run"é o quarto tomo da série "Poker", fechando assim o "primeiro ciclo" desta mesma série.
O jovem Mark Middleton está a chegar ao fim da sua arriscada busca para  descobrir a verdade sobre o assassinato de seus pais. E conta, então, fazer a sua justiça pessoal. O desafio joga-se contra uma poderosa equipa de jogadores de póquer... Porém, a conclusão é inesperada!

 
ANTARES/5 - Edição Dargaud. Autor: Leo.
Uma ousada equipa chega ao desconhecido planeta Antares 4. Foi daqui que se projectou um poderoso e estranho foco luminoso que terá raptado a filha de Kim Keller. Os enigmas e os perigos vão adensar-se, com a agravante de Jedediah Thorton, um fanático religioso, estar constantemente a contradizer tudo e todos, chegando a pôr em risco as vidas do resto da equipa.
"Antares"é uma entusiamante série de ficção-científica.

LES DIEUX SEULS LE SAVENT - Edição Lombard. Argumento de Thomas Mosdi e  arte gráfica de David Cerqueira.
É o segundo tomo da série "Minas Taurus", onde humanos e deuses (da Mitologia Grega) se entrechocam. As falhas e as coragens dos humanos em confronto com os caprichos pressupostamente divinos. O jovem soldado espartano Minas, uma vez que matou uma sacerdotisa da deusa Atena, perdeu a memória. Condenado à solidão e a um certo nomadismo, para expiar o seu crime e recuperar-se, deve salvar vidas inocentes. Quantas? Só os deuses o sabem...

HERÓIS INESQUECÍVEIS (22) - TED KIRK

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Curiosamente, este herói-BD "nasceu" em Portugal, mas é "estrangeiro". 
Com textos  de Raúl Correia, o nosso saudoso Vítor Péon (1923-1991), ousou em boa hora e quebrou a arrastada linha de narrativas infantis e/ou juvenis , criando uma BD para adultos, com o herói TED KIRK.
Ele é um detective corajoso, inserido na aventura realista, violenta, bem na linha dura dos enredos policiais de além-Atlântico. O que se pode indicar como "o romance negro".
A primeira aventura, que já é um incontestável clássico da Banda Desenhada Portuguesa, foi "A Casa da Azenha", que se iniciou em "O Mosquito" n.º 1027, a 27 de Abril de 1949, terminando no n.º 1085, a 16 de Novembro desse mesmo ano. Foi logo um êxito pleno!
 

Vinheta de "A Casa da Azenha" onde se observam
pormenores surrealistas...
Esta aventura tem um pormenor curioso que A. Dias de Deus citou: "O desenhador chega mesmo a tentar uma incursão pelo campo do surrealismo, na fabulosa sequência do sonho".
Muitos anos volvidos, "A Casa da Azenha" foi reeditada em álbum pela Asa (então sediada no Porto), onde foram aplicadas cores às pranchas. Mesmo assim, ao que consta, o álbum com esta primeira aventura de Ted Kirk, está esgotado.
A segunda narrativa com este herói, "Tormenta", iniciou-se em "O Mosquito" n.º 1086, a 19 de Novembro de 1949 e terminou no n.º 1186, a 17 de Junho de 1950. Mas a sua publicação foi acidentada pois, volta não volta, a narrativa era interrompida... No entanto, uma história bem escaldante como sugere o título.
 

Em 2001, o Grupo Bedéfilo Sobredense (GBS), reeditou esta narrativa no seu "Cadernos SobredaBD" n.º 16, com uma capa deslavada e onde, por estranho desleixo, falhou a 21.ª prancha (!!).
Para tristeza imensa dos bedéfilos, pelo menos dos entusiastas desse tempo, as aventuras de Ted Kirk limitaram-se apenas a estas duas histórias: "A Casa da Azenha" e "Tormenta".
Seria de correctíssimo gesto que alguma das nossas editoras-BD (ainda existem?!) apostasse num álbum integral das aventuras de Ted Kirk, mas agora numa esmerada edição.
LB

"A Casa da Azenha" (Edições Asa)
"O Mosquito", n.º 1086 (19 de Novembro de 1949)
"O Mosquito", n.º 1141 (31 de Maio de 1950)
"O Mosquito", n.º 1145 (14 de Junho de 1950)

BD E HISTÓRIA DE PORTUGAL (5) - VIRIATO

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Foi longa, arrastada e cruel a tentativa de expansão e subjugação sobre os outros Povos, pelo Império Romano. E mesmo assim, jamais tal Império esteve efectiva  e definitivamente conseguido... Nessa constante desinquietação bélica, cinco líderes (todos com um fim trágico) se distinguem na luta corajosa pelos respectivos povos contra Roma: 
VIRIATO (Lusitânia), JUGURTA (Numídia), VERCINGETÓRIX (Gália), ARMÍNIO (Germânia) e DECÉBALO (Dácia). Jugurta e Vercingetórix foram assassinados em Roma, durante os respectivos tempos de cativeiro. Armínio, já libertador triunfante dos germanos, foi também assassinado, ao que parece, por ordem de seu sogro pró-romano e que o odiava. Viriato, foi vilmente morto enquanto dormia no seu acampamento. Decébalo, vendo-se definitivamente derrotado, preferiu suicidar-se a entregar-se...
E fiquemo-nos agora pelo "nosso" Viriato.
Ninguém sabe onde nasceu, nem qual o seu verdadeiro nome(?!...), pois que viriato era, para a época e o respectivo povo, um estatuto de um eleito por merecida honra e leal confiança. Eleito pelo povo, passava a usar sempre as vírias (espécie de braceletes). Mas este viriato, que passaremos a tratar como se a sua distinção fosse o seu nome, tem uma imensa e justa aura.
Valente e destemido, cumpridor da sua palavra e exemplar na sua austeridade no modo de viver, desprezava as riquezas  e as grandes comezainas (vários autores da época registaram bem o desdém que demonstrou ante a pompa do seu casamento). Exemplar até hoje, gigantesco como dirigente capaz do seu amado povo, bem próximo do exemplo de Pelópidas (da grega Tebas, segundo os escritos de Plutarco), nos dias de hoje contam mais as lendas que a realidade histórica a seu respeito.
E muito se tem escrito sobre Viriato,sempre com fantasias e conclusões românticas.
Até o francês Pierre Corneille escreveu em 1662, a tragédia "Sertorius", onde figura Viriate (Viriata), imaginada filha de Viriato!!!... 
Que ele tenha nascido na região dos Montes Hermínios (actual Serra da Estrela) não é garantido e apenas o investigador Schulten indica tal aspecto. O historiador grego Diodoro, da Sicília, citou-o assim: "Enquanto comandava, ele foi o mais amado do que alguma vez alguém fora antes dele". Aliás, Viriato pertencia à nobreza lusitana e não era um simples pastor. Pastor sim, porque tal como outros nobres (não só da Lusitânia), era dono de rebanhos. De qualquer modo, nos escritos recentes, a grande obra, mais completa, pesquisada e analisada é "Viriato, a Luta pela Liberdade", de Mauricio Pastor Muñoz, sob edição Ésquilo (Obrigatório ler!).
Viriato é tão respeitado e admirado em Portugal como em Espanha, pois a Lusitânia albergava o território português até ao rio Douro e a Estremadura espanhola, e teria como capital a actual cidade de Mérida. Há famosas estátuas de Viriato em Viseu e em Zamora.
Mapa da Lusitânia
 
Estátuas de Viriato em Viseu e Zamora, respectivamente

Em 2010-2012, a vizinha Espanha realizou a série televisiva "Hispania, la Leyenda", com o actor Roberto Enriquez no papel de Viriato. Eis um tema maravilhoso que poderia resultar num espectacular filme, talvez numa coprodução luso-hispano-italiana...
Pela Banda Desenhada, é de Portugal que mais exemplos conhecemos até ao momento, pois da parte espanhola apenas sabemos de dois, mesmo assim não devidamente documentados:

MANUEL GAGO (já falecido), fez uma versão nos anos 40 e terá criado uma nova versão que permanece inédita.
"Viriato y la Destruccion de Numancia", por Manuel Gago (Espanha)...
 
...e a versão que permanece inédita.

E CHUTY, numa linha vagamente humorística, criou "Viriato Contra Roma".
 
 "Viriato contra Roma", por Chuty

Duvidamos que não haja mais exemplos na BD espanhola...
Quanto a Portugal, anotamos até agora, oito exemplos:

EUGÉNIO SILVA E PEDRO CARVALHO: "Viriato", em duas pranchas, para um livro escolar.
 
"Livro de História da 4.ª Classe" (Porto Editora, 1972), com
desenhos de Eugénio Silva e texto de Pedro Carvalho

JOSÉ GARCÊS: "Viriato", em 33 pranchas, publicado no "Cavaleiro Andante" a partir do n.º 27 (com a capa no n.º anterior). Foi muito mais tarde reeditado no já extinto semanário "Jornal de Almada".
 
"Viriato", por José Garcês - "Cavaleiro Andante"

PEDRO CASTRO: "Viriato", em 15 pranchas, no n.º 1 da colecção de fascículos "Herói".
 
Colecção de fascículos "Herói" (n.º 1) - desenhos de Pedro Castro 

JOSÉ SALOMÃO: "Viriato, o Pastor dos Montes Hermínios", álbum editado pelo jornal "O Emigrante".
 
"Viriato - o Pastor dos Montes Hermínios" - texto e desenhos de José Salomão

VICTOR MESQUITA: "Viriato", com 25 pranchas (capa incluída), publicado na revista "Jacto".
 
"Viriato" na revista "Jacto" - texto e desenhos de Victor Mesquita

JOÃO AMARAL E RUI CARLOS CUNHA: "A Voz dos Deuses", álbum adaptado do romance homónimo de João Aguiar, pelas edições Asa.
Capa de "A Voz dos Deuses"...
...e prancha dupla da mesma obra.

BAPTISTA MENDES: "Viriato", em uma prancha, publicada em 1963, no "Pim-Pam-Pum".
"Pim Pam Pum" (31.10.1963) - texto e desenhos de Baptista Mendes

ARTUR CORREIA E ANTÓNIO GOMES DE ALMEIDA: "Viriato", em 14 pranchas, episódio incluído no álbum "Os Super-Heróis da História de Portugal - 1", pelas edições Bertrand.
 
"Super-Heróis da História de Portugal 1" (Bertrand Editora)

ARTUR CORREIA E MANUEL PINHEIRO CHAGAS: no 1.º volume da "História Alegre de Portugal", algumas pranchas foram dedicadas a este herói.
 

"História Alegre de Portugal 1" (Bertrand Editora)

CRISÓSTOMO ALBERTO: também na linha humorística, Viriato, aparece em largo número de pranchas no álbum "No Tempo dos Lusitanos", publicado pelas Edições Asa.
 
"No Tempo dos Lusitanos" (Edições ASA) - texto e desenhos de Crisóstomo Alberto

Haverá mais?... Já é tanto, mas mesmo assim tão pouco, por este fabuloso herói da nossa História. É que as raízes da independência e da liberdade, sobretudo de Portugal, actuaram logo não com o tão respeitável Dom Afonso Henriques, mas sim com o valoroso e ilustre Viriato.

A BD A PRETO E BRANCO (3) - As escolhas de Luiz Beira (3)

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EDUARDO TEIXEIRA COELHO (1919-2005). 
Cidadão português nascido nos Açores, faleceu em Itália, onde residia há muito. Foi sem dúvida o "mestre" de muitos dos seus "pares do reino". Tem obra imensa e vigorosa (contos de Eça de Queiroz, a série "Falcão Negro", "Decameron", "Ragnar, o Viking", "O Caminho do Oriente", "Lobo Cinzento" e toda uma quase infindável lista de títulos). Para aqui, optamos pelo exemplo de "Os Doze de Inglaterra", uma grande criação sua que parece "apagada" na memória dos bedéfilos...


"Os 12 de Inglaterra" (com legendas didascálicas)...
...e uma prancha de "A Peste" (história publicada na revista "Selecções BD"),
já com a utilização do balão.


EMÍLIO FREIXAS (1899-1976). 
É um dos inesquecíveis talentos da Banda Desenhada espanhola. Com um traço firme e elegante, desde as aventuras ficcionadas às adaptações de clássicos literários de Jules Verne, Jonathan Swift e Rafael Sabatini. Em Portugal, publicaram-se alguns exemplos das suas criações.
"Capitão Aço no México", publicado no "Jornal do Cuto"...
...e prancha de "It Was Love", publicada na revista inglesa "Valentine".



ÉTIENNE LE RALLIC (1891-1968). 
Francês de alto e fino talento, muitas criações suas têm a abordagem ao "western" e a ambientes da capa-e-espada. 
E daqui, a famosa e extensa obra "Capitão Flamberge", maravilhando qualquer leitor sempre que a lê ou relê.



"Capitão Flamberge"...
...e uma prancha do primeiro episódio de "Poncho Libertas" (1947)

Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco"é subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.

BOAS FESTAS

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O BDBD deseja a todos os seus amigos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!

Tira da série "RIbanho" (publicada a 24.12.2010, no Diário do Alentejo) da autoria de LuCa

NOVIDADES EDITORIAIS (45)

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AS ÁGUIAS DE ROMA / 4 - Edição Asa. Autor: Enrico Marini.
Esta magnífica série focando as lutas da Germânia (mais ou menos com os vários povos unidos pelo valoroso Ermanamer ou Arminius) contra o Império Romano, está cada vez mais deslumbrante. E neste quarto tomo, Enrico Marini esmerou-se nas espectaculares cenas de batalhas e no ilustrar sem qualquer reserva, momentos violentos e típicos dessas épocas.
Praticamente em simultâneo com esta publicação em português, editou-se a versão francesa, "Les Aigles de Rome / Livre IV", pela Dargaud Éditeur.

 
DRACULEA - Edição Casterman. Autores: Jerry Frissen e Jean-Luc Cornette como co-argumentistas, traço de Jean Pleyers e cores por Corinne Pleyers.
"Draculea"é o 14.º tomo da série "Jhen", que teve início sob a parceria Jacques Martin-Jean Pleyers. O argumento deste tomo narra a deslocação do jovem e destemido arquitecto Jhen Roque até à Valáquia, região do histórico e lendário Drácula.
Nada indica aqui o mito do vampirismo, mas apenas sobeja crueldade, muito sangue e dementes paixões incontroladas. Não deixa de ser um álbum de aplauso.
Nota: a série "Jhen" continua inédita em português!...

 
LE ROI POURRI - Edição Delcourt. Argumento de Thierry Gloris e arte gráfica de Joël Mouclier.
"Le Roi Pourri"é o terceiro e último tomo da exuberante e escaldante série "Merídia", com momentos bem insólitos e uma alta e atrevida licenciosidade no que toca ao erotismo. Claro que tem cenas chocantes, mas para mentes apardaladas e falsamente moralistas. 
Aplausos plenos!

 
L'ONDE SEPTIMUS - Edição Dargaud / Blake et Mortimer. Continuando a série "Blake e Mortimer" criada por Edgar-Pierre Jacobs, este é o 22.º tomo, com argumento de Jean Dufaux, traço de Antoine Aubin e Étienne Schréder e cores de Laurence Croix.
É como que uma continuação do famoso tomo "A Marca Amarela", que se registou como o melhor de toda a série. E Jean Dufaux agarrou bem esta ideia.
Um pequeno grupo de admiradores e saudosistas do diabólico Prof. Jonathan Septimus, tenta avançar com as pesquisas deste, enquanto que, por sua vez, o Prof. Mortimer, procura o mesmo... São audácias de avanço muito perigosas. O fantasma de Septimus entra em cena e desdobra-se assustadoramente, em busca da sua cobaia por excelência, "Guinea Pig", ou seja, o sinistro coronel Olrik. E por todo este desenrolar, Francis Blake, descobre no subsolo londrino uma grande e enigmática astronave...
Este álbum foi também logo editado em português pela Asa.

MASSALIA! MARSEILLE - Edição Casterman. Continuando a série "Les Voyages d'Alix" de Jacques Martin, Gilbert Bouchard ilustra profusamente a história da cidade de Marselha (França), desde a sua fundação pelos fenícios, que lhe deram o nome de Massália, até à sua conquista por Júlio César, tendo a  cidade tomado então o nome de Massília.
Interessante e didáctico, o prefácio assinado pelo arqueólogo Manuel Moliner.

GIL VICENTE NA BANDA DESENHADA

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Estátua de Gil Vicente, datada de 1842,
da autoria de Francisco de Assis Rodrigues
Gil Vicente  ou "Mestre Gil", como respeitosamente também é tratado, é uma valorosa figura da nossa Cultura que tem certos aspectos discutíveis a envolvê-lo. Isto, porque o tomam como o grande notável do Teatro Português e também como exímio ourives.
Não há acordo, pois doutos estudiosos divergem nos seus pareceres: o Gil Vicente dramaturgo e ourives, era uma só e mesma pessoa ou havia dois com o mesmo nome e, de certo modo, contemporâneos?
Mas é o Gil Vicente autor-encenador-actor que agora e aqui nos interessa.
Terá nascido pelo ano de 1465, não havendo certezas do local: Guimarães? Lisboa? Ou algures na zona da actual Beira Interior?
Viveu protegido pela Corte (D. Manuel I e D. João III). Frequentou altos estudos em Portugal e em Espanha e é possível que também se tenha cultivado por breve tempo em França. 
Casou com Branca Bezerra (donde dois filhos) de quem enviuvou, casando depois com Melícia Rodrigues, que lhe deu mais três filhos: Paula, Luiz e Valéria. Destes, foram os dois primeiros que compilaram até onde foi possível, os textos dispersos (teatro e poesia) do pai.
Mesmo assim, alguns foram criminosamente censurados pela Santa Inquisição.
A sua obra com as devidas ideias, localiza-se na transição da Idade Média para o Renascimento.
Sabe-se que escreveu, pelo menos, 47 peças mas quatro delas ("Auto da Vida no Paço", "Jubileu de Amores", "Auto da Aderência do Paço" e "A Caça dos Segredos") perderam-se. E o "Auto da Festa", só séculos volvidos, foi encontrado pelo Conde de Sabugosa.
A estreia de Gil Vicente foi auspiciosa quando, na Corte, na noite de 8 de Junho de 1502, apresentou e interpretou o seu texto "Monólogo do Vaqueiro" (ou "Auto da Visitação). O seu caminho para este seu inspirado talento, às vezes místico e outras, bem crítico e mordaz, estava apontado. Dizem que o nosso popular Teatro de Revista tem a sua base nos textos de Mestre Gil. Ficou famoso além fronteiras
e sabe-se até que o filósofo holandês Erasmo de Roterdão estudou o idioma português para apreciar as suas obras no original.
E vieram peças atrás de peças, como: "Quem Tem Farelos?", "Auto da Alma", "Auto da Índia", "O Velho da Horta", "Auto da Barca do Inferno", "Auto da Barca do Purgatório", "Auto da Barca da Glória", "Cortes de Júpiter, "Farsa do Juiz da Beira", "Auto do Amadis de Gaula", "Auto da Índia", "Farsa de Inês Pereira", "Auto de Mofina Mendes" e, a última que escreveu, em 1536, "Floresta de Enganos". Depois, retirou-se para Évora onde faleceu nesse ano (ou no seguinte...), estando sepultado no Mosteiro de S. Francisco, em cuja campa está o epitáfio que previamente escrevera.
É considerado o "pai do Teatro Português", o que não é rigorosamente verdade, pois nos princípios da nossa nacionalidade já havia manifestações teatrais em festividades religiosas e também na corte de D. Sancho I (que reinou de 1185 a 1211) com a representação  dos "arremedilhos", onde se celebrizaram os mais antigos actores portugueses de que há memória: Bonamis e Acompaniado. 
Mas é com Gil Vicente que o Teatro Português se regista a sério, tanto mais que ele inspirou e bem, outros autores da época: António Ribeiro Chiado, Luiz Vaz de Camões, Baltazar Dias, António Ferreira, Sá de Miranda, etc.
E a Banda Desenhada no meio disto tudo?
Pois já lá vão bons anos, a saudosa desenhista Manuela Torres criou, em três pranchas, "O Ourives da Corte" , reproduzida no n.º 2 de "Cadernos SobredaBD".
Em duas pranchas, também Baptista Mendes criou "Gil Vicente", com primeira publicação no "Jornal do Exército".
"Gil Vicente", por Baptista Mendes (Jornal do Exército, 1975)

E, enfim, quatro notáveis álbuns!
Com o talento de José Ruy e pela Editorial Notícias: 
"Auto da Índia / Farsa de Inês Pereira"...
 
Capa e prancha de "Auto da India", por José Ruy (Editorial de Notícias)

...e "Os Autos das Barcas" (Auto da Barca do Inferno, Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca da Glória).
 
Capa de "Os Autos das Barcas" e prancha de "Auto da Barca do Inferno",
por José Ruy (Editorial de Notícias)

Com a mestria humorística de Artur Correia e pela Bertrand Editora, os outros dois álbuns: "Auto da Barca do Inferno"...
"Auto da Barca do Inferno", por Artur Correia (Bertrand Editora, 2007)

...e "Farsa de Inês Pereira". 
Capa e prancha de "Farsa de Inês Pereira", por Artur Correia (Bertrand Editora)

Com base noutra peça de Mestre Gil, Artur Correia está a elaborar o "Auto de Mofina Mendes" (Venha ele!).
Conselho: leiam, pela Literatura em si ou pela Banda Desenhada (ou vejam-nas, se algum peça estiver em cena) as obras  do autor aqui recordado. 
A Cultura portuguesa e Gil Vicente agradecem.

PELA BD DOS OUTROS (10) - A BD DAS FILIPINAS

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Localização das Filipinas na Ásia
Nação-arquipélago com a capital em Manila, é banhada pelo Oceano Pacífico (que não é nada pacífico...). As Filipinas e Timor-Leste são os únicos países da região que seguem a Fé católica. Tornaram-se independentes em 1898. 
A moeda é o peso filipino.
Aqui  chegou em 1521 o nosso épico navegador Fernão de Magalhães, que na região faleceu em combate a 27 de Abril desse ano. É um país sofredor pelos tufões, erupções vulcânicas, terramotos, pelas ditaduras que por lá funcionaram, pelo domínio espanhol e depois pelo dos norte-americanos, suportando ainda a guerrilha de uma minoria islâmica. Como idiomas, predominam o local tagálog e o inglês e ainda, alguns resquícios do castelhano, sobretudo nos nomes e apelidos.
Com uma respeitável força cultural, tem como escritores famosos José Rizal, Antonio Luna, Arturo Relleza Rotor, Antonio M. Molina, etc. 
Nas artes cénicas, distinguem-se os actores Daniel Padilla, Mylene Dizon, Perla Bautista e Derek Ramsay, entre outros.
Pelo mundo dos seus "Komics" (Banda Desenhada), este país é considerado como o que abrange o maior número de desenhistas, depois dos Estados Unidos.
A vasta quantidade também pressupõe um bom lote na qualidade, comprovada nas produções. Daí, vamos citar apenas exemplos, a saber: Tony de Zuñiga, Alfredo Alcala, Mar Amongo, Ernie Chan, Alex Niño (que, de entre as suas criações, regista a bela adaptação do célebre clássico literário, "O Homem Invisível"), Nestor Redondo, Vicatan (que teve o conseguido arrojo de adaptar à BD, três peças de William Shakespeare: "Otelo", "Macbeth" e "Júlio César"), Gerry Talaoc, Lan Medina, Nardo Cruz, Virgilio Redondo, Frank Redondo, Val Calaquian, Fred Carrillo, Eufrónio Reyes Cruz (que assina como E. R. Cruz) e, nos mais novos, Carlo Pagulayan.
Lan Medina, Alex Niño e Carlo Pagulayan - três autores filipinos de muito talento.
Vários desenhistas filipinos ultrapassaram o espaço do seu país e foram aceites e publicados noutros países, mormente nos Estados Unidos da América. Alguns exemplos foram também editados em português pela nossa extinta editora Publica. E ainda na lusofonia, por exemplo, "O Homem Invisível", na versão desenhada por Alex Niño, foi editado no Brasil e em Moçambique.
Prancha de "O Homem Invisível", por Alex Niño
É tempo da BD Filipina ser condignamente "descoberta" pelos bedéfilos portugueses!...
LB

Prancha de "A Ilha do Tesoiro", por Nardo Cruz
Prancha de "O Príncipe e o Pobre", por E. R. Cruz
Prancha de "Caninos Brancos", por Fred Carrillo
Prancha de "O Máscara de Ferro", por Frank Redondo
Prancha de "Viagem ao Centro da Terra", por Val Calaquian
Arte de Tony de Zuñiga
Arte de Nestor Redondo

A BD A PRETO-E-BRANCO (4) - As escolhas de Luiz Beira (4)

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FERNANDO BENTO (1910-1996). 
É outro incontornável talento português e com uma obra vastíssima, com a maior parte "perdida" e dispersa em revistas da época. Em muitas delas, como no "Diabrete" e no "Cavaleiro Andante", deram cor a variadíssimas pranchas, sem qualquer respeito e atenção pelo traço do artista, o que resultou por vezes numa autêntica "borrada". Da sua obra imensa, salienta-se: "A Ilha do Tesouro", "Serpa Pinto", "Nuno Álvares Pereira", "As Minas de Salomão", "Moby Dick", "A Torre das Sete Luzes", etc, etc. 
Prancha de "As Mil e Uma Noites"
Prancha de "Um Campeão Chamado Joaquim Agostinho"

FRANCO CAPRIOLI (1912-1974).
É um dos maiores desenhistas italianos de sempre. O seu jogo gráfico com o preto e branco é apenas... espectacular. A cor (que foi dada em certas edições ou reedições) só estragou - digamos, "apagou" - o valor refinado do seu traço. Fica aqui um exemplo, ainda puro, da sua criação: "O Elefante Sagrado".
Prancha de "O Elefante Sagrado"
Prancha de "Nell'avventura del Mare"



FRANÇOIS SCHUITEN (1956). 
Belga, tem vasta e esmerada obra, donde se salienta a série de culto, "As Cidades Obscuras", em parceria com o seu amigo de infância, Benoît Peeters. Vários tomos foram editados em Portugal. 

Prancha de "As Cidades Obscuras"
Prancha de "A Teoria do Grão de Areia"

Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco"é subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.

NOVIDADES EDITORIAIS (46)

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ARDALÉN - Editora: Asa. Autor: Miguelanxo Prado.
Já tínhamos boas saudades de ler algo de novo sob a criação deste grande autor da Galiza. E aí está agora nos escaparates este belíssimo álbum, "Ardalén".
Na zona galega onde sopra o estranho vento Ardalén, vindo do Atlântico, a jovem Sabela investiga e tenta reconstruir o que for possível, da sua história... Vai-lhe valendo o velhote Fidel, um tanto louco e um tanto desmemoriado, que vive solitário e tem bizarras  visões.
Como se cita nesta obra, "Somos o que recordamos. Mas a memória não é um registo objectivo e inalterável". Por isto e por aquilo, "quem não recorda, não vive".
"Ardalén"é uma obra encantadora de leitura obrigatória.

CONQUISTADOR / 3 - Edição Glénat. Autores: Jean Dufaux (argumento), Philippe Xavier (traço) e Jean-Jacques Chagnaud (cores).
É o terceiro tomo da série "Conquistador", plena de momentos altamente
violentos, onde coisas muito estranhas vão acontecendo... Os conquistadores
espanhóis, entre si divididos, buscam as riquezas do império azeteca gerido
por Montezuma. Mas a selva dessa região, a América Central, alberga outras
e insólitas forças que sabem actuar na ocasião própria...

L'ONCLE PAUL PAR JEAN GRATON - Edição Dupuis. É um integral compilando as histórias curtas baseadas em factos reais, que Jean Graton elaborou para a revista "Spirou", bem antes de iniciar a famosa série automobilística "Michel Vaillant" para a revista "Tintin": "Les Belles Histoires de l'Oncle Paul par Jean Graton".
Acontece que Oncle Paul  esconde a acção de diversos argumentistas.
Nestas 37 histórias, Dino Attanasio é o argumentista de duas, Jean-Michel Charlier de três  e o "Oncle Paul" das restantes trinta e duas, é Octave Joly.
Em jeito de prefácio, o texto biográfico (e não só) de apresentação é da autoria de Morgan Di Salvia.


L'OMBRE D'HÉCATE - Edição Casterman. Argumento de Blandine Le Callet e grafismo de Nancy Peña. As cores são de Sophie Dumas e Céline Badaroux-Denizon. Ou seja, uma série toda efectuada por mulheres dedicadas à Banda Desenhada.
"L'Ombre d'Hécate"é o primeiro tomo da série "Médée".
Medeia, forte personagem das lendas histórico-mitológicas da Grécia Clássica,
foi celebrada por muitos autores, donde se destaca a tragédia homónima escrita
por Euripides (480-406, AC). Há versões diversas, se bem que próximas, sobre
a lenda de Medeia. Princesa da Cólquida (hoje República da Geórgia), teria alguns poderes pela feitiçaria. Apaixonou-se por Jasão (que comandava os famosos Argonautas), ajudando-o a apoderar-se de Velo (ou Tosão) de Oiro, fugindo com Jasão e os Argonautas. Mais tarde, toma conhecimento que Jasão já não a ama e que a trai e se predispõe a casar com Creusa. Num gesto de cruel vingança, mata os filhos que tivera com Jasão e foge.
As autoras desta série mitológica propõem-se dismistificar a lenda e narrar a
verdade histórica de Medeia...

LE SANG DES INITIÉS - Edição Les Humanoïdes Associés. Argumento de Alain Paris e arte gráfica de Val (aliás, Valérian Taramon). "Le Sang des Initiés"é o segundo tomo da marcante série "Jaemon".
Neste segundo tomo, Jaemon, aparece já como um jovem adulto. Príncipe bastardo, perseguido sempre por uns e zelosamente protegido por outros, ele é, no entanto, um predestinado, pois nasceu com a marca sagrada dos antigos Atlantes nas suas costas... E tudo isto se passa na Antártida, em tempos que o tempo já esqueceu, quando este continente ainda estava longe de ser todo coberto de gelo...
"Jaemon"é uma série sumptuosa, com um certo cariz "histórico" e plena de enigmas. Uma série que terá quatro álbuns no total.

A BD A PRETO E BRANCO (5) - As escolhas de Luiz Beira (5)

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GRZEGORZ ROSINSKI (1941). 
Nascido na Polónia, aqui iniciou a sua carreira, com um grafismo cada vez mais apurado. Sua famosa série "Thorgal" (a cores), é uma obra de referência, muito embora muitos considerem que a sua obra-prima é "O Grande Poder do Chninkel", que posteriormente foi reeditada a cores. Mas a glória está na primeira versão a preto-e-branco. Rosinski reside na Bélgica.

Pranchas de "Le Grand Pouvoir du Chinkel"



HAROLD FOSTER (1892-1982).
Considerado de nacionalidade norte-americana, é porém, canadiano por nascimento. Com o seu admirável talento para o grafismo, chegou a desenhar para a série "Tarzan, mas depois criou e singrou em absoluto com a monumental série "Príncipe Valente". E por aqui, o preto e branco ganha totalmente. Um deslumbre!
Vinheta de "Prince Valiant"
Prancha 71 de "Prince Valiant"


HUGO PRATT (1927-1995). 
É mais um italiano de pleno talento que influenciou bastantes outros desenhistas de Itália e não só. Também argumentista de altas capacidades, é inegável ícone da sua obra a série "Corto Maltese". Chegou a fazer parceria com o seu colega Milo Manara, funcionando então como autor dos enredos.
"Corto Maltese", por Hugo Pratt
Prancha de Ernie Pike (com argumento de Oesterheld)
Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco"é subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.

2014: O CENTENÁRIO DE JIJË

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Jijë (1914-1980)
Admirável, genial, humilde e mestre, ele foi o grande Jijë, ou seja, Joseph Gillain. Nasceu a 13 de Janeiro de 1914 e morreu a 20 de Junho de 1980, com a cidadania belga, mas a sua arte é tão diversa e imensa e incontestavelmente admirada para além das fronteiras do seu pequeno (geograficamente) país, que ele é hoje um pilar indestrutível da Banda Desenhada mundial e, mais especificamente, da Europa.
Pois a 13 de Janeiro deste novel ano em que estamos, marcou-se oficialmente o primeiro centenário do seu nascimento, efeméride que indica bem que o 2014 será o "ano Jijë". Todos, mas mesmo todos os bedéfilos (argumentistas, desenhistas, editores e leitores em geral, não importa de que geração) lhe devem uma comemoração ao longo do ano, com a devida e sincera admiração e agradecimento pelo seu talento e obra. Só uma "sabichonice canastrona" poderá pensar o contrário!...
Jijë não foi, mas é está, pois a sua indestrutível obra tal o afirma e confirma. E, como alguém citou, "não há presente nem futuro, mas sim e sempre, um passado que continua".
Jijë foi mestre e amigo de colegas seus que se tornaram também famosos e grandes na BD, como Morris, Eddy Paape e André Franquin, abençoados "aprendizes" que bem souberam entender as fraternas e sábias indicações do mestre.
A obra de Jijë foi parcialmente publicada em Portugal em revistas como o "Cavaleiro Andante", "Mundo de Aventuras", "Tintin", entre outras. 
Em algumas incursões pelo humor, marcou-se divertidamente com a série "Blondin et Cirage" e em paródias breves que fez da sua série "Jerry Spring".
Elaborou alguns álbuns das séries "Tanguy et Laverdure", "Jean Valhardi" e "Barbe-Rouge". 
 

Adaptou à BD as biografias de Don Bosco, Baden-Powell, Jesus Cristo (Emmanuel), Charles de Foucauld, Bernardette Soubirous e Cristóvão Colombo. 


Ilustrou uma versão do clássico da Literatura, "O Conde de Monte-Cristo". 
Na versão "álbum único", salienta-se "El Senserico" e "Blanc Casque".

Porém, a sua grande e mais famosa glória, a "cereja no topo do bolo", recai na série "Jerry Spring", com 22 álbuns. Mas este último, já teve argumento de Festin e grafismo de Franz.
Nos 21 álbuns precedentes, sempre com o seu deslumbrante traço, Jijë foi algumas vezes argumentista de si próprio, mas também ilustrou argumentos de Maurice Rosy, René Goscinny, Jean Acquaviva, Daniel Dubois, Jacques Lob e de seu filho, Philip Gillain.
As Éditions Dupuis, mais ou menos recentemente, editaram cinco tomos integrais de "Jerry Spring", notavelmente a preto-e-branco. Uma preciosidade para os bedéfilos coleccionadores!...
É de toda a justiça (cultural, pelo menos) que, também em Portugal, se comemore devidamente o primeiro centenário do nascimento de Jijë. 


"Tanguy e Laverdure" com desenho de Jijë
"Jerry Spring" no n.º 212 da revista "Cavaleiro Andante"
"Baden Powell" no "Cavaleiro Andante" n.º 280
Série "Vallardi", no "Cavaleiro Andante" n.º 516
Prancha de "La Fille du Canyon"
"Charles de Foucauld" por Jijë

ENTREVISTAS (13) - LEO

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LEO
Formou o seu nome artístico, Leo, com as iniciais do seu nome real: Luís Eduardo Oliveira. Nasceu no Rio de Janeiro a 13 de Dezembro de 1944. Residindo em Paris desde 1981 e casado com uma portuguesa (Isabel) da ilha da Madeira, aqui passa largo tempo do ano, sobretudo para se escapar às agruras do Inverno da continental Europa. Hoje muito conceituado no panorama bedéfilo, sobretudo entre os francófonos, dedica-se muito (quase  que exclusivamente) ao tema da ficção-científica. E tanto funciona só enquanto desenhista, como, outras vezes, como argumentista e, outras ainda, como autor total.
Foi homenageado ao vivo no Salão Internacional "Sobreda-BD / 2000", tendo então recebido o Troféu Sobredão.
Porém, se hoje está tranquilo a narrar aventuras através da 9.ª Arte, foi antes uma aventura de si próprio que viveu e sofreu. Sempre inclinado para o desenho, após terminar o seu curso de engenheiro mecânico enveredou um tanto pela militância política. Em 1971, para escapar à ditadura militar brasileira, fugiu para o Chile. Daqui torna a fugir, desta vez para a Argentina, quando o general Pinochet tomou o poder. Em 1974, regressa clandestinamente ao seu Brasil, onde se dedica ao desenho publicitário em S.Paulo.
"Gandhi", o primeiro álbum de Leo
Em 1981, abalou-se à aventura para a Europa, estabelecendo-se em Paris, sonhando com a carreira pela Banda Desenhada. Foi uma época de angústias pois a 9.ª Arte franco-belga atravessava então uma das suas piores crises.
Mesmo assim, publica alguma coisa nas revistas "L'Echo des Savanes" (1982) e "Pilote" (1985). Com o apoio de Jean-Claude Forest, em 1986 publica algumas histórias realistas na "Okapi" e, em 1989, é editado o seu primeiro álbum, "Gandhi, le Pélerin de la Paix", com argumento de Benoît Marchon. No entanto, algum tempo depois enceta uma parceria com o argumentista Rodolphe, com as séries "Trent" (um western em oito tomos), "Kenya" (em cinco tomos) e "Namibia" (a decorrer), mas agora como co-argumentista, sendo o grafismo de Marchal.
"Trent" e "Kenya", com argumento de Rodolphe e traço de Leo

Para além de ter participado em álbuns colectivos, Leo foi argumentista das séries "Dexter London" (grafismo de Sergio Garcia), "Terres Lointaines "(grafismo de Icar) e "Mermaid Project" (grafismo de Fred Simon).
"Dexter London" e "Mermaid Project" - duas séries com argumento de Leo

Todavia, pelo seu encantador talento, o que podemos considerar como a sua notável criação (até agora) é a série "Les Mondes de Aldébaran", repartida em quatro "ciclos": "Aldébaran", "Betelgeuse", "Antares" e "Survivants", estando estes dois últimos ainda em curso.
"Betelgeuse" e "Antares", criações completas de Leo

Pois aí vai a entrevista com Leo:
BDBD - Foi dura a tua caminhada pela Banda Desenhada, sobretudo na América do Sul, mas hoje tens um justo estatuto de autor-BD confirmado. Porquê a França como tua opção?
LEO - No Brasil eu fiz umas tentativas de trabalhar em BD, mas não deu certo. Não há mercado para BD's adultas. Foi o que me levou a vir para a França. No Chile e na Argentina, eu não trabalhei com a BD e, na época, eu não pensava nisso. Eu era um refugiado político, fugindo à ditadura brasileira, e me dedicava à acção política.
BDBD - E voltares a viver no teu Brasil, está fora de questão?
LEO - Sim, foi tão difícil conseguir estabelecer-me em França, onde passei vários anos como imigrante clandestino, que não tenho nenhuma vontade de sair daqui. Ainda mais porque profissionalmente é aqui que eu construí toda a minha carreira na BD.
BDBD - Curiosamente, tens ligações a um outro país do nosso idioma, precisamente Portugal. Para além de teres sido homenageado no salão "Sobreda-BD /2000", és casado com uma portuguesa (da Madeira)... Portugal será um dia o território para residires em definitivo?
LEO - Não creio, pelos mesmos motivos que exponho acima. Mas pretendo passar longos períodos na Madeira, principalmente no Inverno. Acho a Madeira um lugar fantástico!
BDBD - Estranhamente, da tua vasta obra nada está editado em Portugal!... É um facto pouco simpático e desatento em relação à tua obra, não achas?
LEO - Alguns dos meus álbuns foram editados em Portugal alguns anos atrás, mas, infelizmente, a eterna questão do mercado pequeno para a BD adulta não permitiu que a coisa se renovasse. A mesma coisa aconteceu no Brasil, onde o facto de eu ser brasileiro não ajudou em nada as vendas. É uma pena!...
BDBD - Para além de desenhares, também tens sido, às vezes, argumentista. O que preferes: desenhar ou escrever argumentos?
LEO - Não dá para escolher uma ou outra, pois são coisas bem diferentes e ficaria muito  frustrado se tivesse que abandonar uma dessas actividades. É claro que, quando eu desenho - e actualmente eu só o faço quando eu mesmo escrevi o guião e, com isso, o resultado é bem pessoal - é mais forte. Como guionista, escrevendo sozinho ou em parceria com outros, eu posso expressar a minha imaginação de outra maneira e é uma actividade fascinante.
BDBD -"Gandhi, o Peregrino da Paz" foi um interessante trabalho teu enveredado pela biografia. O que sentes por Gandhi para teres pegado neste projecto? Pensas repetir a experiência versando biografias?
LEO - Devo confessar que esse trabalho foi feito numa época em que eu aceitava qualquer coisa que surgisse para que a minha conta bancária saísse do negativo! Felizmente, o Gandhi foi um personagem interessante mas fazer BD's históricas não é o meu terreno, pois sempre preferi a ficção-científica.
"Kenya", com traço de Leo
e argumento de Rodolphe
BDBD - Ora aqui está!... Excluindo a bela série "Trent", o teu tema favorito é a ficção científica, cheia de hipóteses no futuro e de maravilhosos aspectos insólitos. É mesmo o tema que mais te entusiasma?
LEO -É o meu universo preferido. Desde sempre. Ele permite toda a liberdade criativa, onde tudo se pode inventar. Todos os guiões que escrevi até hoje são de ficção-científica, o que é bem sintomático...
BDBD - Acreditas nos distantes aspectos futuristas que propões nas tuas séries?
LEO - Infelizmente, não. É o meu lado engenheiro bem racional...
BDBD - O Salão da Sobreda, onde foste homenageado em 2000, parece que se finou de vez. Mas, em Portugal, existem dois anuais (Amadora e Beja) e mais dois bienais (Moura e Viseu). Estarias disposto em participar em algum deles?
LEO - Nos últimos tempos tenho trabalhado tanto que evito os festivais. Especialmente quando incluem viagens. Mas eu gosto muito de Portugal, então, quem sabe?...
BDBD - A terminar, deixa aqui uma breve mensagem aos bedéfilos portugueses, em especial aos que te admiram... Desde já, muito obrigado, Leo.
LEO - Evidentemente eu fico muito orgulhoso e contente de saber que portugueses conhecem as  minhas histórias, apesar delas não serem actualmente traduzidas na minha língua materna. Portugal possui uma cultura de BD's adultas que, infelizmente, meu país ignora. E, meu caro Luiz Beira, sou eu que agradeço!

Nota: já após as resposta de Leo, ficámos a saber que terá havido apenas um álbum, da série "Aldebaran", editado entre nós pela Booktree...


Capa e prancha de "Le Group" (Aldebaran / 4)
Prancha de "La Vallee de la Peur" (Trent / 4)

Prancha de "La Planete" (Betelgeuse / 1)
Capa de "Survivants"
Prancha de "Rencontres" (Kenya / 2)

NOVIDADES EDITORIAIS (47)

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LE SILENCE DE LOUNÈS - Edição Casterman. Argumento de Baru (aliás, Hervé Barulea) e arte gráfica de Pierre Place.
Trata-se  de uma bela e dramática narrativa que nos transporta para a Guerra da Argélia, durante e depois. Sobetudo ao conflito de certezas e de hesitações entre os próprios argelinos. E também dos silêncios que calaram muitas atitudes e angústias.

 
LES PORTES DE L'ARCTIQUE - Edição Glénat. Argumento de Christophe Bec e grafismo de Jeran-Jacques Dzialowski.
É o primeiro tomo da série "Lancaster". Acção, aventura e mistério, encontram-se bem nesta série. O herói, Jim Lancaster, um destemido nobre inglês que se destacara na Segunda Grande Guerra, é enviado à base polar de Hiperbórea, onde um notável cientista terá descoberto vestígios de uma antiga e desaparecida civilização... Porém, a situação complica-se, pois "outras gentes" estão também muito interessadas nestas descobertas...


 
REVISTA ROMENA - Divulgando novos valores da BD Romena, apareceu recentemente a revista "Terapíe de Basm", cujo exemplar n.º 1 publica os primeiros episódios de "Dacâ n-ar Fí", com argumento de Andrei Cherâscu, traço de Andrei Puicâ e cores de Evelyne Krall. E contém ainda, uma brevíssima reportagem com fotos e desenhos, sobre Andrei Puicâ no seu trabalho.
O romeno, idioma substancialmente latino, não é difícil de se entender (e um bom dicionário pode também ajudar...).
Os interessados poderão consultar: www.terapiedebasm.ro

 
SUGAR, MA VIE DE CHAT - Edição Dargaud. Autor: Serge Baeken.
O gato é um personagem de infindáveis intervenções na Banda Desenhada, desde os que são figuras centrais até aos que, como apagados figurantes, aparecem numa simples vinheta.
"Sugar, ma Vie de Chat"é uma criação do flamengo Serge Baeken, onde ele regista com todo o realismo num belo grafismo a preto e branco, a biografia do seu (e de sua família) gato "Sugar", que o acompanhou durante dezoito anos. É uma obra muito emotiva, com alguns momentos divertidos.
Todos os que gostam de gatos ficarão certamente encantados ao lerem este álbum.

 
LAST MAN / 3 - Edição Casterman. 
Elaboração colectiva de Balak, Sanlaville e Vivès.
O jovem Adrian e sua mãe Marianne, na busca e perseguição do misterioso campeão Richard Aldana, entram num outro mundo, bem mais real e caótico.
Com momentos rocambolescos, a narrativa encanta e entusiasma quanto baste.

A BD A PRETO E BRANCO (6) - As escolhas de Luiz Beira (6)

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ISABEL LOBINHO (1947). 
Nascida no Ribatejo, reside há muitos anos no seu monte, no Distrito de Beja. Foi homenageada em Moura e na Sobreda. Por razões de saúde, abandonou a BD e a Pintura. Na sua 9.ª Arte, marcam-se bem as vertentes pelo erotismo ou temas de terror. Embora com vasta obra espalhada por diversas publicações, tem apenas um álbum, "Mário e Isabel" (Ed. Forja), com texto de Mário-Henrique Leiria, mais tarde reeditado num dos "Cadernos Moura BD".
Prancha 1 de "Casamento" (do álbum "Mário e Isabel")
Prancha 4 de "Teobaldo, o meu amigo" (do álbum "Mário e Isabel")



JACQUES TARDI (1946). 
De nacionalidade francesa, tem obra enorme, com algumas a cores, donde salientamos "Ici Même", as séries "Adèle Blanc-Sec" e "Nestor Burma", "Le Tueur de Cafards", etc. Algumas obras suas foram já adaptadas ao Cinema e à Televisão. É um respeitável talento da BD francófona.
Prancha de "Brouillard au Pont de Tolbiac"
Prancha de Adèle Blanc-Sec - "Le Démon de la Tour Eiffel"


JEAN-CLAUDE FOREST (1930-1998).
Francês de fino e arrojado traço, é mais conhecido pela sua célebre série "Barbarella". No entanto, tem mais obra de muita força gráfica como por exemplo o álbum "La Jonque Fantôme Vue de l'Orchestre", do qual aqui se mostra um breve exemplo.
Prancha de "La Jonque Fantôme Vue de L'Orchestre"
Prancha de "Barbarella"
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